Cozido à portuguesa levado a cozer num pão gigante. A proposta é invulgar, mas já tem centenas de fãs que se juntam diariamente num pequeno restaurante em Rio de Mouro, no concelho de Sintra, para provar a especialidade. O fenómeno nasceu pelas mãos da família Lopes, que fundou o Alentejano há 25 anos.
Maria João Lopes lidera a cozinha do pequeno restaurante, ao lado dos pais — Manuel António e Maria de Jesus — e da irmã Cláudia. A ideia nasceu numa pequena adega, na garagem do casal, há mais de três décadas, onde o pai preparava petiscos para a família e amigos. O passa-palavra fez o seu trabalho e, aos poucos, começaram a aparecer também amigos de amigos, vizinhos e outros conhecidos.
Quando viu que existia um espaço para alugar em Rio de Mouro, Manuel nem pensou duas vezes. A família abriu uma churrasqueira, mas depois repensou o conceito e transformou o local num “refúgio alentejano”, em honra às raízes do patriarca. As filhas juntaram-se ao projeto, com o compromisso de transformá-lo num verdadeiro negócio familiar.
Hoje em dia, é Maria João, de 46 anos, que lidera o restaurante, ao lado da irmã Cláudia, mas os pais não deixaram de fazer parte do negócio que tem como base “a comida alentejana”. Todos os dias, saem da cozinha travessas e caçarolas a transbordar de sopas de cação, açorda de bacalhau, migas de espargos ou carne de porco alentejana, receita da avó alentejana e da mãe, Maria de Jesus, “que sempre teve mão para a cozinha”.
Mas então, de onde vem o cozido?
Ainda antes da pandemia, alguns amigos reuniam-se para almoçar à sexta-feira a horas tardias com o resto da família Lopes. Um deles, após regressar de uma viagem ao norte, contou que estava fascinado com uma descoberta feita em Santa Maria da Feira. “Só me dizia que era cozido à portuguesa, mas servido no pão e fartava-se de repetir que eu tinha de experimentar fazer”, conta Maria João.

Assim foi: a cozinheira prometeu ao amigo que iria testar e que lhe serviria a receita na semana seguinte, num almoço apenas para pessoas próximas. Foi para a cozinha e começou a testar fazer a massa de pão alentejano e recheá-la com as carnes e as hortaliças do prato português. Resultou.
“Trouxe o pão para a mesa, abri com uma faca e como ainda tínhamos alguns clientes no restaurante todos quiseram provar. Foi uma festa”. Desde aí nunca mais conseguiu voltar atrás e o cozido tornou-se no prato mais pedido da casa.
“Servimos todos os dias, mediante reserva e fazemos em diferentes tamanhos, que servem entre quatro a 12 pessoas”, explica.
O mais pequeno custa 60€, enquanto o maior chega aos 125€. O pedido de reserva é feito devido ao tempo que o prato demora a ser confecionado: mais de 2h30. Maria João explica: “Temos de dar uma entalada nas carnes e só depois é que colocamos dentro da massa do pão. Mais tarde vai ao forno durante duas horas. Pedimos sempre aos clientes que nos avisem a que horas pretendem estar cá para programarmos o serviço para a mesma hora”.
Quem prova a receita garante que não quer outra coisa — independentemente da idade. Uma miúda de cinco anos, por exemplo, foi jantar ao O Alentejano com os pais e assim que viu o pão fumegante a chegar à mesa ficou sem reação.
“O pai disse-lhe que era uma espécie de Kinder Surpresa, mas com pão. A menina ficou muito atenta a ver-me a cortar e quando levantei a tampa e veio o fumo delirou. No entanto, assim que viu o chouriço, aí sim, foi a loucura. Pelos vistos adorava e foi um gosto vê-la a lambuzar-se com a nossa especialidade”, diz a proprietária.
Para quem não gosta de cozido, Maria João dá alternativas: “Há sempre migas com entrecosto, que custam 16€ para duas pessoas; ou sopa de cação, que fica por 17€, também para duas pessoas porque as doses são generosas”.
Tudo é acompanhado por uma carta composta apenas e só por vinhos alentejanos. Um jarro com um litro da proposta da casa custa 6€. Na parte das entradas também não precisa de perder tempo a escolher.
“Temos um prato com saladas que variamos ao longo da semana, queijos, paio, azeitonas e pão”, refere. Este couvert é deixado logo ao início, por 6,50€, mas é pensado para dividir por quatro clientes.
Não estaríamos numa casa alentejana sem uma sericaia, uma queijada, um toucinho do céu ou um morgado para as sobremesas. Há ainda pão de rala, rançoso ou bolo de amêndoa. Todas as propostas custam o mesmo: 4,50€.
De terça a sexta, quem lá for ao almoço pode pedir o menu do dia. Por 15€ inclui o prato do dia, que podem escolher entre carne ou peixe, entradas, bebida, sobremesa e café. O cozido não entra nesta ementa.
A semana no Alentejano, que tem capacidade para receber 80 cadeiras, é um frenesim com entra e sai de clientes fiéis que adoram o cozido. Alguns dos clientes mais famosos são a atriz Carla Andrino ou o ator Joaquim de Almeida, mas parece que o espaço é especialmente popular entre os jogadores de futebol: Costinha, Dimas e Paulo Ferreira também são presenças habituais.
