Quem não conhece a estação de serviço da A1 em Aveiras? Provavelmente, muito poucos. Nós já a conhecíamos bem, mas no dia em que decidimos fazer um desvio, que fica apenas três minutos depois, percebemos que o melhor estava para vir. Tínhamos ouvido falar do Genuínu´s, um restaurante único em Aveiras de Cima e decidimos ir experimentar.
As expetativas eram altas: “Tudo é excecional”, “tem uma seleção de vinhos incrível”, “não se esqueçam da sobremesa” — foram apenas algumas das promessas e recomendações que ouvimos. Tínhamos de ir confirmar.
Quando se entra, fica-se na dúvida: é uma garrafeira, um bar ou um restaurante? Uns passos depois, percebemos que é tudo isso. Aberto pelo chef Daniel Sequeira (34 anos), um filho da terra, em 2020, o espaço oferece petiscos, grelhados, e várias propostas de uma cozinha de autor.
As pipas em madeira com tampos que servem de mesa não deixam espaço para dúvidas: estamos mesmo no Ribatejo, região onde o vinho é rei. A garrafeira — que não passa despercebida nem aos mais distraídos — fala por si e confirma esta premissa. Não as contámos, mas à primeira vista, são mais de 200, as referências expostas.
A decoração, essa, junta o melhor dos dois mundos: o tradicional e o moderno. As mesas são de mármore, as cadeiras de madeira colorida e a loiça de estilo antigo. O saco do pão em tecido e o frapé colocado em cima da mesa completam o cenário.
Daniel revela-nos, porém, que foi fazendo algumas alterações desde a inauguração. “A própria sala e a iluminação mudaram. Quanto à comida, temos melhorado algumas coisas e corrigimos outras. A ideia é ter propostas mais fora da caixa —, mas sem assustar muito os visitantes”. Afinal, diz-nos, “estamos num meio pequeno”.
Têm fama de ser um conceito gourmet, mas o chef rapidamente nos corrige: “Não o somos. Nem as doses estão perto disso”. Aliás, querem afastar-se dessa ideia e mostrar aquilo que realmente são: “Genuínos, daí a escolha do nome”.
Sim, Genuínu´s por serem da terra e por tratarem os produtos dessa forma, e sobretudo, porque querem que ali todos se sintam “em casa e à vontade”. O convívio e a partilha são as linhas que orientam o chef e, por isso, desenhou uma carta cheia de petiscos.
Chegámos por volta das 19 horas e o som do afiar das facas e do burburinho da cozinha indicava que a equipa se preparava para mais uma noite de serviço. Entre a música ambiente e o tiquetaque dos (vários) relógios colocados na parede, provavelmente apenas como decoração, ouvia-se o som do telemóvel a tocar: chegavam os primeiros pedidos de takeaway.
Da carta, entre o torricado de bacalhau com pézinhos (10 €), o camarão flamejado (10 €) e os ovos rotos (8 €), optei pelo queijo panado (8 €). Chegou acompanhado de um chutney de cebola e pimenta, amêndoa e mel — e fiquei surpreendida.
Logo a seguir, chegou o estufadinho de cogumelos (8 €) e um segundo prato de queijo (10 €). Este, de cabra, com amêndoa, mel e pera bêbeda era, sem dúvida, muito mais intenso, mas um autêntico encanto para os viciados (como eu) neste lacticínio.
Não, não provei o entrecôte Angus com 350 gramas (20 €) nem o Tomahawk (52 € para duas pessoas). Quem já experimentou jura a pés juntos que estas propostas feitas no forno a carvão valem a visita. Talvez na próxima vez. “O camarão flamejado, com chili e espargos verdes (10 €) também sai muito”, acaba por acrescentar Daniel.
“Na secção vegetariana temos um mil-folhas de legumes (12 €) que está cá desde o início, e um risotto de cogumelos e espargos (14 €). No peixe, o risotto de camarão (18 €) e a açorda com a mesma proteína (18 €) são os mais pedidos”, revela.
Conseguimos acompanhar todo o processo de preparação dos pratos, afinal, a nossa mesa estava mesmo em frente à cozinha aberta. Os movimentos do chef e do resto da equipa pareciam uma dança sincronizada. Um trata das entradas, o outro do empratamento. Um do forno, outro dos frescos.
Entre provas, Daniel revelou que tudo começou na pandemia. Ou melhor, ainda antes de se ouvir falar nela. Bastaram umas semanas para que a Covid-19 se tornasse um tema diário.
“Começámos as obras em janeiro de 2020, mas só abrimos no final de maio.” O mais difícil, porém, foram os períodos em que tiveram de fechar logo a seguir ao almoço. Hoje, esse tempo ficou para trás e já têm até várias ideias para tornar o Genuínu´s mais do que um simples restaurante.
“Fazemos jantares vínicos, já fiz noites de fado e até um jantar com cerveja artesanal. No fundo, tento dinamizar o espaço, pôr tudo a mexer, e marcar a diferença. As pessoas precisam de perceber que há coisas a acontecer fora de Lisboa”, afirma.
Ao fim de uma hora, chegou o momento que mais me entusiasma numa refeição: a sobremesa. E as que nos apresentaram não desiludiram. Comecei por provar — mais pelo nome do que por outro motivo qualquer, confesso — a Se Não a Pior Mousse de Chocolate (4€). Spoiler alert: a designação foi escolhida apenas por questões de marketing. E não podia funcionar melhor.
Com pedras de sal e muito mais densa do que o habitual, não há dúvidas de que a proposta é diferente. Mas está longe de ser a pior de todas. Aliás, arrisco dizer que está no meu top três de mousses. E se beber um vinho tinto, a harmonização não poderá ser melhor.
Gulosa como sou, não conseguiria ficar apenas por uma sobremesa. Resultado: provei a segunda. Desta vez, um caramelo salgado, com brownie e espuma de amendoim (5 €). Fiquei deliciada com o contraste de sabores e temperaturas. Só mais tarde percebi que deveria comido uma terceira. Se o tivesse feito, teria pedido o já famoso pudim de monges com calda de maracujá (5 €) — é descrito como “uma verdadeira bomba”.
Por provar ficou também o chambão de borrego em forno a lenha (16 €) e o cozido no pão para quatro pessoas (55 €), mas estes só por encomenda. O espaço tem ainda um menu executivos, ao almoço, de segunda a sexta-feira. Custa 12 € e inclui entradas, prato principal, bebida, sobremesa e café.
Do que ouvi dizer, o único ponto negativo é mesmo a casa de banho dos homens. Parece que o teto é desnivelado devido a umas escadas do piso superior, o que faz com que uma pessoa com 1,80 de altura tenha de ficar “tipo corcunda” uns bons minutos. Como calculam, não pude confirmar.
A seguir, carregue na galeria para ficar a conhecer melhor o Genuínu´s, o restaurante em Aveiras de Cima onde o simples e o tradicional se fundem com o moderno e cosmopolita.