Toalha de papel na mesa, toldo com publicidade a café e doses generosas a preços simpáticos. São estes os sinais de que estamos numa típica tasca portuguesa — e o Maravilha de São Bento é um desses sítios onde se come bem, sem complicações. A proximidade à Assembleia faz com que a clientela se componha de uma mistura de deputados e também de trabalhadores da construção civil. Mais democrático, era impossível.
Situado em São Bento, em Lisboa, o espaço é gerido há 15 anos por Mário Coelho e Glória Teixeira. Ele era funcionário da junta de freguesia de Santo António e cuidava do jardim do Príncipe Real quando se cruzou com um antigo restaurante à venda. Convidou a mulher, cozinheira noutra casa, para embarcarem num novo projeto. “Quando aqui entrámos estava tudo destruído. O espaço estava fechado há tanto tempo, que era só ruínas”, recorda Mário. Apesar do cenário, o negócio compensava e avançaram com a ideia de servir pratos tradicionais a preços acessíveis.
Glória, natural do norte, levou consigo receitas que aprendeu com a mãe e a avó. Bacalhau à minhota, peixe à lagareiro, feijoada ou mão de vaca são apenas algumas das sugestões que se mantêm até hoje. Desde a abertura que o movimento nunca parou.
Mário é o responsável pela gestão e pelo atendimento. Gosta de fazer piadas e conversar com os clientes, sejam portugueses ou estrangeiros. E nem a língua é impedimento. À NiT recorda a história com uns turistas americanos, que escolheram o Maravilha de São Bento para almoçar. “Eu não entendo nada de inglês. Eles não percebiam também nada de português. Falámos por gestos, rimos e o que é certo é que tudo o que pediram chegou à mesa e adoraram a experiência”, conta. Semanas mais tarde, o dono do espaço, soube que os tais clientes eram jornalistas e escreveram um artigo sobre o restaurante. “Contaram que ficaram satisfeitos com a comida e que o único defeito era mesmo eu não saber a língua.”
Ao contrário de outros locais da cidade, os turistas ali ainda estão em minoria. “Vem cá todo o tipo de gente, desde deputados, a jornalistas e banqueiros, ou malta que trabalha aqui na zona e são todos tratados de forma igual”, admite. Sobre a vida política, admite que é um dos assuntos do dia, mas “com respeito”. “Vêm cá muito políticos, de todos os partidos e acabam todos por falar.”
António Costa e Pedro Nuno Santos nunca apareceram por lá. “O Montenegro? Acha que esse cá vinha?”, brinca.

Ainda assim, o restaurante ganhou fama como “o restaurante dos políticos”. Algumas das presenças assíduas são Alfredo Maia (PCP), Rita Matias (Chega) e Rosário Gamboa (PS). No entanto, é raro entrar no Maravilha e não ver uma cara conhecida da esfera política. Mário acredita que é porque sabem que ali “é bom e barato” e não fazem exigências. “Pedem o prato do dia e comem de tudo. Mas ficam mais felizes quando sabem que há bochecha de porco estufada.”
Esta terça-feira, 13 de maio, o menu incluía vitela estufada, lulas e bacalhau à minhota. Mas pode encontrar arroz de marisco, espetadas de porco preto ou vitela. Tudo depende do que Glória encontrar no mercado. O menu completo, com pão, azeitonas, prato e bebida, custa um máximo de 10€ — e inclui um jarro de vinho de meio litro.
As sobremesas ficam a cargo de Lia, funcionária desde a abertura da casa. “A Lia vivia em condição de sem-abrigo aqui no bairro e eu falava muitas vezes com ela. Quando abrimos o restaurante decidi dar-lhe uma oportunidade e contratá-la e descobrimos que tinha uma ótima mão para as sobremesas.” Todos os dias faz arroz-doce, mousse de chocolate, maçã assada e pudim. Custam todas 3,50€.
O restaurante só abre ao almoço, mas em breve poderá voltar ao horário noturno. “Tivemos uma neta há pouco tempo e tivemos de começar a fechar ao jantar. Agora estamos à procura de uma cozinheira para substituir a Glória no turno da noite”, explica Mário.
O Maravilha de São Bento tem capacidade para 60 pessoas e recebe pessoas sem reserva, no entanto, pode ter que aguardar uns minutos para se poder sentar — sobretudo nos dias em que o Parlamento está repleto de jornalistas.