Lisboa tornou-se demasiado pequena para a quantidade de portugueses e estrangeiros que querem lá viver. Ao mesmo ritmo frenético, vão surgindo negócios e novos conceitos quase todos os dias para tentar responder às exigências dos clientes. Brunches, espaços instragramáveis e pratos inovadores nascem todos os dias em cada esquina. Porém, há vários cafés e restaurantes que tentam manter-se fiéis à tradição (e aos preços) de antigamente. O Pato Real é um desses casos.
O pequeno tasco abriu em 1970, pelas mãos de um galego. Em 1995, Agostinho Amaral, que já tinha vários restaurantes na Baixa, decidiu alargar a sua experiência para outras zonas da cidade. Aproveitou a oportunidade que viu num café que estava à venda na Avenida de Berna e decidiu criar “um ponto de encontro para amigos e famílias”.
O beirão, natural de Seia, tornou aquela morada num ponto de paragem obrigatória para quem vive, trabalha ou estuda naquela zona. Ou seja, em frente à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas — NOVA FCSH. O sucesso foi imediato: ao fim de poucos dias, dezenas de alunos e professores começaram a juntar-se nas mesas, no balcão ou à porta do Pato Real.
“Este espaço, como o conhecemos hoje, nasceu da vontade do Sr Agostinho de criar um restaurante com uma ligação forte à cozinha portuguesa. Apesar das mudanças em Lisboa, o Pato Real tem-se mantido fiel à sua génese. Temos um toque muito tradicional”, explica à NiT, um dos sócios, Hugo Silva.
Agostinho reformou-se e passou o legado à segunda geração. O filho, José Amaral, já é conhecido como “o Zé do Pato” e quer manter o legado da família. Para isso, decidiu manter os preços que já eram praticados há vários anos na casa. A imperial custa 75 cêntimos, o natão (um bolo popular na casa que tem o dobro do tamanho de um pastel de nata) fica por 95 cêntimos e os menus — com pão, azeitonas, prato do dia, sobremesa e bebida — nunca ultrapassam os 10€.
“Somos um daqueles restaurantes que estão todo o dia aberto, desde as sete às 22 horas, sem parar e sempre com públicos diferentes”, refere o sócio de 36 anos.
De manhã, passam por lá os clientes que gostam de começar o dia com um natão. “Podem estar só de passagem, mas acabam por parar aqui”. E também existem aqueles casos que não passam há mais de 30 anos sem “a torrada e meia de leite do Pato”.
As horas de almoço são especialmente concorridas. “Servimos cerca de 200 pratos do dia. Depois disso, engrenamos para a tarde, onde o espaço se torna convidativo para uma reunião de amigos, para estudantes que acabam as aulas ou para quem trabalha ali perto e quer beber um copo ao final do dia. Mais tarde, passamos para os jantares, em que privilegiámos na mesma os pratos regionais de todo o País”, explica Hugo Silva.
Os menus do dia são enviados através de mensagem por WhatsApp para os clientes mais fiéis. No início da semana, normalmente, servem carne de porco à alentejana (7€) e mão de vaca com grão de bico (6,50€). Às terças, há arroz de marisco à marinheiro (7€) e lagartinhos de porco ibérico (6,50€).
Quarta-feira é dia de rojões à moda da Beira Alta (7€), arroz de pato à Pato Real (6€), petinguinha frita com arroz de ervilhas (6€), bacalhau no forno à Pato Real (6€) e iscas de porco à portuguesa (6,50€). Quem preferir, também pode pedir alheira de Mirandela com ovo (6€) ou um hambúrguer de vitela com ovo (5,50€). Às quintas-feiras chega o pernil assado e pataniscas (5,50€); e à sexta há feijoada (6,50€) e bacalhau à minhota (7€).
As sobremesas também são todas caseiras. “Temos os tradicionais leite-creme, arroz-doce, o pudim e o molotof. Mas há muitos clientes que preferem o natão.”
O preço da sobremesa não terá qualquer impacto na escolha. Todas as opções custam o mesmo: 3,25€.
No final do dia, nesta tasca, só há mesmo uma garantia: “Vamos sempre tentar manter os preços justos e os pratos regionais que cá servimos. Queremos que os nossos clientes continuem a ver-nos como um ponto de encontro de diferentes gerações, a vários momentos do dia.”