Costuma dizer-se que é nos tempos de provação que os grandes se revelam. Foi mais ou menos isso que aconteceu com Mehran Jalali, o jovem de 21 anos que, durante a pandemia, decidiu aperfeiçoar a sua técnica no tratamento de carnes. Os amigos agradeceram e os seus dotes culinários tornaram-se numa espécie de mito entre o grupo de conhecidos. Tanto que, um par de anos mais tarde, decidiram que estava na altura de honrar o dom do jovem que é hoje um fundador de uma startup na área da inteligência artificial.
Decidiram, então, criar um restaurante falso, numa elaborada partida cujo objetivo era servir as carnes de Jalali a mais de uma centena de convidados. Ora, isso parecia uma tarefa difícil: quem é que ficaria tentado por pagar uma centena de euros para provar os cozinhados de um miúdo sem qualquer experiência? Com um pouco de engenho, os amigos fizeram nascer o Mehran’s Steak House, um restaurante que nasceu e cresceu apenas no mundo digital, como uma mera localização no gigantesco Google Maps, recheado de ofertas nas movimentadas ruas de Nova Iorque.
A partida começou a tornar-se mais elaborada. Num site, anunciava-se uma “experiência revolucionária” para os amantes de carne. No final de 2022, a lista de espera contava já com 2600 pessoas, mesmo quando nenhuma delas ouvira sequer falar do chef Mehran.
O grupo de 16 amigos começou então a tratar de tornar o espaço uma realidade, mesmo que fosse abrir apenas por uma única (mas épica) noite. Arranjaram-se todas as licenças municipais necessárias, contratou-se uma equipa de cozinheiros e de empregados de mesa e a partida tornou-se numa realidade.
Um total de 140 pessoas da lista de convidados foram contactados para garantir que poderiam ter direito à sua mesa neste exclusivo restaurante “com 100 anos de história”. E, segundo alguns dos repórteres infiltrados neste lote de convidados, nenhum desconfiou do que se passava, pelo menos até aos momentos bizarros que começaram a marcar a refeição.
Nem mesmo as curiosas fotografias no corredor de entrada alertaram os incautos convidados para o embuste. Alinhadas ao longo do hall, surgiam fotografias — óbvias fotomontagens — do chef Mehran a dar de comer a figuras como Kennedy, Einstein, Marilyn Monroe e uma série de mafiosos dos anos 20.

Para tornar a história centenária do chef mais convincente, foram criados posters dos logótipos e dos anúncios da Mehran’s Steak House ao longo das décadas. Chegou até a anunciar-se um inovador gelado de tutano.
Com os 140 convidados já na mesa, começaram as hostilidades. A dar música estava um conjunto de violinistas que interpretavam versões de temas pop. Na mesa, a ementa, gravada num pedaço de madeira, com descrições propositadamente longas, explicava o menu de degustação que se seguiria. O preço? 108 euros.
“Os dias brilhantes e felizes, as noites frias e implacáveis, calor, neve, seca, tempestade, todas as experiências terrenas sentidas em conjunto. Isto não é comunidade?”, podia ler-se na ementa que falava no “ciclo da vida do bovino” e de “sinergias agrárias”.
Demorou pouco até que as bizarrias começassem a tomar conta da sala, sem nunca caírem no exagero. Pretendia-se criar um mínimo de plausibilidade que travasse os convidados de se levantarem e irem embora. Durante quase todo o jantar, ninguém foi capaz de gritar que o rei ia nu. E assim ficaram, sentados, a acenarem com a cabeça à medida que lhes eram servidos copos de leite como se se tratasse de um grand cru da Borgonha.
“O leite representa o ciclo da vida do bovino. Sentimos que estaríamos a falhar se não incluíssemos [na refeição] um dos produtos derivados”, explicou uma das empregadas. Outro foi mais longe na brincadeira, relata o “New York Post”, ao explicar que o leite provinha de uma vaca do Uganda chamada Philip. “Hmmm, sim, Philip, um nome comum para uma vaca”, notou o chef Mehran, também presente na sala.
A parada de disparates prosseguiu. Do lado de fora do restaurante, ouviu-se uma multidão a gritar pelo rapper Drake. Noutro momento, um homem ajoelhou-se e pediu em casamento a mulher que o acompanhava.
Sem nunca desvendar a farsa, o serviço terminou e muitos dos clientes foram à sua vida, sem perceber que tinham feito parte de uma elaborada partida. Outros, pelo contrário, ficaram tão desgostosos que ameaçaram com um processo em tribunal contra os criadores do restaurante falso.
Outros debatiam a ementa, enquanto alguns confessavam ter percebido que algo estava errado, mas que nunca conseguiram encontrar alguém que confessasse. Mas, no final, a partida terminou com sorrisos.
“Estamos em Nova Iorque, podemos ir comer a qualquer lado. Mas onde é que podemos ir e divertirmo-nos assim? Isto não tem preço”, comentou um dos convidados citado pelo “New York Post”.