Restaurantes

Descobri um oásis na Avenida da Liberdade — e adorei o tártaro de beterraba do Sítio

Uma repórter da NiT foi ao restaurante do Valverde Hotel, e percebeu que o mais difícil é entrar. Depois, já não quis sair.
É um tesouro escondido no meio da cidade.

Descobrir onde ficava a entrada não foi fácil. Explicando melhor: não precisei de GPS para chegar ao Valverde Hotel, mas uma vez lá dentro, encontrar o restaurante Sítio foi um desafio. A ajuda do sistema de localização por satélite teria dado jeito, confesso.

No pequeno hotel de cinco estrelas, na Avenida da Liberdade (em Lisboa), tudo parece igual, mas na cozinha do Sítio tudo (ou quase) mudou. Carla Sousa, que comandava o espaço há oito anos, saiu, e para o seu lugar entrou Bruno Caetano Oliveira. O menu é novo, mas parece que não vai ficar por aqui. O chef revelou à NiT que tem “mais ideias que quer pôr em prática”.

“Cheguei em dezembro e, desde então, já fiz algumas alterações. Lá para o final do ano, quero ter noites só com menus de sete momentos, para que o cliente sinta que isto é um Relais & Châteaux, muito ligado à gastronomia”, conta.

Apesar de ter chegado recentemente, vindo do Sheraton Cascais Resort & Hotel, Bruno está decidido a fazer a diferença. Quer tornar o restaurante ainda mais apelativo para os hóspedes — e não só. “O giro disto é que o hotel em si, embora seja jovem, já é um empreendimento icónico em Lisboa, muito cool.”

Sentada no jardim escondido por detrás das paredes do Valverde Hotel pude esquecer-me de que estava numa das principais avenidas de Lisboa. Sim, porque ali, além da música de fundo e do som de alguns pássaros mais determinados que aguardam pacientemente por migalhas perdidas, não se ouve um único ruído indicador da agitação da capital. Mas voltemos às minhas peripécias para lá chegar.

Entrei no hotel e, com receio de estar, subi o curto lance de escadas. Encontrei uma secretária, mas estava vazia, o que fez com que tivesse de invadir o espaço — a invasão não foi literal, claro, mas sentia-me como se o estivesse a fazer. Mais adiante, ao lado dos elevadores, encontravam-se dois funcionários a dar indicações aos hóspedes.

Os primeiros, em inglês, faziam o check-in. Os segundos, em português do Brasil, pediam referências de espaços a visitar na cidade. O casal seguinte pedia um táxi. Sem saber se estaria no local correto, consegui, finalmente, pedir indicações. E não podiam ser mais fáceis: “Basta entrar no elevador e descer”, disse-me o funcionário enquanto me dirigia para o local e carregava no botão.

Desci e, quando as portas, abriram, percebi que a história ainda não tinha terminado. Olhei em volta e não vi ninguém a quem perguntar para onde me devia dirigir. Pouco depois percebi que estava na zona do bar e — às 12h30 estranho seria se já se servissem cocktails. Continuei a andar e, finalmente, encontrei as portas de correr do restaurante. Aí, sim, fui logo recebida e perguntaram-me onde me queria sentar. A resposta só podia ser uma: na esplanada mais bem escondida de Lisboa. 

Passei pelos painéis de madeira retro-iluminados, pelo teto em Burel bordado, o pavimento em azulejo vidrado e as janelas até ao chão que indicavam que o pátio estava vazio. Havia apenas um casal a comer nos sofás àquela hora, pelo que pude escolher um dos cerca dez lugares para me sentar.

Luís Graça, responsável pelo restaurante, logo veio ter à mesa e fez uma breve apresentação do espaço. Ao novo chef junta-se uma carta diferente, na qual a gastronomia portuguesa é a grande protagonista, explicou.

Antes do Sheraton, Bruno Caetano Oliveira esteve em hotéis como o Pine Cliffs Resort, no Algarve, o Praia D’El Rey Marriott Golf & Beach Resort, em Peniche, ou no Epic Sana, em Luanda. Mas aqui diz ter outra liberdade.

Para o restaurante, Bruno tem uma visão muito clara: “Ao almoço um ambiente mais casual, daí muitos dos pratos serem servidos em frigideiras. Sei que há quem não goste que se coma dos nossos pratos. Eu, por exemplo, odeio que me roubem comida”, disse, a rir-se. À noite, fica mais requintado com uma carta focado na alta cozinha. Pelo meio, entre as 15 horas e as 19h30 reinam as bebidas.

“Queremos que os nossos hóspedes tenham opções diferentes para não terem de sair do hotel à procura de outras propostas. A concorrência é muito forte, pelo que temos de estar ao mesmo nível”, explicou.

A carta do Sítio mudou, bem como a sazonalidade dos produtos e a maneira como são confecionados. “O forte é o sabor. Não usamos pós-mágicos”, brinca. O carabineiro (42€), servido ao jantar, é um dos melhores exemplos do novo conceito. “O caviar que é colocado por cima é mesmo caviar, não é nada dessas misturas. E os espargos brancos são selvagens para manterem o sabor autêntico”, garante.

Antes, chegou à mesa o couvert, com uma manteiga com caramelo salgado e uns pães ainda quentes. As bebidas foram outro dos atrativos da refeição. Não por serem incríveis — a limonada de frutos vermelhos e o chá gelado eram bons, sim, mas não exageremos —, mas por estarem acompanhadas por palhinhas comestíveis. Esqueça aquelas em massa ou desse género. Não percebi de eram feitas, mas sabiam a gomas e fui imediatamente transportada para a minha infância. 

O tártaro de beterraba (16€) — um dos mais pedidos — chegou à mesa com o carabineiro, outro dos bestsellers. Seguiam-se um caril de legumes (22€) e o arroz de garoupa e gambas (25€). Por fim — e já de barriga cheia — ainda provei o cevadoto de abóbora, uma espécie de risoto (22€), e a vitela, com puré de aipo (32€).

“Para sobremesa, temos uma tarte de chocolate. Tínhamos de fazer algo vegan e temos de ter sempre algo de chocolate. Pensámos: por que não juntar os dois`?” O resultado está à vista: é uma das sugestões com mais saída. Enquanto se come uma colherada, sente-se um toque de laranja entre o chocolate, que aposto que deixa qualquer um viciado.

Ali, no número 164 facilmente esquecemos que estamos num hotel de cinco estrelas. O conceito afasta-se dos maneirismos associados a espaços mais formais. “Não é daqueles em que se tem de falar baixo e ter cuidado a andar”, exemplifica melhor o chef.

O plano que tem para o bar contribuirá para definir ainda mais esse ambiente de descontração. “Vai ter uma identidade quase como se fosse um bistrô. Vai ser um bar onde também se fazer uma refeição, com ostras, por exemplo, caso não se queira ir ao restaurante que à noite vai passar a ser mais formal”, conclui.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Avenida da Liberdade, 164
    1250-146 Lisboa
  • HORÁRIO
  • Aberto todo o ano
PREÇO MÉDIO
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