Intemporalidade é o conceito central que Tiago Bonito deseja transmitir como chef-executivo do novo Éon. Localizado no centenário Palacete Severo, o espaço abriu portas a 26 de outubro e representa o “novo passo” na carreira do cozinheiro, que durante seis anos manteve uma estrela Michelin no restaurante Largo do Paço, situado no hotel Casa da Calçada, em Amarante.
A saída de Tiago Bonito do restaurante histórico em 2021 surpreendeu muitos. No entanto, como agora esclarece à NiT, foi uma decisão cuidadosamente ponderada ao longo de vários meses. Os proprietários do palacete eram clientes do chef no Largo do Paço e, durante uma das suas visitas, apresentaram-lhe o projeto.
Com o tempo, começaram a pedir-lhe conselhos, e Tiago acabou por se envolver no projeto. “Sinto uma ligação muito forte à Casa da Calçada, onde aprendi e cresci imenso. O que influenciou a minha decisão de sair foi o tempo estimado para as obras de remodelação, que iam demorar e fazia-me confusão estar muito tempo parado. Esta porta abriu-se e achei que era o que estava destinado a acontecer. Não foi uma decisão fácil, mas aceitei a nova aventura”, revela o chef de 38 anos.
Um dos fatores que pesou na sua decisão foi a semelhança entre os projetos, uma vez que ambos os restaurantes são instalações que têm uma história a contar. O Éon está instalado num palacete construído no início do século XX por Ricardo Severo. Decorridos 120 anos, o imóvel, classificado como de interesse histórico, reabriu como um “hotel intemporal, onde a história, arte e luxo se entrelaçam perfeitamente”.
A ideia de recuperar o edifício chegou com os atuais proprietários, um grupo de franceses que investem em património natural e A ideia de recuperar o edifício partiu dos atuais proprietários, um grupo de investidores franceses que se dedica à preservação do património natural e cultural. Embora não tenham raízes no país, apaixonaram-se pelo Porto e pela região do Douro. “Decidiram intervir neste espaço precisamente porque desejavam honrar o seu passado, sempre respeitando a sua história”, explicou Joana Almeida, diretora-geral da unidade hoteleira, à NiT.
As obras levaram mais tempo do que o inicialmente previsto, e o restaurante, que deveria ter sido inaugurado em outubro de 2023, só abriu um ano depois. Neste intervalo, Tiago Bonito teve a oportunidade de refletir sobre o menu, enquanto arquitectos e decoradores criavam um ambiente acolhedor, com capacidade para 20 pessoas, onde predominam madeiras escuras que contrastam com os tons de verde das poltronas.
Tiago Bonito quis incorporar um pouco da história do espaço na carta, apresentando uma experiência de degustação composta por 14 momentos. “Trouxe as minhas inspirações e memórias para criar uma viagem gastronómica por Portugal, do norte ao sul”, explica. O Algarve é representado pelo Frango à Piri-piri e pelo carabineiro, enquanto o Douro é homenageado com as amêndoas. A degustação das sugestões do chef, em open space, custa 150€, com a opção de acrescentar a harmonização vínica por mais 80€.
“As referências foram selecionadas pela nossa sommelier, Sara Godinho, mas é um trabalho colaborativo para percebermos o que combina bem com cada prato. No final, conseguimos representar um pouco de todas as regiões, desde a Madeira e os Açores, passando pelo Algarve, Ribatejo e Bragança”, afirma.
A seleção de rótulos resulta de uma fusão entre pequenos produtores e “três ou quatro marcas mais comerciais que ajudam a complementar a carta”. “Optamos por vinhos distintos, que têm filosofias e histórias próprias. Os mais conhecidos nem sempre as possuem e, por isso, não se encaixam aqui.”
Cada detalhe no Éon foi cuidadosamente pensado, refletindo uma narrativa que interliga a história do palacete e a trajetória do chef. O nome do restaurante, que evoca um período temporal sem início nem fim, foi escolhido para refletir a intemporalidade que querem incorporar na essência do projeto.
“As memórias são formadas por diferentes períodos, e queremos transmiti-las através da minha cozinha, que é muito afetiva e inspirada nas lições que aprendi com a minha avó e a minha mãe, assim como nas experiências que tive. O desafio é implementar tudo isto e criar uma simbiose com as demais experiências da equipa”, conclui.
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