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Fenómeno de Santos: Manteigaria do Porto vende 100 mil “natas” por ano no Brasil

Alice Duarte é portuguesa, mas Matheus (que gere a marca) sempre viveu naquele país. Os clientes também adoram os pastéis de bacalhau.
É um sucesso.

Matheus Trevisan nasceu em Santos, no Brasil, e sempre lá viveu. Apesar disso, considera-se “português”. A avó paterna, Alice Duarte, nasceu em Cantanhede, mas foi com os pais para aquela cidade brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, e por lá ficou — até hoje.

“Costuma dizer-se que esta é a porta de entrada do Brasil. Aqui há imigrantes de várias nacionalidades”, conta Matheus à NiT. O empreendedor de 32 anos gere a Manteigaria do Porto, negócio que dá a conhecer um pouco da história dos seus antepassados. Abriu a primeira loja em 2021 — e a segunda em junho deste ano.

A marca foi criada pelos pais, Armando e Nazaré. “Sempre gostaram muito da doçaria portuguesa, mas tinham de ir a São Paulo [que fica a uma hora de distância de carro] para poderem comer um pastel de nata ou um travesseiro de Sintra”, explica. Decidiram abrir uma fábrica e, atualmente, é Matheus (formado em Ciências Sociais) que gere a empresa, com a ajuda do irmão Guilherme.

Cresceu a comer muitos pratos típicos da nossa gastronomia e, tem alguns favoritos, claro. “O pastel de nata é, realmente, um dos melhores doces do mundo”, aponta. Também é grande apreciador de quindins, queijadas e dos pastéis de bacalhau da avô Alice (que herdou a receita da mãe).

Nos seus primórdios, a loja tinha um nome ligeiramente diferente: Manteigaria de Lisboa. Decidiram mudá-lo porque Santos é uma cidade portuária e, assim, conseguiam homenagear os dois países, graças ao duplo sentido do substantivo Porto.

Os doces e salgados que vende são feitos na fábrica fundada pelos progenitores. Já as receitas, além de serem de família, foram aprimoradas por um pasteleiro “que foi aprendiz de um grande mestre português, o senhor Duval (que faleceu em 2021)”.

Alice Duarte, a avó que nasceu em Cantanhede.

Os “natas” como também são conhecidos, são os bestesellers da Manteigaria. Vem cerca de 300 diariamente, mais de 100 mil por ano. Cada um custa 9,90 reais (aproximadamente 1,80€). Junho é sempre o melhor mês, visto que é nessa altura que decorre a Festa de Portugal em Santos, que reúne 80 mil pessoas na cidade ao longo de um fim de semana. Durante o evento, saem 10 mil pastéis por dia.

As empadas de galinha, os pastéis de bacalhau e de Coimbra, os travesseiros de Sintra e o toucinho do céu “também se vendem bem”. A montra da primeira loja tem, pelo menos, 30 propostas diferentes e “tipicamente portuguesas” à disposição. O segundo espaço da marca é também um restaurante, tendo várias outras opções típicas, como o polvo à Lagareiro, punhetas de bacalhau e sardinhas na brasa. O café Delta também é muito elogiado. Cada chávena custa 7,50 reais (cerca de 1,40€).

A Manteiogaria do Porto é um verdadeiro fenómeno em Santos. “Graças às ligações históricas, os brasileiros gostam muito dos pratos portugueses. Comiam muitas destas propostas quando eram miúdos, e é impossível não gostarem, por exemplo, dos quindins. Conseguimos dialogar com esse afeto que sentem”, realça o empreendedor.

Forte é também a ligação de Matheus ao nosso País. Ainda em agosto esteve por cá em lua de mel. Passou por Lisboa e aproveitou para conhecer algumas das pastelarias mais famosas da cidade, e andou pela Rua Augusta e Alfama, duas das suas zonas favoritas. “São muito charmosas”, descreve.

A tour pela capital — que durou quatro dias — também contou com passagens pelo Castelo de São Jorge, Belém, Mosteiro dos Jerónimos e Padrão dos Descobrimentos. Está, de momento, a planear trazer a avó para visitar Cantanhede,  região que já conhece. Em 1996, passou por lá com a família e visitou a plantação de abóboras onde os bisavós trabalhavam.

Os planos para a Manteigaria são ambiciosos. “Quero continuar a expansão e abrir lojas não só no nosso estado [São Paulo], mas por todo o Brasil. Quero mesmo homenagear Portugal”, destaca. O “cuidado e carinho” por tudo aquilo que vende manter-se-á.

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