Em 2012, Nuno Ribeiro chegava a Angola. O advogado tinha planos para trabalhar, mas acabou por se tornar numa espécie de cozinheiro oficioso do grupo de amigos. “Era o amigo que cozinhava para todos”, recorda à NiT. Acontece que quando regressou a Portugal, seis anos mais tarde, veio decidido a largar a profissão e dedicar-se aos tachos.
Dito e feito. Despediu-se e inaugurou o Escândalo, um restaurante de cozinha portuguesa. Nem tudo correu conforme o previsto. No final do mesmo ano fechou-o, mas nunca mais deixou de sonhar com o negócio próprio e, seis anos depois, a 27 de setembro — e após algumas aventuras noutros espaços —, reabre o Escândalo, desta vez no Areeiro.
Durante a passagem por Angola, onde trabalhou como diretor de vendas do grupo do general João Matos, Nuno Ribeiro, de 60 anos, acabava invariavelmente o dia à volta do fogão. Tinha por hábito reunir um grupo de amigos de todos os cantos do mundo — do Canadá à Irlanda, da África do Sul aos EUA — e cozinhava para todos com ingredientes que cada um tinha em casa.
“Vivíamos no mesmo condomínio e juntávamo-nos para jogar rugby e para comer. Todas as noites fazíamos um jantar diferente, em casa de cada um, com os ingredientes que havia. A única coisa que era constante era eu ficar na cozinha. Acabava sempre a inventar novas receitas”, conta o cozinheiro autodidata à NiT. Os cozinhados eram quase sempre aprovados com distinção.
A alegria da cozinha fê-lo perceber que voltar a um escritório seria um passo difícil de dar. Encontrou então um espaço em Alcântara, que batizou de Escândalo e onde, com ajuda da irmã, exibiu os seus cozinhados. Ao fim de um ano, a parceira quis desistir e o espaço fechou portas. Uma decisão que Nuno considera ter sido “uma salvação” porque, meses mais tarde, o mundo defrontava-se com uma pandemia que arrasou o setor da restauração.
Seguiram-se anos em ziguezague. Após uma pausa sabática, antigos colegas dos tempos em que trabalhou na TAP convenceram-no a agarrar no restaurante do Sindicato dos Pilotos. “Muitos dos meus antigos colegas vinham jantar ou almoçar ao Escândalo. Quando fechei ficaram com saudades. Como alternativa disseram-me que o espaço de restauração no Sindicato dos Pilotos estava sem exploração e, em 2021, decidi pegar naquilo”, recorda.
Em 2023, mergulhou novamente num ano sabático. “Tive vários convites, mas não me apetecia voltar ao escritório. Pude dar-me ao luxo de dizer que não e procurar um novo projeto. Entretanto, um amigo falou-me de um novo espaço, que já tinha sido uma pastelaria e assim que o vi decidi que estava na hora de recuperar o Escândalo.
Pôs mãos à obra e tratou de toda a remodelação e decoração do espaço com cerca de 50 lugares e que tem vários apontamentos ligados ao passado da agricultura. O nome manteve-se. “Quando abri o primeiro, queria algo impactante e andava à procura do nome ideal quando me lembrei que poderia ser ‘um escândalo’. Partilhei com amigos e adoraram, por isso ficou”, revela.
Para construir a ementa, Nuno recorre a algumas receitas da mãe e da avó, por exemplo, o Vol-au-vent de pato com cogumelos e espargos verdes (16€). “Recuperei a receita e coloquei a proteína numa massa folhada, criando um embrulhado de pato”, refere. E, da mesma forma, também trouxe a inspiração de uma receita de tarte de amêndoa, datada de 1897, que estava na casa dos avós, em Castelo Branco, e que aqui chamou de Tarte Royal (6€).
Tendo em conta a localização, decidiu adaptar o espaço a dois momentos distintos. Ao almoço tem sempre pratos do dia, um de peixe e outro de carne, onde privilegia “a série à Brás”. “Há atum à Brás, alho-francês à Brás e até bacalhau à Brás. Depois temos sempre um bitoque”, diz. Os pratos do dia custam sempre 12€.
Ao jantar o conceito muda e os protagonistas são os pratos mais compostos, como o bife da vazia com molho roquefort (21€), ou molho à café (21€), as gambas à Brás (15€) ou o Bacalhau à Escândalo (15€). No final da refeição há crème brûlée (5€), pavlova de gelado com frutos silvestres (6€), Dom Rodrigo (6€) ou a Tarte Royal (6€).