Restaurantes

Os caracóis do Apolo 78 são os melhores da Grande Lisboa. “A receita não vai mudar”

São os favoritos dos leitores da NiT. E é escusado sugerir alterações à fórmula criada por Vítor porque "é imaculada".

O cronómetro parou, os palitos já estão dentro dos pratos, os dedos limpos e os pratos levantados. Os leitores NiT tiveram uma semana para eleger o melhor sítio para se comer caracóis na Grande Lisboa e a decisão está tomada. A casa eleita é uma das mais antigas da região. O nome dá uma pista relativamente ao ano de abertura: o Apolo 78 abriu portas a 13 de setembro.

“Sai mais um pires de caracóis para a mesa do canto.” No número 3 da rua Dili, em Loures, os caracóis são preparados à moda Saloia (7€) ou à Bulhão Pato (9€). Depois, há a caracoleta frita (€9). “Saem a trote. É o dia todo com pedidos: ‘mais um bocadinho'”, conta Vítor Apolo à NiT, depois de um dia atarefado.

São 21 horas e o trabalho ainda não terminou. No restaurante, que todos conhecem em Loures, o proprietário confessa estar “todo amarrotado”. “Os caracóis dão cabo de mim. Esta época é difícil, mas como costumo dizer, a minha vida é prostituição. É a hotelaria, temos de levar isto com sentido de humor.”

O dia do empreendedor de 63 anos já começou há muitas horas — por volta das 8 da manhã, para sermos mais específicos. E só terminará lá para a uma da manhã. “Há várias coisas para preparar. Os caracóis que vão ser consumidos depois de amanhã, já foram pré-lavados hoje. Amanhã voltam a ser lavados e só depois serão cozinhados. Quando estiverem quase cozidos, a única coisa que tenho de fazer é colocar o tempero”, explica.

O petisco não é a única proposta da casa, e antes disso são preparados os três ou quatro pratos do dia. Só depois das 14 horas é que a equipa começa a pensar realmente nos bichos que começam a ser servidos às 16 horas.

A receita dos caracóis do Apolo 78, não tem nada que saber. “Ao fim destes anos e toneladas todas, é copy paste. Que eu saiba, é a receita mais simples de todas.” Esqueça o chouriço, o bacon e “essas coisas todas”. Até porque foi com esta combinação de orégãos, alho, caldo de carne e sal que o espaço ganhou o primeiro prémio no Festival do Caracol Saloio.

“Uma vez por mês, lá aparece alguém a fazer sugestões. ‘Porque é que não acrescenta isto ou aquilo?’. Acabo logo ali com as expetativas e digo que não. Esta receita é imaculada (7€). Quando os clientes querem variar, temos a versão à Bulhão Pato (9€), ou a caracoleta frita kakomoeusey (9€). Até porque tenho a máxima de que o caracol é como o bacalhau: aguenta quase tudo”, frisa Vítor Apolo, sem meias-palavras.

Precisamente com esta ideia em mente, lembrou-se de criar o natapolo — uma espécie de pastel de nata preparado por um amigo pasteleiro com creme de caracol e orégãos. O bombom de caracol, com chocolate negro e ginja, é outra das propostas inusitadas. “O céu é o limite, mas a receita dos caracóis cozidos é esta e não vou mudá-la”, retoma.

Basta trocar duas palavras com Vítor para perceber que o sentido de humor está sempre presente. “E quanto mais stressado estou, mais engraçadinho fico. O certinho não é comigo”, deixa escapar.

Já integrou a corporação dos Bombeiros Voluntários de Loures, gosta de se distrair com trabalhos manuais, é apaixonado por discos de vinil (deve ter uns quatro ou cinco mil) e é um criador nato. Vítor Apolo é um homem de sete ofícios, mas foi no restaurante que passou grande parte da vida.

Vítor chegou ao Apolo em dezembro de 1979 como um simples funcionário. Em março de 80, com apenas 19 anos, foi convidado para fazer parte da sociedade. “Tinha casado há 11 meses, mas não deixava de ser um puto”, nota. O trespasse custou 12.500 contos aos três sócios. “E qualquer um dos outros dois com idade para ser meu pai”, acrescenta.

Os anos foram passando, os companheiros de aventura foram saindo, e ficou apenas Vítor. “Somos uma equipa pequena, mas só em número. É um projeto familiar”, explica. Uma cozinheira, uma ajudante, três universitários em part-time e a esposa que ali chega depois das 17 horas “para dar uma mãozinha”. É esta “equipa de sonho” que se junta ao chef da casa para venderem centenas de tachos de caracóis.

“São tantos quilos, que até perdemos a conta. Calculamos por tacho.” E se, no restaurante já chegaram aos dez tachos por dia, no festival já venderam aos 21. O Apolo 78 participou pela primeira no Festival do Caracol Saloio, em Loures, em 2000. Logo nesse ano, ganharam o título. Na edição seguinte, juntaram-se duas menções honrosas. E as distinções não se ficaram por aí.

“Os títulos valem o que valem. Isso, para mim, só me traz responsabilidade. Em última instância, o cliente é o jurado final”, considera. De Loures, passaram para os festivais de Castro Marim, no Algarve, e daí para Cuba, no Alentejo. Agora o desafio é outro — e mais arrojado. “Queremos ir a Macau. Um senhor, proprietário de restaurantes lá, fez um menu de Santos Populares e correu muito bem. Entretanto, convidou-me para participar. Não sei é se vou já este ano.”

A dúvida de Vítor contrasta com a certeza dos leitores da NiT: 27,1 por cento elegeram os caracóis do Apolo 78 como os melhores da Grande Lisboa.

O segundo lugar, com uma diferença considerável — de cerca de 12 por cento dos votos — foi entregue ao Topo do Caracol. Seguiram-se o Caracol do Bairro (10.9) e o Pomar de Alvalade (9,6). A Cervejaria Ludecénio ocupou a quinta posição com 9,1 por cento dos votos. A Cervejaria Germano, o Tempero no Ponto e o Júlio dos Caracóis foram os menos votados da lista.

A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor o restaurante Apolo 78, em Loures.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Dili 3
    2670-414 Loures
  • HORÁRIO
  • Segunda a sábado das 10h às 23h
PREÇO MÉDIO
Menos de 10€
TIPO DE COMIDA
Petiscos

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