Balcão em mármore forrado em madeira, detalhes prateados e lustres de cristal. Eram assim os bares de Milão (em Itália) nos anos 80 e é este o cenário replicado no novo cocktail bar & stuzzicheria da capital.
Corria o ano de 1972 quando, entre luzes quentes e um letreiro néon, um pequeno erro marcou de forma permanente a história dos clássicos de coquetelaria. Mirko Stocchetto, o bartender do Bar Basso (em Milão) errou a receita do tradicional negroni e criou uma nova versão da bebida.
No Liquid Love não se inventou o negroni sbaliato, como aconteceu no ícone milanês, mas criam-se bebidas igualmente originais. Desta vez, produzidas por Cheila Tavares (35 anos) e Semi M’Zoughi (32) e de forma propositada. A inspiração, essa, mantém-se italiana.
“Fomos buscar os tons terracota que se veem em muitos edifícios das principais cidades italianas”, começam por nos contar os fundadores. E não foi por acaso. Semi cresceu em Milão e foi dos bares por onde passou que chegaram as influências para a decoração do espaço no Intendente, em Lisboa.
Ainda assim, a peça chave para quem conhece o espaço do número 5 da Rua do Desterro, é mesmo o balcão de mármore merrazzo, “evocativo da mesa da casa da nonna [nome carinhoso para avó, em italiano], onde historicamente toda a família se junta para partilhar comida, bebida e histórias”, contam à NiT.
E foi precisamente esse aspeto acolhedor que o casal quis dar ao espaço quando, em agosto de 2022, decidiram comprar a unidade onde seria construído o primeiro projeto profissional a dois. Para contar a história de como tudo começou é preciso, contudo, recuar até 2014 — e voar até Londres. Afinal, foi nesta altura que a portuguesa e o italiano se conheceram quando trabalhavam num bar, claro. “A nossa história de amor começou aí, assim como a nossa paixão pelo mundo do bar”, revelam.
A experiência foi ganha entre Londres e Sydney, mas foi em Lisboa — de onde Cheila é natural — onde decidiram dar o passo que consideravam ser o mais natural: abrir um espaço próprio. “Depois de vários anos a viver no ritmo acelerado de Londres tínhamos o desejo de assentar e criar raízes não só num País mais quente com um ritmo mais calmo mas também ter um estilo de vida mais equilibrado. Lisboa é uma cidade com um potencial enorme.” Semi rapidamente se apaixonou pela capital.
Em 2018, aterraram em Portugal e aproveitaram para acumular mais “conhecimentos enriquecedores”. Integraram a equipa da Toca da Raposa, o bar de Constança Cordeiro, e também a do Machimbombo, outro bar de cocktails de autor. “Tivemos a sorte de trabalhar em bares de mixologia moderna e coquetelaria avançada”, revela a responsável. Competências que aproveitam para criar os seus próprios cocktails no Liquid Love (aberto desde 1 de novembro).
Com uma história de amor a dois, recheada pela paixão de ambos por bares e pela hospitalidade, percebe-se, assim, a origem do nome. “Faz todo o sentido. Evoca não só a nossa história como também a paixão que temos por esta área”, asseguram. Daí o ambiente que se sente. “Queríamos que fosse muito caseiro, muito confortável. Queremos que as pessoas se sintam em casa, na nossa casa”, diz. Por isso, optaram por uma atmosfera descontraída. “Tem uma vibe mediterrânea e usamos o nosso background como mote para a criação dos cocktails e dos pratos.”
Aqui são utilizadas técnicas avançadas de extração de sabor para se poderem fazer os cocktails. Além disso, criam-se os seus próprios destilados. Ainda assim, é Cheila quem acrescenta: “Podemos usar as técnicas mais avançadas, mas queremos sempre que o produto final seja uma coisa fácil de beber e que o cliente também entenda aquilo que nós temos.”
E o que têm é uma mistura daquilo que Semi e Cheila são: “o Semi é ítalo-tunisino e eu sou portuguesa com ascendência cabo-verdiana e angolana”. O Night in Tunisia (12€), por exemplo, (tequila com uma infusão de Ras al Hanout, destilado de chilli, lima e xarope de figo da índia), reflete essas origens e é já um dos favoritos.
O I Mille (10€), com a bebida italiana campari bitter, sumo de clementina e grog, uma aguardente cabo-verdiana e o Signora in Giallo (Gin com infusão de curcuma, licor de alperce, manjericão fresco e limão, 11€) também não ficam atrás. Mas nem só de bebidas se faz o Liquid Love.
“Já trabalhámos em diferentes vertentes da indústria, desde cozinha, a sala, bar e finalmente como gerentes, o que nos deu um skill set [conjunto de competências] bastante alargado.” Quiseram com isso criar um espaço que fosse além de um simples bar de cocktails. Além dos clássicos e das bebidas de assinatura, servem cervejas italianas, vinhos naturais e, claro, não podiam faltar os petiscos.
“A comida é muito importante para nós, somos super foodies, adoramos comer e adoramos cozinhar também. Sempre quisemos abrir um bar que refletisse também o amor que temos por boa comida e por cozinhar. Daí o nome stuzzicheria.” Stuzzichini significa ‘pequenos pratos para picar’ em italiano, que são uma das aposta fortes do espaço e, tal como acontece com a carta de líquidos, todos os pratos são da autoria do casal — os únicos, aliás, quem trabalham no Liquid Love.
Pode provar o Panino con la Mortazza, isto é, uma sandes feita com a focaccia caseira, pesto de pistachio, queijo straciatella, granella de pistachio e mortadela de pistachio (8,50€) e as Anchovy Bites (6€), os “indiscutivelmente favoritos” e aqueles que mais refletem a “linguagem do amor” para os dois. Os menus são criados sazonalmente, mas uma coisa é garantida: “todos serão inspirados pelas nossas culturas, memórias e experiências de vida”.
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