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Nesta adega “debaixo de um penedo” há vinho caseiro e bolo com sardinha a acompanhar

Começou como taberna, há mais de 40 anos, em pleno Parque da Penha, em Guimarães. Só há um problema: as filas são sempre longas.
Come-se à sombra do penedo.

Num passado já longínquo, a serra da Penha, em Guimarães, era um refúgio de eleição para aqueles que desejavam viver afastados do agito da sociedade. Os ermitas, que se instalavam em casas construídas nas cavidades das rochas cercadas pela vegetação, mantinham-se isolados do mundo exterior. A sua presença deixou marcas que perduram até hoje. Aliás, um dos antigos lares destes eremitas deu lugar a um dos tascos mais peculiares que existem no nosso País.

A Adega do Ermitão, situada sob uma imponente rocha, surgiu há cerca de 40 anos, quando Armindo Dias Monteiro ergueu uma adega para armazenar o vinho que produzia. A sombra da pedra tornava o espaço ideal para conservar a bebida. Às tantas, os poucos que por ali passavam começaram a pedir que lhes servisse vinho. Domingos, sempre cordial, logo se apercebeu de que deveria também oferecer os bolinhos de bacalhau que trazia consigo. A combinação agradou, os visitantes tornaram-se mais regulares e o passa-palavra fez o resto. Assim, foi um pequeno passo até que a adega se transformasse numa tasca.

Com o tempo, o negócio cresceu, resultando na construção de um anexo onde passaram a servir um dos petiscos mais apreciados da região: o bolo com sardinha. “O aspeto é semelhante ao de uma panqueca, mas o sabor aproxima-se do da broa de milho”, esclarece Sandra Silva, neta do fundador e subgerente do espaço.

Hoje, a Adega do Ermitão é gerida por uma segunda e terceira geração da família Monteiro, mantendo a sua essência e as receitas dos pratos tradicionais. A vimaranense de 37 anos faz parte do clã que continua a dirigir o restaurante. “O meu tio, Fernando Leite Monteiro, é atualmente o responsável. Esforçamo-nos por manter o negócio familiar, portanto, todos colaboram, incluindo irmãos, sobrinhos, filhos e neto”, revela.

Sandra cresceu na Penha, onde os meses de verão eram passados a brincar com os miúdos da região, enquanto os pais trabalhavam na adega. Só reaparecia à noite, quando eram “horas de ir para casa”. Embora esses tempos tenham ficado para trás, as boas recordações da infância levaram-na a abandonar a área do design de calçado para ajudar no negócio da família.

Ao longo dos anos, a carta pouco mudou. Há sardinhas (40 cêntimos cada), o famoso bolo que parece uma panqueca a acompanhar (1€), o de carne (3€), chouriço (3€) e a versão especial da casa, o Emirtão (3€), com queijo, fiambre, bacon e chourição. Como entrada, há ainda opções como moelas (2€), punheta de bacalhau (5€), bolinhos de bacalhau (1€), rissóis de carne (1€) e cebola com sal (1€), um “pitéu típico das tabernas”.

Quem preferir algo mais composto pode pedir bacalhau assado (15€) ou frango assado (4,50€). Antes da sobremesa, é servido caldo verde (2€), e, se ainda houver apetite, o doce da casa (2€) a finalizar.

Os pratos são todos preparados pela família. “Todos conhecemos as receitas, portanto, quem estiver responsável pela cozinha naquele dia é quem faz. O que é certo é que é tudo feito na hora, consoante os pedidos dos clientes. É tudo fresco, feito com produtos regionais”, sublinha Sandra. Diariamente, servem cerca de 300 bolos, cozinhados no momento para “saírem quentes e estaladiços”. Para “ajudar a empurrar” continuam a oferecer vinho verde caseiro, mas há “vinho maduro, cerveja e sumos”.

O espaço conta apenas com 10 mesas de madeira, adjacentes à adega, onde foi criada uma janela para facilitar a entrega dos pedidos. Contudo, a dimensão modesta não assusta os clientes, assegura Sandra: “Quando não há lugares, sentam-se nos penedos, nas mesas de pedra mais abaixo, em qualquer canto disponível”. 

Uma coisa é certa: quer consiga lugar mais abaixo ou mais acima, terá sempre uma vista panorâmica sobre as paisagens únicas do Parque da Penha, conhecido pelos seus penedos em granito, ermidas, fontes e cursos de água.

O único senão? A adega não é a melhor opção para os mais impacientes — “é preciso trazer vontade para esperar”, frisa Sandra. Ao fim de semana, o tempo de espera na longa fila pode chegar a uma hora e meia. O espaço abre às 12h30, mas por volta das 11h30 já começam a chegar clientes para se colocar na fila.

Carregue na galeria para ver mais imagens da Adega do Ermitão, em Guimarães.

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