Restaurantes

A nau quinhentista na Alemanha onde se come “frango assado à portuguesa”

Carlos Couto levou o prato para Dortmund e foi um sucesso. Atualmente tem um império e é conhecido como rei dos grelhados.
Há detalhes portugueses por todo o lado.

O “frango assado do Carlos” é conhecido um pouco por toda a Alemanha — e agora até no resto da Europa. O nome bem português ainda deixa alguns clientes intrigados, mas apenas até provarem a especialidade da casa. “Todos me dizem que aqui não há igual e os portugueses que cá vêm, atestam que tem o sabor do nosso País”, conta o proprietário de 51 anos à NiT.

Filho de emigrantes, naturais de Priscos, em Braga, Carlos nasceu em Dortmund, mas sempre manteve uma forte ligação ao nosso País. “Estudei em escolas portuguesas e todos os verões eram passados em Portugal. Aliás, assim que puder é para cá que volto de vez”, assume o cozinheiro e empresário, enquanto admite que as próximas semanas já serão passadas pelo norte do País.

Carlos Couto nunca imaginou que o seu destino estaria ligado à restauração. Em miúdo sonhava seguir os passos do pai, o seu grande herói e inspiração. “Quando comecei a trabalhar foi com ele, na construção civil.” Porém, durante umas férias em Lisboa, cidade natal da mulher, Carminha Couto, o sogro confessou-lhe que sentia falta do frango que costumava comer num restaurante na Baixa. “Era incomparável” e impossível de encontrar no país onde vivia.

O luso-germânico ficou a pensar naquelas palavras durante o resto das férias. Quando regressou à Alemanha decidiu lançar o desafio à mulher e ao resto da família. “Todos tinham uma mão incrível para a cozinha, e eu tinha muita vontade, por isso, o negócio só podia correr bem”, recorda.

A febre do frango

Abriu o primeiro restaurante de frango assado em 1995, em Lünen (Dortmund) e provou que a previsão de Carlos estava certa. Em pouco tempo o espaço tornou-se num dos favoritos da cidade. Jogadores de futebol, como Lewandowski, Götze e Kehl, assim como treinadores e outros tantos alemães, juntavam-se ali para saborear “o pitéu sem igual”, como o descreve.

O frango, assado pelo próprio Carlos Couto, é a grande estrela da casa e custa 16€. Segundo o proprietário não tem muito que saber: “É temperado com uma mistura de sal e especiarias e leva piri-piri”. Mas este não é o único prato português do menu.

“Temos bolinhos de bacalhau (4,20€), rissóis (4,20€), gambas ao alho (7,90€) e bacalhau assado (18,50€). As espetadas de 40 centímetros com borrego (21,90€), salmão (17,90€) ou legumes (8,50€) são sempre um sucesso. Quando os clientes as vêm na mesa ao lado, ficam curiosos e acabam por pedir para provar. É o chamado comer com os olhos”, admite.

O frango pronto para ir para a mesa.

A maioria dos pratos sai da grelha, mas os restantes acompanhamentos, ou “pratos de tacho” são da autoria de Carminha. “Ela é que sabe as receitas, não as diz a ninguém, mas ensina a fazer. Esse é um dos grandes segredos dos nossos restaurantes. Isso e o facto de ela ter mão firme para o negócio”, revela, divertido.

Seja da brasa ou do forno, tudo o que vai para a mesa é servido em pratos de barro, que Carlos compra numa fábrica em Barcelos. “Portugal é pequenino, mas tem tudo o que precisámos e com uma qualidade que não se encontra em mais lado nenhum. Por isso, tudo o que usámos na cozinha também vem do nosso País, desde o piri-piri, ao azeite e outros temperos”, justifica Carlos Couto.

As sobremesas, que adoçam qualquer dissabor que os clientes possam sentir com os jogos de futebol, também saem das mãos da lisboeta de 52 anos. “Temos tiramisú de morangos (5,90€) com bolacha Maria, o grande favorito. Também pedem muito o leite-creme queimado (4,90€), baba de camelo (4,90€) e pastéis de nata (4,80€). Adoram”, conclui.

A acompanhar não podem faltar os refrigerantes Sumol de laranja e ananás, as cervejas Super Bock e de Sagres — e vinhos verdes. Mas também há referências internacionais, até porque “a Alemanha é um país multicultural” e precisam ter propostas para todos os gostos, salienta Carlos.

Atualmente têm cinco restaurantes, O Carlos, três em Dortmund, um Bielefeld e outro em Münster, no norte do País e conta com a ajuda das filhas Chiara e Vivien para ajudarem, em conjunto com os genros, a gerirem todos os espaços.

Carlos com a família.

Jantar numa nau quinhentista

Como se os pratos típicos não chegassem para se perceber que estava “efetivamente numa casa portuguesa”, o proprietário decidiu homenagear o País com uma réplica megalómana de uma nau quinhentista.

“Tínhamos uma tasca com 80 lugares e depois tínhamos um estabelecimento demasiado grande ao lado. Falei com um arquiteto amigo para vermos o que podíamos fazer. E foi ele que se lembrou da nossa história e sugeriu que construíssemos barcos. Falámos com um carpinteiro especialista em arte antiga e depois foi só começar a comprar as madeiras. Em 2013 avançámos”, recorda.

A estrutura, instalada num dos cinco restaurantes da família, tem sido notícia um pouco por todo o lado. A nau feita com madeiras que Carlos encontrou em diferentes zonas da Alemanha serviram para construir um navio gigante que representa a história dos Descobrimentos. Dentro colocaram mesas e cadeiras, também com estilo antiquado, onde a maioria dos clientes adora jantar.

O navio existe apenas no espaço de Lünen, o primeiro restaurante da família e onde se pode encontrar Carlos na grelha e Carminha na cozinha. Por cá, também pode provar o famoso frango assado. O casal tem uma foodtruck, que costumam estacionar em diferentes vilas minhotas durante o verão — para servir a especialidade da casa, claro.

Carregue na galeria para ver mais imagens da nau que foi instalada n’O Carlos, em Dortmund.

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