“Três brasileiros decidem abrir um restaurante de comida portuguesa.” O que podia muito bem ser o início de uma anedota foi, na verdade, o arranque bem verídico de um negócio. Neste caso, o Ameantologhy, o restaurante que abriu em julho em Lisboa e que se dedica, de forma algo improvável, a confecionar pratos típicos da cozinha nacional.
Isso não significa que não puxem das raízes para servir especialidades brasileiras, que têm lugar de destaque em eventos especiais. O próximo acontece a 7 de dezembro e será dedicado à feijoada, ou seja, pode contar com uma carta com feijoada à transmontana, à brasileira e até uma cachupa.
“Estamos à espera que seja tão bem recebido com o primeiro, que fizemos em novembro, dedicado ao bacalhau. Foi a loucura. Tínhamos nove pratos diferentes feitos com o peixe e tivemos um enchente de clientes que quiserem prová-los”, conta Vagner Silva à NiT.
Os eventos, que deverão passar agora a ser feitos mensalmente, foram um “sucesso inesperado”. E a escolha da feijoada para estrela do próximo menu temporário está também relacionada com a história do próprio chef do restaurante, Cícero Pereira. O brasileiro começou a cozinhar com 19 anos, na cantina de um hospital em São Paulo. Com 24 mudou-se para Lisboa, a convite de um antigo colega que tinha trabalhado no mesmo espaço e quando cá chegou encontrou emprego como ajudante de cozinha num restaurante onde apenas serviam “comida típica”.
“Quando lhe perguntaram se conhecia as receitas portugueses, ele disse que sim. Mas quando lhe pediram para replicar a feijoada à transmontana, entrou em pânico”, começa por explicar Vagner. “Não fazia ideia como se fazia. Perguntei ao chef e ele ficou escandalizado por não saber replicar. Disse-me quais eram os ingredientes e eu aventurei-me. Ficou tão bom que esgotamos os ingredientes e o patrão deixou-me ficar”, acrescenta Cícero, que desde aí nunca mais abandonou as receitas nacionais.
Vagner Silva e Volnei da Silva, amigos e sócios num alojamento local em Lisboa, queriam levar o negócio para outro patamar. “Sempre gostei de receber amigos em casa e de cozinhar e a ideia era criar uma extensão da minha própria casa. O Volnei apresentou-me ao Cícero e os três, em conjunto, delineamos um projeto para um restaurante de comida portuguesa, feita por brasileiros”, recorda.
Encontraram um restaurante que ia fechar no Areeiro e negociaram para ficar com o espaço com capacidade para 50 pessoas e uma sala privada. “Redecoramos com foco no vinho, porque os portugueses adoram acompanhar a refeição com um copo desta bebida e criamos uma carta com foco em rótulos de Lisboa e de Lisboa, mas com representação da região do Douro e do Minho”, diz sobre o restaurante que abriu em dezembro de 2023, mas que foi forçado a encerrar por causa da falta de pessoal. No verão, já com tudo no sítio, reabriram as portas.
O menu foi pensado por Cícero, que se apoiou no receituário tradicional e recuperou o Bacalhau à Minhota (16,90€), o bife da vazia à portuguesa (14,50€), a francesinha (12,50€) e a carne de porco à alentejana (14,90€). Na lista das sobremesas também só entram as mais conhecidas como o arroz-doce (2,50€), a serradura (2,50€), o leite-creme (2,50€) e a mousse de chocolate (2,50€).
Durante a semana há sempre um menu com prato do dia. O preço varia entre os 9,50€ e 11,50€ consoante a especialidade que o chef escolhe fazer — tanto pode ser bacalhau, como carne de porco à alentejana ou coxas de frango — e além do prato, inclui sopa, bebida e café.
O nome do espaço foi recuperado do anterior, como explica Vagner Silva: “Quando encontramos o restaurante, o local chamava-se Meathology. Decidimos apenas acrescentar a letra ‘a’ para que o início fique ‘ame’. Queremos que os clientes venham dispostos a amar o espaço, a comida e o conceito”, refere.
Carregue na galeria para descobrir alguns dos pratos que pode provar no espaço.
