Gourmet e Vinhos
A mãe de Salvador Sobral faz almoços e jantares no Cais do Sodré (que incluem concertos)
O atelier Mesaluisa abriu no início de maio e Caetano Veloso já foi lá experimentar os pratos de Luísa Villar.

Luísa Villar, no seu atelier.
Quando Caetano Veloso chegou a Lisboa em maio, para ensaiar com Salvador Sobral — com quem iria interpretar “Amar pelos Dois” na final da Eurovisão — foi levado até a um atelier na Avenida 24 de Julho, ao lado do Mercado da Ribeira.
Aquele espaço é de Luísa Villar, a mãe de Salvador e Luísa Sobral: foi durante algum tempo o seu escritório enquanto consultora de marketing, área em que trabalhou vários anos. Depois, transformou-se num atelier de costura quando começou a ter aulas — até se tornar também o Mesaluisa, um espaço de refeições de comida típica portuguesa, aberto a todos desde o início de maio. Foi lá que foi filmado o vídeo do ensaio entre o vencedor português da Eurovisão e o seu ídolo brasileiro.
“A costura era ótima para a cabeça, mas não dava dinheiro”, explica à NiT — depois de atender o telefone, cuja música de espera é precisamente “Amar pelos Dois” — Luísa Villar, com 57 anos. “Sempre cozinhei muito em casa e agora tive esta vontade de parar com a vida do marketing.”
Neste atelier, que não é um restaurante, são servidos almoços todos os dias. As pessoas inscrevem-se através do site do projeto e encontram-se com Luísa Villar às 10h30 à porta do Mercado da Ribeira.
“Damos uma volta pelas bancas, eu explico algumas coisas do mercado e da comida portuguesa, escolhemos e compramos os ingredientes.” Depois, dirigem-se ao atelier, que fica no Pátio da Ribeira, e que tem várias mezzanines, onde Luísa Villar cozinha para os clientes. Há uma lotação máxima de dez pessoas.
“A ideia era terminar pelas 14h30, 15h… mas as pessoas gostam, vão ficando, contentíssimos, e de repente são 16h ou 16h30. Uns ficaram até às 17h.” Durante as primeiras semanas, os clientes têm sido sobretudo turistas. São de diferentes países, mas acabam por se conhecer e conversar. “Alguns ajudam na cozinha, outros preferem ficar a falar e a apanhar Sol, e as pessoas conhecem-se e trocam contactos, é giro. Parece que estão em casa de uma amiga.” O preço por pessoa é de 80€, com tudo incluído.
Luísa Villar não se considera “de todo” uma chef, é antes alguém que “adora cozinhar” e que é de uma família numerosa, com vários irmãos, onde aprendeu desde cedo a fazer almoços e jantares. “Vivi na Bélgica, onde aprendi muito sobre a cozinha belga.” E chegou a ter um restaurante na Lapa, que fechou em 1993: o Garfo Voador.
“Tive o primeiro restaurante de entrega de comida do País, com motas. Era uma coisa tão nova que fomos capa da ‘Exame’ na altura. Não havia telemóveis, era difícil encontrar as pessoas e gastávamos imenso dinheiro a arranjar motas. Mas tínhamos clientes ótimos.”
O que vai começar em breve são os jantares semanais, a partir de 14 de junho, e que incluem concertos — o limite irá aumentar para 20 pessoas neste projeto chamado Música à Mesa. Não incluem, claro, a visita inicial ao mercado — e a ideia é atrair mais clientes portugueses. Luísa Villar prepara o jantar com os ingredientes que tiver naquele dia. As pessoas chegam às 21 horas, provam uns petiscos, o jantar é servido pelas 21h30 e uma hora depois começa o concerto da noite, com uma programação pensada por Salvador Sobral.
“Respeitamos completamente a comida e respeitamos completamente a música, não há misturas, o meu filho matava-me [risos]. Esta ideia também veio desse jantar com o Caetano Veloso, e o meu filho estava sempre a dizer que os músicos estavam a precisar de um sítio para tocar e conviver.”
A ideia é ter sempre músicos e bandas emergentes, que não têm muitas oportunidades para tocar noutros espaços. O programa arranca no dia 14 com a fadista Diana Vilarinho, continua com jazz no dia 21 e depois há flamenco de um músico espanhol a 28 de junho. Os jantares são mais caros: ficam por 120€, porque incluem o pagamento para os músicos. “O meu filho matava-me se não houvesse, nem sequer há descontos, eu pensei nisso.”
Caetano Veloso voltou ao Mesaluisa para um serão a seguir à final da Eurovisão e levou com ele Carminho e Capicua, além de Salvador. “Gostou tanto que perguntou se podia vir outra vez depois do festival.” Depois de ter provado vários pratos — na primeira ocasião — como pargo assado, lombinhos de porco no forno com migas de tomate e amêijoas à Bulhão Pato; na segunda vez preferiu petiscos mais leves, como uma sopa quente e um pão com chouriço. “Ele vai atuar agora com os filhos em Lisboa e já prometeu que vem cá jantar mais um dia [risos]. É um amor, é muito acessível.”
O prato favorito de Salvador Sobral, que Luísa costuma fazer, são filetes de peixe. Já a irmã Luísa é vegetariana, e por isso a mãe costuma cozinhar risottos. “É mais complicado porque é preciso arranjar os ingredientes vegetarianos [risos].” A ideia de Luísa Villar é começar a fazer workshops de comida saudável no seu atelier — enquanto vai costurando umas coisas pelo meio.