O misticismo e o mundo dos negócios podem estar interligados, especialmente para aqueles que acreditam nessa ideia.“ ‘As de Bastos’ é, em espanhol, a tradução de ‘ás de paus’, carta do baralho habitualmente utilizado nos jogos tradicionais. Para os entusiastas da tarologia, esse símbolo representa novos começos.” Diego González abre logo o jogo sobre a inspiração do restaurante que abriu em Cascais, com a companheira, Pamela Mezo, em maio. O espaço, uma pequena taberna, oferece uma seleção de “petiscos mexicanos e espanhóis elaborados com ingredientes portugueses”.
O mundo da restauração não é novidade para o casal. No México, onde nasceram, já tinham testado vários conceitos, desde a cozinha japonesa a uma pizzaria árabe. No entanto, ao tentarem abrir mais um negócio no país natal, enfrentaram burocracias que dificultaram o processo. Esse desafio acabou por ser o impulso necessário para que decidissem concretizar um sonho que já acarinhavam: a mudança para Portugal.
Cascais sempre foi a localidade escolhida por Pamela e Diego. “Tínhamos um amigo a viver aqui que nos incentivava constantemente para virmos. Isso acabou por incutir em nós o desejo de emigrar e, em 2020, tomámos a decisão de nos instalarmos em Portugal”, recorda o chef de 38 anos.
Antes de lançarem o seu próprio negócio, o casal trabalhou em vários espaços, acumulando experiência e conhecimento. “Sabíamos que queríamos oferecer petiscos, inspirados na nossa culinária mexicana, mas com uma fusão da gastronomia espanhola e portuguesa, ao estilo de uma antiga taberna”, explica Diego.
Antes de chegarem ao conceito desejado, viajaram por Espanha e por diversas regiões de Portugal. No início do ano, após encontrarem um espaço disponível em Cascais, decidiram avançar com abertura do restaurante.
A carta do As de Bastos não tem entradas, petiscos ou pratos principais organizados de forma convencional; tudo é apresentado em porções servidas a olho. “Na nossa terra, existe muito esta filosofia de partilhar pratos. Há um mix com tudo e cada um escolhe o que quer”, afirmam.
Começaram com um menu reduzido, introduzindo gradualmente novas opções. Reconhecem que o seu processo será sempre dinâmico e evolutivo: “Precisamos de nos apoiar nos produtos locais e no feedback dos clientes”, explicam.
O primeiro mês e meio de funcionamento foi em modo soft opening, para limaram as arestas. “Continuamos a ser apenas os três no espaço, mas assim conseguimos perceber quais são os melhores horários de funcionamento e quais os pratos que eram bem acolhidos ou não.”
Na cozinha, Pamela e Diego preparam todos os petiscos servidos na taberna. Entre as propostas disponíveis, destacam-se a costelinha de porco (8€), ovos rotos (8€), papas bravas (5€), fabada asturiana (8€) e pan tumaca, cujas opções variam entre o tomate (5€) e presunto ou queijo (8€). Quem preferir, pode ainda solicitar pinchos de camarão (9,50€) ou arroz de marisco (20€). Um dos bestsellers é o croquete espanhol, criado por Pamela, que “é muito cremoso por dentro, leva ovo frito e presunto ibérico”. Segundo Diego, os clientes são inflexíveis relativamente a esta especialidade, tendo dificuldade em aceitar a sua remoção do menu.
Embora se inspirem em diversas culturas culinárias, os cozinheiros prezam pela originalidade. “Esforçamo-nos sempre por criar as nossas próprias versões, adicionando um toque das nossas raízes”, sublinha Diego.
Um dos segredos das receitas é o recurso a um ingrediente tipicamente português. No As de Bastos, utilizam exclusivamente azeite nacional, proveniente de oliveiras com mais de 100 anos, refletindo o compromisso do casal em trabalhar apenas com produtos locais e de qualidade. Esta abordagem é também visível nas sobremesas, como a tarte de queijo (6€), de estilo basco, feita com queijo da Serra da Estrela.
A carta de vinhos, elaborada pelo sommelier Alejandro Martínez, destaca referências portuguesas, mas inclui também opções internacionais e cocktails de autor. A taberna, que possui 30 lugares no interior e oito na esplanada, proporciona uma experiência nostálgica, com pratos pendurados nas paredes, uma antiga lareira em madeira e candeeiros que seguem a mesma estética.
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