Não é só um restaurante, nem apenas uma mercearia. Não se dedica a 100 por cento a workshops, nem é um vulgo espaço de exposições. O Folha Bistrô é tudo isto — e ainda mais alguma coisa. Uma espécie de tudo em um, como se costuma dizer. Neste caso, tudo no número 17 da Rua das Farinhas.
Está confuso? Nós explicamos. Ou melhor, Marcella Caetano esclarece. Afinal, ninguém melhor do que a própria fundadora do projeto para fazê-lo. “Não, não é uma lojinha de produtos naturais e medicinais. Se bem que é quase. O que pode ser melhor para a pele e para a saúde do que boa comida?”, deixa a pergunta.
O Folha fica dentro do hotel boutique Pateo, na capital. Mas para lá entrar não precisa de ser hóspede. Aliás, a maioria dos visitantes que já o fazem nem o são. E é aqui mesmo que encontram a calma perto da agitação. É que na mesma rua existem outros restaurantes e tascas — espaços que Marcella até considera muito fixes — “mas que são muito barulhentos”. “Além da decoração, as pessoas gostam muito deste ambiente calmo”, confessa.
É um espaço onde os clientes se sentem em casa. Mais concretamente numa casa algo sofisticada e com pormenores que foram pensados ao detalhe. No fundo, tudo tem uma história. O sofá amarelo foi ali colocado para dar cor às paredes em “tom de azul fechado”, tal como o candeeiro laranja. Já o tapete, por exemplo, foi feito à mão pelo hub criativo “A avó veio trabalhar” (constituído por mulheres de mais de 65 anos). Quanto às chávenas, essas chegam da Reshape Ceramics, um projeto onde as peças são feitas por pessoas que estão ou já estiveram presas.
O ambiente é descontraído, os móveis únicos e os sabores inconfundíveis. Tal como no próprio lar, aqui come-se qualquer coisa, a qualquer hora. Basta passar a porta, escolher um dos 24 lugares, ler a carta — “não é um menu extenso, só tem uma página” — e escolher. Pode, inclusive, optar por almoçar ou lanchar alguma das propostas de pequeno-almoço. “Há uma granola caseira maravilhosa”, nota a empreendedora.
Uma coisa é certa: todas elas saem da cozinha aberta, também decorada ao gosto de Marcella. “Fiz questão de fazê-lo. Não sei porque é que gostam de construir cozinhas tão feias, parecem hospitais. E como passo tantas horas por dia aqui, fazia todo o sentido torná-la num espaço assim”.
Sobre as propostas, ainda que não o sejam a 100 por cento, a maioria é vegetariana. A proteína animal está presente em apenas dois pratos: a perdiz confitada com quinoa e legumes, e a cavala de conserva que é servida como entrada.
Há várias sugestões para partilhar, uma tábua de queijos veganos “bem especiais”, dois pratos de cogumelos e várias tostas. Todas prontas a sair, já que são montadas com ingredientes que já estão preparados. “Tenho coisas fermentadas, em picles e em conserva”.
E, se para Marcella, — que não é vegetariana estrita, mas que está habituada a este tipo de pratos — todas as propostas são descomplicadas, para os visitantes já não é bem assim. “Acham as combinações de ingredientes surpreendentes. É a palavra que usam mais”, diz-nos a fundadora.
Nos sabores subtis, o das ervas está bem presente. Antes de abrir este negócio, Marcella era já herbalista e conta-nos que está a tentar introduzir a moda das infusões. A carta, porém, é sazonal. Daqui a duas ou três semanas será alterada, para adaptar aos legumes da época. Sim, porque entre ter trabalhado sete anos num restaurante em Espanha e ter passado quatro anos nos mercados portugueses, a brasileira acrescentou a função de agricultora ao seu currículo.
São agora os produtos dos seus companheiros de mercado que estão à venda na micromercearia do Folha. “Apesar de a comida ser muito internacional, os ingredientes são todos portugueses e chegam de pequenos produtores locais”.
Além dos queijos vegans da marca Muka, que são também aqui vendidos, pode encontrar neste cantinho mel, chás, café, compota, azeite e piri-piri. Muitos destes produtos são feitos por mulheres, como é o caso das cervejas artesanais. Os itens para cuidado de pele de marca própria fazem parte do leque.
Apesar de hoje considerar o Folha quase como um filho, Marcella revela-nos que nos seus planos nunca esteve criar um restaurante. O acaso, contudo, surgiu e decidiu então aproveitar a oportunidade. “A minha mãe vive aqui perto e conhece o dono do Pateo. Foi ele quem lhe disse que estava à procura de alguém para recuperar este espaço vazio.”
Em três meses, montou a cozinha, decorou as divisões e criou a ementa. Muito antes, porém, já sabia como se iria chamar. “Escolhi o nome quando tinha 22 anos, ainda sem ter um negócio. Quando formei a marca de cosmética assim o chamei. E agora só fazia sentido continuar com ele. Afinal, o conceito medicinal continua a ser o mesmo”, remata.
Carregue na galeria para conhecer melhor o novo Folha Bistrô que também acolhe workshops e exposições.