Pipos, xailes minhotos, louças de barro e pratos típicos. Quem passa pela Estrada Nacional de Sintra e se depara com uma longa fila de clientes à espera para entrar no restaurante chamado Cabra Macho pode sentir alguma perplexidade. No entanto, aqueles que tiverem coragem para aguardar cerca de duas horas vão descobrir uma verdadeira “tasca à portuguesa”, onde tudo é surpreendente. Uma boa notícia é que, recentemente, a taberna tem agora “uma irmã” no andar de cima, a Cabra Macho Cervejaria.
Por detrás do negócio estão o casal Sarah e Simão Lima, bem como o irmão deste último, Duarte. Em março de 2023, o trio abriu o tasco num dos “locais mais improváveis de Sintra” e o sucesso levou-os a ponderar sobre um novo empreendimento.
Assim que tiveram uma oportunidade, os três adquiriram o segundo andar do edifício onde se localiza o Cabra Macho. A ideia original era reduzir as longas filas que se formavam à porta, mas rapidamente perceberam que replicar o conceito do primeiro restaurante no novo espaço não seria viável. Assim, decidiram dar vida a uma nova proposta: uma cervejaria.
“Temos um Cabra Macho para comer de faca e garfo, mas bem básico e com preços de tasca”, adianta Simão Lima. Por outras palavras: servem apenas francesinhas, pregos—“com bife maior que o pão”—e bifes à cervejeiro. Para beber só há lambretas, ou seja, cerveja servida em copos de 15 centilitros.
A inspiração para este conceito surgiu após “descobrirem um segredo portuense”. Como apreciadores de pregos e petiscos típicos, encontraram os ingredientes ideais para recriar uma francesinha tradicional dos anos 1980, “super simples”. Os ingredientes vêm diretamente do Porto e depois é tudo preparado na hora do pedido. A francesinha custa 8,90€, se acrescentar ovo acresce um euro.
No novo menu, destacam-se ainda os pregos, cuja qualidade Simão assegura ser “quase superior à do Ramiro”. E acrescenta: “Andamos sempre de um lado para o outro a provar este género de sandes e temos algumas favoritas. As nossas, feitas com naco de carne maior que o pão (3€), torresmos (3,50€) ou enchidos, entraram diretamente para o pódio”.
Para complementar a oferta, foram adicionados bifes à cervejeiro (8,50€) e também é possível pedir as versões com molho de pimenta (8,30€) ou serrano (8,50€). As entradas e sobremesas são iguais às do primeiro espaço: para começar, Simão destaca os croquetes de vitela (1€) e o queijo malcheiroso na chapa (5€); e há mousse alentejana (2,50€), baba de camelo (2,50€) e pudim da sogra (2,50€) para finalizar.
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Tal como o primeiro restaurante, o novo espaço tem sido muito bem recebido. “Abrimos a 2 de setembro e, após três dias, tivemos de encerrar temporariamente, pois esgotámos todos os produtos”, revela Simão. A única diferença é que a longa fila de espera exterior cresceu, agora acolhendo ainda mais clientes. “Quando os clientes chegam, devem decidir se ficam no Cabra Macho ou na nova cervejaria e depois esperam.”
Com capacidade para 30 pessoas, a cervejaria é decorada com elementos típicos das tabernas. “Temos mesas de madeira, barris e o característico aroma de lenha, vinho e enchidos. É uma tasca genuína dos anos 1980”, menciona Simão.
O nome do espaço provoca sempre reações, mas a explicação é simples e resulta de uma situação peculiar. “Cabra Macho é uma expressão utilizada no Brasil, especificamente na Bahia, onde me casei. No nosso casamento religioso, o pastor referiu-se à minha mãe como cabra macho, o que me deixou indignado. Ninguém deve chamar cabra à minha mãe, especialmente no dia do meu casamento”, partilha Simão.
“Entretanto, compreendi que a expressão é usada para descrever uma mulher forte. Não se trata de um machão, como diríamos aqui, mas sim dessas mulheres antigas que trabalham duro e fazem tudo sem receios, a ponto de poderem ter barba e parecer homens. De uma situação que me deixou frustrado, e que comentei com várias pessoas, acabei por guardar o nome. Não é uma referência a alguém específico, mas algo que me ficou gravado na mente.”
A expressão dá azo a “brincadeiras ao melhor estilo de tasca”, semelhantes às frases que decoram as paredes do local. Porém, quem ali for almoçar estará, sem o saber, a contribuir para uma boa causa. “Decidimos destinar 2,5 por cento do total de cada refeição para comprar de alimentos, roupas e medicamentos para quem mais precisa. Normalmente fazemos essa entrega na nossa igreja.”
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