Carnes acabadas de grelhar que se desprendem facilmente dos ossos. Este fenómeno, que alguns já compararam a um espetáculo de ilusionismo, tem gerado muitos comentários nas redes sociais e atraído visitantes a um pequeno restaurante localizado em Vila Nova de Cerveira, no distrito de Viana do Castelo. A especialidade da casa é o churrasco gaúcho, defumado num grelhador artesanal criado por Diego Grunewald, o fundador da Costelaria Don Gaúcho.
O brasileiro com 38 anos mudou-se para Portugal há sete, após a morte da mãe. Veio em busca da qualidade de vida que a sua família sempre procurou (com pouco sucesso) no Brasil. Nascido no Rio Grande do Sul, uma região que faz fronteira com o Uruguai e a Argentina, sempre teve uma ligação forte com o mundo rural, com a agricultura e com a produção de carne.
Grunewald tinha decidido estudar Direito, mas a morte prematura do pai, quando ele tinha apenas 16 anos, levou-o a assumir as responsabilidades da família. Abandonou os estudos e começou a trabalhar “em tudo o que aparecia”.
Ao chegar a Portugal, pela sua proximidade com a cultura gaúcha, começou a trabalhar num talho. “A empresa deu-me a oportunidade de conhecer diferentes brasseries e espaços na Europa, onde percebi que havia espaço para introduzir um conceito muito brasileiro, dedicado ao churrasco gaúcho”, explica o proprietário à NiT.

Com a ajuda do sogro, construiu um grelhador artesanal, conhecido como pit, para defumar as carnes. Assim que o equipamento ficou pronto, começou a experimentar a grelhar alguns cortes na garagem de casa. “A minha mulher e o resto da família incentivaram-me a começar um negócio. Por isso, começámos a vender costelas assadas para levar”, refere.
Sem intenção de investir em publicidade, Grunewald deixou que o boca a boca fizesse o trabalho por ele. E assim aconteceu. Em agosto de 2023, viu-se obrigado a encontrar um espaço maior, para acolher os clientes fiéis que faziam verdadeiras romarias à pequena garagem.
“Todos os dias chegavam peregrinos, turistas e muitos locais à procura das nossas costelas assadas”, recorda. Decorridos seis meses, teve de procurar uma nova alternativa para apresentar “o espetáculo de retirar os ossos sem esforço e servir as peças à mesa”. “Além disso, tive de importar um novo assador para defumar as carnes e escolhi um dos maiores que existe atualmente na Europa para dar conta de todo o trabalho que temos”, acrescenta.
A herança italiana
Em maio de 2024, a Costelaria Don Gaúcho mudou-se para um local mais amplo, com capacidade para 90 pessoas. Agora, recebe cada vez mais clientes de localidades vizinhas, mas também da Corunha, Compostela e até de Lisboa. “Ainda hoje fico surpreendido com o facto de algumas pessoas viajarem horas para provar as minhas famosas costelas de vaca (31,90€), que são cozinhadas durante 12 horas para ficarem suculentas”, revela.
Durante um ano, venderam apenas esse corte de carne, mas, a certa altura, os clientes mais frequentes começaram a pedir novidades e Diego viu-se obrigado a reinventar-se. Apostou num corte muito comum no Brasil, o cupim (29,90€), retirado da parte superior do cachaço e provém de uma raça que só existe no Brasil. Depois deste, surgiu aquele que se tornou a estrela da casa: o stinco (35€).
“O nome do corte significa ‘canela’ em italiano. A parte é retirada do boi e é defumada, inteira, entre 16 e 18 horas. No final, desmancha-se sozinha do osso”, explica. O prato foi inspirado numa polenta com stinco, preparada em molho de vinho, que os camponeses transalpinos faziam e que levaram com eles quando atravessaram o Atlântico. “O sul do Brasil tem uma forte presença de imigrantes italianos e alemães, e crescemos com pratos muito típicos dos seus países. Este é um deles.”
Ver esta publicação no Instagram
Para aqueles que têm dificuldade em escolher um corte de carne, a solução é simples: basta visitar o espaço às sextas-feiras e optar pelo rodízio. Por 14,90€, podem comer toda a carne assada que desejarem. A única condição que o proprietário estabelece é que não haja desperdício. Caso contrário, terão de pagar “a peça na íntegra”.
Na Costelaria Don Gaúcho, apenas entram carnes nacionais, provenientes do norte do País. E Diego não precisa de grandes explicações para a sua escolha: “Temos de aproveitar o que é bom cá. Os cortes são portugueses, assim como os vinhos, que são excecionais e harmonizam perfeitamente com as carnes”, refere o proprietário, que acrescenta que, durante o inverno, opta por vinhos maduros do Douro e Alentejo, e no verão pelo Alvarinho da região.
Após o “espetáculo de magia” como alguns clientes descrevem o momento em que a carne é servida e se desprende do osso, é preciso arranjar espaço para uma sobremesa. “Trouxemos doces tradicionais da nossa região no Brasil, como o sagu (4€), bolinhas de mandioca, cozidas com vinho, e o pudim caseiro da avó (3,50€)”.
Este “festival de comida gaúcha” pode ser apreciado num espaço com capacidade para uqase uma centena de clientes, contudo, o ideal é reservar. Aos fins de semana, as filas de aglomeram-se à porta durante horas. “Desde frango frito a torresmos, passando pela feijoada, tudo aqui é feito no fogo e adquire um sabor característico da lenha. É isso que torna este conceito tão distinto”, admite.
No próximo mês, o proprietário irá organizar jantares temáticos com harmonização vínica, ponde os clientes terão oportunidade de provar várias peças de churrasco enquanto aprendem mais sobre a cultura gaúcha. Em breve, tencionam lançaram o serviço para eventos privados.
