Uma simples de viagem de avião pode mudar o rumo de uma vida. Foi exatamente isso que aconteceu a Afonso Dantas. O madeirense de 26 anos fazia a travessia da Madeira para Lisboa quando se cruzou com o produtor e enólogo António Maçanita, que já tinha ouvido falar do jovem chef. Meses mais tarde, sentavam-se para conversar e planear a abertura do Cozinha do Paço, o restaurante da Fitapreta que abriu a 27 de fevereiro, em Évora.
O enólogo, que só conhecia o trabalho do madeirense através dos elogios dos amigos, convidou-o para uma prova de vinhos da Fitapreta ali mesmo no avião. Afonso não pôde ir, mas daí a seis meses voltou ao continente de férias e decidiu conhecer a adega. António conseguiu estar também presente na prova, algo que, segundo o chef, é muito raro acontecer. “Demo-nos logo bem e no final, em tom de brincadeira, ele [António Maçanita] fez-me o convite para entrar no seu novo projeto”, conta à NiT o cozinheiro.
Afonso encarou a proposta com leveza, mas nas semanas seguintes foram falando. Nuno Faria, parceiro de António Maçanita neste projeto que o enólogo começou em 2015, já conhecia o trabalho do chef madeirense e ajudou no processo. “Passados uns tempos fizeram o convite à séria e não pude recusar. Deixei um projeto meu, que estava a desenvolver em stand by e mudei-me para o Alentejo para abraçar este projeto que me cativou desde o início”, diz.
A Cozinha do Paço não é um típico restaurante alentejano. O restaurante, que nasceu precisamente na antiga área destinada à cozinha do Paço do Morgado de Oliveira, tem “uma forma particular de olhar para o Alentejo”. Rodeado pela história local, decidiram recuperar o receituário alentejano e dar-lhe o cunho pessoal de Afonso Dantas.
“A ideia é que os pratos tragam memórias nostálgicas do antigamente, mas não queremos replicar nada. Inspirámo-nos na história do Paço e de quem passou por cá, como as famílias reais”, refere.
A equipa reconstruiu o local para tornar as visitas mais interativas. O percurso começa numa das salas e depois segue um circuito próprio. Os clientes podem escolher entre quatro menus de degustação, todos acompanhados com vinhos escolhidos por António Maçanita. O Fitapreta Clássicos (135€) divide-se por seis momentos com acompanhamento de cinco vinhos; o Clássicos e Colheitas Antigas (180€) tem o mesmo número de pratos, mas os rótulos foram escolhidos com a premissa de já não existirem à venda noutros locais.
“Tentamos fazer um trabalho musculado em que o vinho nos diz que tipo de prato devemos criar”, refere o chef. “Há uma grande sinergia entre a bebida e a comida”, acrescenta. Isso é visível também nos restantes menus de degustação. O Aquém e Além Mar (255€) acolhe sete vinhos de outras regiões do País, incluindo ilhas e divide-se por nove momentos. O Enxarrama (285€) tem o menos números de pratos e rótulos, mas estes últimos são de colheitas especiais da Fitapreta. Quem optar por este menu pode terminar a provar um copo do Enxarrama 2014, colheita mais recente de um dos vinhos produzidos na zona vinhateira mais antiga de Évora, datada de final do século XIII.
Nas propostas encontram-se alguns pratos que Afonso criou de forma a “evocar emoções”. “Temos o coração de borrego, que servimos como snack e que queremos que leve as pessoas numa memória antiga, de algo que já provaram, mas que não está retratada da forma como a apresentamos”, refere. O chef pegou ainda em alguns “clássicos” da região e transformou-os. O porco preto, por exemplo, também está presente na carta, mas não sobre a forma de secretos ou bochechas, como é comum ver nos menus dos restaurantes típicos.
O espaço tem capacidade apenas para 16 pessoas, mas é facilmente adaptado aos eventos pedidos. “Temos várias salas disponíveis e os set ups conseguem adaptar-se às necessidades. Os clientes, quando fazem a reserva, nunca sabem onde se vão sentar. A ideia é que vivam uma experiência com surpresas que tentamos que não sejam desvendamos. É um restaurante dinâmico”, conclui.
Carregue na galeria para descobrir o novo espaço de António Maçanita, em Évora.