A carne wagyu japonesa é uma das mais cobiçadas do mundo. As condições únicas em que são criados os bovinos, o marmoreio, a suculência, fazem dela também uma das mais caras. Em pouco mais de um mês, o chef e sushiman Agnaldo Ferreira garante que encomendou mais desta carne do que em seis anos nos seus outros dois espaços. Um fenómeno com nome de Ikigai.
O restaurante japonês que nasceu em setembro a poucos metros da Avenida da Liberdade, em Lisboa, é o terceiro com carta da sua assinatura — depois da bem conhecida taberna Ikidashi e do portuense Ikeda. É também o mais luxuoso.
“Aqui pode-se comer o melhor toro do mercado, o melhor caviar e o melhor champanhe. É uma outra oferta, de luxo, até pela localização e pelo tipo de cliente”, explica à NiT o brasileiro de 40 anos, a viver há 17 em Portugal.
Este era um projeto há muito falado entre o chef e Rômulo Mignoni, dono da garrafeira e restaurante Wines By Heart. A oportunidade surgiu — a pandemia também — e o conceito japonês acabou por tomar conta da cozinha do restaurante na baixa lisboeta.
Assim, o Ikigai une o melhor das duas facetas. De um lado, sushi fresquíssimo. Do outro, uma garrafeira carregada de bons vinhos, muitos deles a copo.
“Queríamos ter a mesma qualidade do sushi [do Ikidashi e do Ikeda] com uma oferta mais requintada. Serviço de sommelier, muitos vinhos a copo, salas privadas como existem no Japão. Toda a estrutura que ali existia favorecia esse projeto”, esclarece Agnaldo Ferreira.
Se o sushi mantém intacta a qualidade que se conhece dos outros dois restaurantes, o que há de diferente? A resposta compõe-se, em parte, por outro nome brasileiro, o do chef Rodrigo Osório, que transitou da antiga cozinha da garrafeira e é responsável pela novíssima parte dos pratos quentes.
“Ele é um chef muito bom e por isso quisemos apostar na parte dos quentes que não desenvolvi tanto no Ikidashi e no Ikeda”, frisa.
Em destaque óbvio, a carne wagyu japonesa. O que nos outros espaços era apenas servido por encomenda, aqui tem que estar quase sempre disponível. O preço varia sempre conforme o corte e o peso, sendo que Agnaldo garante que, contrariamente a outras casas, no Ikigai não se praticam margens exageradas. Isto faz com que um bife de 200 gramas possa custar cerca de 70€.
“A carne chega a custar 240 a 300€ por quilo. Sei que outras casas servem o mesmo por 180€. Embora seja barato, nós preferimos não optar por ter margens estrondosas”, esclarece.
A especialidade que deveria ser sazonal é já um dos maiores êxitos do recém-nascido Ikigai. Mas não só. Nos quentes, destaca-se também as Short Ribs Teriyaki, costelinhas cozinhadas a baixa temperatura durante 12 horas e acompanhadas, lá está, de um molho teriyaki. Há também a robata, pequenas espetadas cozinhadas a carvão, do pato ao frango.
Porque o luxo é o nome do meio do espaço, é impossível não falar do caviar da francesa Petrossian. Pode prová-lo simples, em pequenas doses de 30 gramas: o de esturjão ossetra custa 97€ e de beluga fica por 249€. Se preferir, pode optar pelo conjunto de entrada que custa 22€ e que leva à mesa tempura de ostras frescas, duas peças de caviar ossetra Petrossian e um copo de Veuve Clicquot Brut.
Para lá da longa lista de peças e de pratos quentes, se quiser ir à aventura, opte pelo menu omakase, criado no momento e deixado à originalidade do chef. Ou então peça um dos combinados de 15 peças, com preços que variam entre os 29€ e os 64€ (este último também de escolha livre do sushiman).
Durante a semana há opções mais em conta, com menus de almoço que combinam entradas, sushi e sashimi, ou mesmo só com pratos quentes, para quem os preferir. Os preços começam nos 19€.
A conversão do Wines By Heart em Ikigai obrigou a algumas mudanças, mas poucas. O espaço mantém a decoração quente, assente em madeira, agora com limitação a 29 lugares, já a contar com a esplanada. No rés do chão, os lugares ao balcão misturam-se com as mesas altas e uma pequena cabine. No piso inferior, há ainda duas salas privadas (uma com cinco lugares e outra com oito).
Do antigo espaço manteve-se a garrafeira, com uma seleção de referências a copo que não é fácil encontrar. Pode partir dos mais simples, como um copo de Alvarinho Pequenos Rebentos por 6€, a um tinto Chateau Mouton Rothschild de 2005 por 193€. E como é habitual nos espaços de Agnaldo Ferreira, uma longa e caprichosa seleção de sake.
A experiência no local é insubstituível. Mas se tiver mesmo que ser, e não puder deixar um bom sushi para o pós-recolhimento, pode alegrar-se: a chegada às plataformas de delivery está para breve.