Numa altura em que toda a gente anda à procura de uma boa esplanada para passar a tarde ou almoçar com vista para o mar ou para o rio, porque não optar por um sítio onde pode ter isso tudo e ainda os pratos de um chef premiado? Sim, esse tipo de oásis existe e chama-se Auge.
Este novo restaurante é provavelmente o mais alto da cidade do Porto, uma vez que fica precisamente no 19.º andar do Porto Palácio. Entre a esplanada e toda a sala envidraçada, é possível ter um ângulo de visão superior a 180º, o que combinado com a altura deixa ver não só o Rio Douro e o mar como parte de Vila Nova de Gaia, de Matosinhos e até da Maia. Isso, claro, vai acabar sempre por ter a sua influência também nos pratos que são servidos.
Se a paisagem fala por si, a elegância da decoração de toda a sala não fica atrás. O espaço foi remodelado de forma a ficar pronto no início do ano passado, embora só em junho de 2020 tenha começado lentamente a receber clientes. A decoração é elegante e luxuosa, com áreas específicas para as refeições, o bar, a garrafeira e a esplanada, que misturam variações de tons neutros com pontos mais quentes que dão cor em tonalidades alaranjadas.
A par de todo o aspeto visual, há outro muito importante: a comida, claro. No Auge, a parte gastronómica está a cargo do chef André Silva, que entre várias distinções conta com o “Chefe Cozinheiro do Ano” e com a estrela Michelin conseguida no Hotel Casa da Calçada Relaix & Chateaux.
Uma das alterações do espaço que também contribui para a comida tem a ver com o espaço da cozinha, que antes da remodelação tinha cerca de seis metros quadrados e agora tem aproximadamente 60. O conceito é, naturalmente, fine dining, e assenta na conjugação entre o cocktail bar, a parte vínica — que usufrui de uma garrafeira com 35 anos como é a do Porto Palácio — e a gastronómica, que acaba por ser o culminar de tudo isto.
“É uma comida de assinatura, muito dentro do que é a minha forma de ver a cozinha. A minha cozinha assenta principalmente no respeito pelo produto, seja ele local ou nacional, na base da sustentabilidade a todos os níveis, quer seja por uma questão de cultura, de respeito pelo produto ou por uma questão de subsistência das próprias espécies. É aí que a minha cozinha se demarca. Por isso vamos ter aqui muitas surpresas no que toca até aos produtos que conseguimos pôr na mesa”, começa por explica à NiT o chef André Silva.
Um dos exemplos de toda essa simbiose é a sobremesa Baião à mesa, que tem como ingrediente estrela o doce Teixeira. Este doce tão típico é, talvez, uma surpresa quando incluído numa carta de alta cozinha.
“Pegarmos num biscoito Teixeira e transportá-lo para uma cozinha de autor acaba por ser um desafio extremamente interessante. Depois, é interessante ver a reação das pessoas, quer sejam nacionais ou internacionais, até porque muitas vezes temos muita gente nacional que não conhece o que é um biscoito Teixeira e se calhar até já, em alguns momentos, puderam deparar-se com eles numa festa e se calhar passou-lhes completamente ao lado.”
O objetivo é claro e trata-se de levar mais longe alguns dos melhores produtos nacionais em vez de dar valor apenas aos ingredientes caríssimos que muitas vezes associamos à cozinha de autor. Até “para que realmente possamos ser todos nós um pouco embaixadores daquilo que de melhor conseguimos ter em Portugal”.
Esse lado está muito presente nas cartas compostas pelo chef, que tenta sempre trazer as emoções para os pratos. Sobretudo aquelas que nos possam relembrar aspetos marcantes da infância ou pessoas importantes como as mães ou avós.
“As pessoas poderem comer um prato e algumas delas poderem dizer que aquele prato lhes faz lembrar a infância ou que lhes fez lembrar um prato da mãe ou da avó, acho que pode ser o melhor elogio que qualquer cozinheiro possa ter.”
Com todas as indefinições que a pandemia ainda provoca, a carta neste momento está fechada a um menu de degustação de cinco pratos (45€ por pessoa). Dessa lista fazem parte sapateira e melancia com wasabi, teriyaki, beurre blanc e espinafres; alho francês e funcho com caviar de averuga, ostra e nata; bacalhau e ouriço do mar com à Brás de legumes e azeitona verde; costela mindinha e aipo com molho de vinho tinto, pão rústico e legumes do mercado; e o Baião à mesa, Doce Teixeira, mel e pólen. Para quem quiser há ainda uma versão vegetariana (35€), ligeiramente diferente, e é possível ter acesso a um menu executivo (22€) ao almoço, que varia todas as semanas.
Se este menu pode parecer digno de prémio, é normal. Ainda assim, o chef André Silva garante que a meta não é essa e responde de forma muito simples quando questionado sobre se tem outra Estrela Michelin como objetivo.
“A grande meta que nós temos para o futuro — e que esta pandemia fez-nos a todos pensar — é que às vezes fazemos demasiados planos para o futuro quando esquecemos que o futuro é hoje e, quanto muito, o amanhã. Qualquer distinção que venha, seja ela qual for, será sempre bem-vinda, mas a maior distinção que nós podemos ter é exatamente cada cliente, cada refeição que termine, cada elogio que possa chegar à cozinha ou à equipa de sala. Esses serão os prémios que vamos conquistando dia após dia.”
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