Restaurantes

Esmeralda vendia bolos à porta da igreja, agora tem um império de restaurantes

"Não foi uma coisa que tenha projetado. Nunca me passou pela cabeça chegar onde estou", conta a empreendedora de 66 anos.
Em quarto, Esmeralda, a dona disto tudo.

“Ah, quer comer bem? Vá à Esmeralda”. Esta é provavelmente uma das frases mais repetidas na Nazaré pelos moradores para os turistas. Todos os nazarenos conhecem bem esta mulher e a sua incrível história de vida. Esmeralda Pereira, de 66 anos, construiu um pequeno império na restauração, mas continua a acordar todos os dias às 6h30 da manhã, trabalha sete dias por semana e só regressa a casa já perto da meia-noite. É proprietária de seis lojas na Nazaré — três delas com comida. Mas não esquece as origens do sucesso.

“Não foi uma coisa que tenha projetado. Nunca me passou pela cabeça chegar onde estou. Sou de Famalicão, uma aldeia da Nazaré, e venho de uma família muito humilde”, conta à NiT.

Esmeralda é a mais velha de oito irmãos, casou-se com 18 anos e pouco depois estava grávida do primeiro filho. Nos primeiros dois anos, diz-nos, teve uma vida boa financeiramente. “Mas depois veio a crise dos anos 80. O meu marido, que trabalhava nos navios, esteve um ano inteiro sem receber.”

Com 24 anos, uma casa recentemente construída e dois filhos pequenos, Esmeralda confessa que ficou mesmo na miséria. “Tinha apenas sete escudos em casa, foi nessa altura que me lembrei de ir vender bolos para a porta da igreja da aldeia. Na altura, há mais de 40 anos, não havia supermercados nem minimercados. Só aqueles mercaditos e um deles acontecia lá.”

Conseguiu terminar o primeiro dia com dinheiro suficiente para o resto da semana. Ficou tão contente que na semana seguinte voltou a fazer o mesmo. Depois tornou-se um hábito e até passou a a vender batatas-doces e maçãs assadas.

“Entretanto, o meu marido arranjou emprego noutra empresa, começou a ganhar bem e decidi tirar a carta de condução. Quando comprámos um carrito, disse-lhe que ia vender para o mercado da Nazaré. Afinal, já tinha tomado o gostado.”

“Tinha muito bons clientes e vendia muito. Por isso, os próprios fornecedores escolhiam o melhor para mim. De maneira que tinha a bancada mais bonita do mercado. Para ter uma ideia, num fim de semana, vendia uma tonelada de melão. Se fosse preciso, compravam-me 100 quilos de morango num dia. Tinha de ter duas ou três pessoas a atender, porque sozinha não conseguia.”

A procura era tanta que Esmeralda plantava as próprias frutas e ia vendê-las na praça. Mas, 25 anos depois, as coisas começaram a mudar. “A Nazaré começou a crescer e a sair da beira da praia. As grandes superfícies mudaram-se lá para cima, e pensei que estava na altura de dar o próximo passo: abrir uma frutaria, um espaço meu.” Foi Hugo, um dos filhos de Esmeralda, quem encontrou a pequena loja — “mesmo ao lado da conhecida pastelaria Baguete e de uma churrasqueira” — onde viria a abrir o projeto, em 2004.

Não passou muito tempo até que lhe começassem a pedir pão quente ou café. Dois anos depois, decidiu, então, remodelar a frutaria e transformá-la numa cafetaria, onde servia sandes, tostas, bacalhau à Brás e vários outros pratos. “Começou a vir gente, gente, gente. Vinham tantos aqui comer que cheguei a fazer 50 refeições só para o almoço”.

Em 2008, porém, altura em que o marido adoeceu, a empreendedora pensou em acabar com tudo. “Não tinha tempo nenhum, era muito trabalho e já não tínhamos capacidade para responder a tantos pedidos. Numa noite, lembrei-me que podia comprar a churrasqueira do bairro e fazer ali uma mini cozinha para frangos e grelhados take away.” E assim fez. Mas as filas só foram aumentando. “Em vez de ficar melhor, só piorei a situação”, confessa a rir.

Contra o cansaço acumulado e decidida em construir o próprio império, Esmeralda decidiu abrir o Esmeralda — onde estava a antiga pastelaria Baguete. “Na altura já tinha pago tudo ao banco [as dívidas do investimento naqueles negócios] e foi difícil tomar a decisão, mas, como era o último espaço com licenciamento de restauração na urbanização, avancei.”

A ideia seria fazer só pratos do dia, mas depois de o projeto estar concluído — “e estar tão bonito” —, decidiu em 2018 criar um conceito mais moderno. Mas a verdade é que a ideia não funcionou tão bem quanto seria de esperar e acabaram por virar a carta para a comida de conforto pouco depois.  “Quando começou a resultar melhor, veio a Covid. Felizmente, tudo passou e regressámos ao bom caminho.”

O Esmeralda é o terceiro espaço de restauração que completa a trilogia deste negócio familiar, estampado com o nome da cozinheira. E é um caso de sucesso na Nazaré — à custa de muito trabalho, claro. “Se calhar devia ter aproveitado melhor a vida, mas é com muito gosto que o faço”.

Hoje, está oficialmente reformada. Mas só no papel. A verdade é que continua a gerir a cafetaria e vai controlando a churrasqueira, que está a ser gerida há quatro anos pelo filho Hugo. Aliás, o neto de Esmeralda está neste momento a tirar um curso de gestão precisamente para seguir o negócio da família.

Mas isso só será daqui a vários anos, até porque ninguém consegue tirar o avental a Esmeralda. Recentemente, em conjunto com o chef Bruno Vicente, criou uma nova carta de T-Bones (22€), entrecôtes (18,50€), costeletas de novilho (17€), grelhados (23€), picanha (15,50€), secretos de porco preto (11,50€) e bife à portuguesa (14,50€) para o seu restaurante. E, como todos os clientes regulares sabem, é quase impossível não encontrá-la por lá aos jantares e aos fins de semana. Sempre na cozinha.

“Não dou a minha mão na grelha a ninguém. No fogão há pratos que também gosto de ser eu a fazer”. Mesmo durante a semana, como a cafetaria fica mesmo em frente ao restaurante, depressa lá chega para dar uma ajuda.

A seguir, carregue na galeria para conhecer melhor o Esmeralda e descobrir algumas das sugestões que saem da cozinha da empreendedora. Porém, não espere encontrar muito peixe. Parece mentira, mas o restaurante ao pé da praia foca-se sobretudo nas carnes.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Tomás Ribas 1
    2450-284 Nazaré
  • HORÁRIO
  • Segunda a domingo das 12h às 15h e das 19h às 22h
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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