Filipe Leonardo, de 44 anos e a mulher Ana Abreu Teixeira, de 41, decidiram iniciar uma revolta — pacífica, está claro — no mundo dos vinhos e dar “um grito pelo reconhecimento” dos pequenos produtores. Como? Abrindo uma garrafeira onde só cabem referências de produções pequenas em tamanho, mas grandes em ambição. O espaço Winenonymous, no bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, abriu a 21 de junho e reúne cerca de 130 vinhos “para todas as carteiras”.
A família de Ana é produtora de vinhos, que faz com as uvas da Quinta do Todão, no Douro. Quando se conheceram, Filipe Leonardo, licenciado em relações internacionais, começou a interessar-se pela área e juntou-se à equipa para ajudar na produção, comunicação e marketing da marca de vinhos. Atualmente, todas as segundas-feiras, viaja para a aldeia de Gouvinhas, em Sabrosa, para orientar os trabalhos e ao final do dia regressa a Lisboa.
Ao fim de vários anos a estudarem o mercado, perceberam que precisavam de uma plataforma para apresentar tantos os vinhos da quinta do Todão, como os de outros colegas produtores. “Procuramos produzir vinhos com o perfil típico do Douro, mas com recurso a uma abordagem ambientalmente sustentável. Temos quatro referências, mas muitas vezes passam despercebidas. Aliás, há distribuidores que têm os nossos vinhos no catálogo e nem se apercebem”, conta.
A ideia de abrir uma loja não é nova. Fecharam o nome durante, mas faltava o espaço. “No início da pandemia, naquelas longas conversas com amigos ao final do dia, queixava-me da dificuldade que as pequenas marcas têm em sair cá para fora. O mercado português é muito grande e as marcas pequenas parece que ficam esquecidas, anónimas, mas não significa que não tenham qualidade, pelo contrário. O nome surgiu aí”, refere o proprietário da Winenonymous.
Como se tratava de um negócio de nicho, Filipe e Ana sabiam que precisavam de estudar muito bem os detalhes do projeto — sobretudo a localização do espaço. “Não queríamos estar numa zona super turística, mas também precisávamos de movimento, ou seja, queríamos estar num bairro onde as pessoas fazem a vida a pé.”
É numa pequena loja com 39 metros quadrados em Campo de Ourique que agora se encontram “algumas das pérolas escondidas” que Portugal guarda — e com um intervalo de preços acessível. Na Winenonymous reúnem 130 referências, escolhidas por Filipe com a ajuda de colegas produtores. “Nestes últimos meses percebi a força do rosé, tem sido um dos vinhos mais comprados aqui na loja, por portugueses e turistas. Não estava à espera”, revela.
A par das referências de rosé, encontram-se vinhos que vão dos 6,5€ aos 495€, neste caso a referência mais cara, o tinto TNX DOC Douro, uma garrafa magnum de 1,5 litros de uma edição limitada da Quinta da Côrte. “Só fizeram 658 garrafas desta colheita especial de 2021 e eu tive direito a uma, por isso está aqui para venda.”
A Winenonymous funciona também como wine bar, o que significa que os clientes podem passar por lá durante a tarde para provar um copo de vinho e depois, se quiserem, levar a garrafa para casa. O vinho da quinta da família é, naturalmente, servido a copo, com valores que começam nos 4,5€. Mas toda a garrafeira está à escolha dos clientes, com o acréscimo da taxa de rolha, equivalente a 20 por cento do valor da garrafa.
Quem preferir ginja o copo é vendido a 2€, o moscatel a 3,50€ e o vinho do Porto a 6,50€. Mas nem só de vinho vive a casa. Também está disponível a Búzia, cerveja de Évora feita com leveduras de vinho — a garrafa é vendida a 4,80€ se for consumida na loja ou a 4€ para levar.
Como não pode ser tudo sobre a bebida, estão disponíveis tábuas de queijos e enchidos (17,50€) com pão, azeite caseiro e frutos secos. “Temos uma operação simples, porque o objetivo é criar uma experiência enriquecedora para quem quer aprender mais sobre os vinhos que prova ou compra para levar para casa”, explica.
A garrafeira organiza provas de vinhos uma vez por mês e permite a realização de eventos privados para entusiastas.