Seis anos. Foi esse o tempo necessário para passar de um edifício vazio ao que hoje é o Matriarca, casa que se ramifica em cinco espaços distintos: loja de vinhos, wine bar, restaurante, bar de cocktails e uma academia. O projeto, com assinatura da Symington, produtora de vinhos com foco na região do Douro, é também uma homenagem à matriarca da família.
“Já tínhamos esta ideia há muito tempo. O edifício foi comprado em 2019, mas depois não deu para avançar imediatamente”, revela Vicky Symington, ligada ao projeto e membro da quinta geração da família ligada aos vinhos do Porto. O edifício, na Praça Carlos Alberto, no Porto, chegou a ser casa do pintor Júlio Resende, que morreu em 2011. Hoje, a arte que ali se vive é outra — e cabe dentro de uma garrafa.
Com grande parte das instalações da família do lado de Gaia, coração das caves do vinho do Porto, o salto para a outra margem tornou-se num passo “óbvio”. “Do outro lado há uma faceta mais educativa, onde turistas fazem provas, é tudo muito técnico. Queríamos fazer algo diferente, que mostrasse às pessoas como é que o vinho e o vinho do Porto encaixa nas nossas vidas”, nota. “Só 20 por cento das pessoas que visitam ao Porto vão até Gaia. E naturalmente que queremos também interagir com os locais”, diz.
Apesar, de sob o seu telhado, a Symington ter inúmeras referências de várias regiões — da parceria com Anselmo Mendes em Monção e Melgaço, aos inúmeros projetos no Douro, passando pela Quinta da Fonte Souto em Portalegre –, a garrafeira do Matriarca abre-se ao resto do País e ao mundo, para dar a conhecer outros estilos, géneros e regiões. Isto apesar de a loja de vinhos no rés-do-chão, estar circunscrita aos vinhos do seu portefólio.
Não é o caso no wine bar, logo ao lado, que marca o arranque do projeto. “Queremos que seja um sítio para amantes de vinho, para quem gosta de experimentar coisas às quais não tem acesso todos os dias. Por isso optamos por ter, no wine bar e no restaurante, vinhos de Portugal que não são nossos, mas também de outros países.”
Em tons leves, entre texturas de madeiras e um look rústico mas não datado, o bar (e todo o projeto de interiores) ficou na mão do estúdio Thurstan, de James Thurstan Waterworth, antigo diretor de design europeu da Soho House. O ambiente acolhedor e informal dá lugar, no piso imediatamente acima, à The Dining Room, o restaurante já com um rasgo clássico e requintado.
“Cada espaço tem uma identidade ligeiramente diferente e isso permite criar uma espécie de jornada para quem vai percorrendo o edifício”, explica Vicky Symington. É neste salão de casa senhorial que se servem os pratos do chef portuense Pedro Lencastre Monteiro, numa escolha que reflete “a dualidade da matriarca”, o lado português e o lado britânico. Sem serviço à la carte, o restaurante serve dois menus. O primeiro tem apenas entrada e prato principal e custa 50€. O segundo, mais completo, inclui sobremesa, por 60€.
A refeição pode começar com creme de sapateira, scones e creme frâiche ou um tártaro de novilho com caviar e enguia fumada. Nos pratos principais há pregado com molho champagne, arroz de amêijoa com espargos brancos ou bife wellington com queijo de couve-flor. Por fim, crepes soufflé com laranja do Douro, paris-brest de avelã e chocolate ou um baked alaska de ruibarbo.
“Procuramos oferecer o melhor de cada faceta. Temos algumas receitas inglesas com os melhores produtos nacionais, caso do beef Wellington, que tem um ligeiro twist para representar Portugal”, nota a responsável. Mas como nesta casa, o vinho está sempre em lugar de destaque, estão a ser pensadas sugestões de pairing que possam acompanhar estes menus. E em caso de dúvida, há sempre um sommelier à mão para personalizar a escolha do vinho, a copo ou à garrafa.
Com três dos cinco espaços já em funcionamento, resta inaugurar as salas do topo. Desde logo, o The Attic Bar, que pretende virar-se para uma nova forma de provar o vinho do Porto, sobretudo através de combinações criativas em cocktails – um conceito que será realizado em parceria com os mixologistas do bar portuense Torto. Para lá dos inevitáveis clássicos, haverá cocktails de assinatura que “vão mostrar a versatilidade do vinho do Porto”. “É algo que já temos explorados em alguns dos nossos produtos”, confirma Vicky.
Fica então completo o circuito que tem como objetivo começar ao fim da tarde e prolongar-se até ao final da noite, sempre em espaços diferentes. Uma sessão de aperitivos e petiscos no Wine Bar, seguido de um jantar no The Dining Room, com a noite a terminar entre cocktails no sótão.
Haverá ainda espaço para uma Wine Academy, “mais focado na vertente educacional” mas ainda assim atenta “a atividades mais criativas”. Receberá cursos e master classes sobre vinhos, palestras de produtores e um lado mais artístico que pode até “envolver pintura com vinho”.
Estes dois últimos espaços ainda não abriram as portas, com inauguração prevista para setembro.
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