Restaurantes

Liz. O novo fine dining do Porto faz-se de memórias de infância e sabores moçambicanos

Abriu no final de setembro e é a primeira aventura a solo do chef Daniel Carvalheira, com passagens por vários espaços com estrelas Michelin.
O chef tem 35 anos.

Na memória, Daniel Carvalheira guarda bem presente os aromas e sabores do caril de gambas da mãe. Recorda a explosão de sabores das especiarias, a cremosidade do leite de coco e o toque especial que só as mães dão aos pratos. Uma combinação que deixava o moçambicano “maravilhado”.

À medida que foi crescendo e aprendendo a cozinhar, foi tentado recriar algumas das receitas da matriarca. Começou com um prato de codorniz e foi alterando pequenos detalhes até chegar à sugestão que o chef apresenta no seu primeiro restaurante, o Liz, aberto a 24 de setembro, no Porto.
Carvalheira cresceu a ver a mãe a cozinhar com recurso a várias influências do país natal, Moçambique, e da fusão com a cozinha asiática. “Jogava muito bem com os agridoces, os picantes e sempre fui habituado a comer muito bem. Com poucos meses mudei-me para os EUA onde os meus pais foram fazer o doutoramento na área de medicina veterinária. Aos 8 anos regressamos à terra natal dos meus avós paternos, em Vila do Conde e por cá ficámos. Mas a cozinha africana sempre esteve muito presente na nossa vida”, conta o chef à NiT.

Antes de se dedicar à cozinha, o cozinheiro de 35 anos trabalhou como gestor de empresas, mas rapidamente percebeu que um emprego que o obrigasse a passar tantas horas sentado, em frente ao computador, não era para si. “Precisava de algo mais ativo e como sempre gostei de cozinha, decidi voltar a estudar, desta vez na Escola de Hotelaria do Porto.”

Assim que concluiu a formação, em 2018, foi estagiar para o restaurante Pedro Lemos. Dali seguiu para a Dinamarca, em 2019, para trabalhar no Noma, um espaço com três estrelas Michelin. Um par de meses mais tarde e com uma “bagagem bastante rica”, regressou a Portugal para trabalhar no The Yeatman, com o chef Ricardo Costa. Dali, em 2021, foi trabalhar com o Chef Vasco Coelho Santos, no Euskalduna Studio.

Alguns dos pratos que servem no Liz.

Ao fim de dois anos a trabalhar no restaurante portuense, percebeu que estava na altura de ir mais longe. “Foram duas épocas consecutivas no Euskalduna. Este tempo na cozinha ensina-nos muito e faz-nos desejar mais. Tinha duas opções, ou mudava para um restaurante onde pudesse aprender ainda mais, ou realizava o sonho de ter um espaço meu. Após alguma pesquisa encontrei um local e atirei-me de cabeça”, revela.

Sempre inspirado pelas memórias e experiências que obteve ao longo da sua carreira e pelos sabores portugueses e moçambicanos que descobriu na infância com ajuda da mãe, construiu passo a passo a carta do Liz. “O meu objetivo era criar uma carta cheia de sabores e uma experiência fine dining a um preço mais acessível do que o habitual e com uma abordagem mais descomplicada”, explica.

Perder qualidade estava fora de questão, por isso, para conseguir chegar a este objetivo, cortou “na quantidade de momentos”. “Normalmente neste tipo de restaurantes, no menu de degustação há 12 pratos, eu decidi servir apenas seis no nosso”, diz.

Daniel descreve o espaço com um “bistronomy”, ou seja, “um pequeno bistro, mas mais gastronómico”. Ali os clientes podem escolher provar o menu de degustação com seis momentos por 65€. Este inclui couvert, snacks e pratos à base de legumes e peixes.

“Nunca temos nada definido porque são alterados com a época e com o que há de mais fresco no mercado.” Quem preferir pode completar a experiência com um pairing de vinho por 35€. As bebidas são escolhidas pelo chef de sala, Luís Marinho, com base na carta feita em conjunto com o proprietário do espaço. “Queria estender o conceito da cozinha para as bebidas, por isso optámos por incluir várias referências nacionais e biológicas, como o Pra Lá (33€), do Douro, produzido pelo Ivo Granja e Daniel Monteiro, o Druida (56€) e o Conciso (34€), do Dão.”

À carta é possível pedir um dos bestsellers das primeiras semanas, como a beterraba (13€) com queijo cabra e cominhos, ou a gamba com caril (16€), a receita da infância de Daniel. Isto no campo das entradas.

No que toca aos três pratos principais, o chef destaca o atum (28€) com espinafres e dashi. No final, fica o conselho para provar o sablé e figo (8€), que ficará por pouco tempo no menu “dada a sazonalidade do fruto”. “Em breve vou começar a testar o dióspiro e espero que corra tão bem como esta sobremesa”, salienta. Os fãs de chocolate têm a opção de petit gateau de chocolate branco (9€), que acompanha com gelado de vinagre. “É uma das brincadeiras com agri e doce”, explica.

Quis o destino que Daniel Carvalheira inaugurasse o Liz na mesma altura em que nascia a sua filha, Maria Liz. Como se trata de um espaço tão especial e familiar para o cozinheiro, decidiu homenagear a bebé dando o seu nome ao restaurante. O espaço tem capacidade apenas para 18 pessoas, por isso, convém sempre reservar.

O espaço tem capacidade para 20 pessoas.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. de Mota Pinto 170
    4100-452  Porto
  • HORÁRIO
  • Terça a sábado das 19h às 22h
PREÇO MÉDIO
Entre 30€ e 50€
TIPO DE COMIDA
Moçambique, Portuguesa

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