“A vista sobre o Porto é o que Vila Nova de Gaia tem de melhor”. A frase é dos portuenses, que não perdem uma oportunidade de provocar os amigos da cidade vizinha. Todos sabemos que isso não é verdade, mas há um facto indesmentível: a paisagem proporcionada pelas casas encavalitadas, das margens do Douro até à Torre dos Clérigos, é impressionante. E há um restaurante que a completa.
Na Casa d´Oro, à beira-rio e na sombra da ponte da Arrábida, pode-se dizer o contrário. O cenário não é para o Porto, mas para a outra margem. O espaço impressiona tanto pela comida como pela vista: Gaia, com os seus bairros antigos e caves de vinho do Porto.
Mais do que um restaurante de comida italiana, é a reencarnação de uma verdadeira fantasia. Imagine a combinação entre um bom restaurante, um belo cenário e estão criadas as condições para o nascimento de um fetish place para qualquer foodie. A arquitetura industrial, com assinatura de Edgar Cardoso, esconde não um, mas dois espaços distintos que se complementam: o ristorante e a pizzaria. Em qualquer um deles, o rio é o protagonista.
Quer estejamos no primeiro ou no segundo andar, a sensação é de que o Douro entra pelas janelas de vidro. Na esplanada do terceiro piso, então, não há palavras que descrevam a sensação de experimentar os autênticos sabores da cozinha italiana, acompanhados com um bom copo de vinho, sob o olhar atento da cidade.
Neste lugar, a pizza (dos 8,50€ aos 16€) é, desde 14 de abril de 2005, o grande destaque. É preparada de maneira tradicional num forno. As massas (dos 5€ aos 18€) são todas feitas de origem na cozinha e, se isso não for suficiente, talvez a ideia de um suculento pedaço de carne (dos 14€ aos 18,50€) lhe faça crescer água na boca. A história de como tudo começou, porém, é muito mais antiga.
A Casa d’Oro, restaurante da italiana Maria Paola Porru (77 anos), proprietária do Casanostra e do Casanova em Lisboa, fica instalado no edifício conhecido por Casa dos Engenheiros. “Este espaço já existia antes, e era assim conhecido porque era aqui que os engenheiros da ponte da Arrábida monitorizavam os trabalhos que estavam a ser lá feitos”, começa por contar à NiT Fernando Martins, administrador da Casa d´Oro e representante da proprietária.
Maria Paola chegou até aqui através de uns amigos que queriam que ela abrisse um espaço na cidade. A Casa d’Oro reúne, então, os conceitos das duas casas da capital. Se na sala do restaurante se sentem as influências do Casanostra, aberto no Bairro Alto há 36 anos, na pizzaria as sugestões chegam da Casanova, a funcionar em Santa Apolónia há 23 anos.
O ambiente do primeiro é mais formal em relação ao da pizzaria, que é mais descontraído, mas nos dois a decoração é contemporânea, sóbria e em tons neutros. Mas é pelo terraço que muitos chegam. Esta casa de comida até nem precisaria de qualquer tipo de incentivo aos paladares aromatizados a manjericão aqui servidos, mas a sua localização é, de facto, um grande ponto a favor.
Se ficar indeciso sobre onde se sentar, pode sempre ponderar um pouco no sofá de metal do hall, onde o cinza das paredes contrasta com a luminosidade refletida pelo rio. A decoração desta sala, à semelhança das restantes, é da responsabilidade de Miguel Tomé, que criou um espaço mais intimista e romântico — onde nem falta a lareira — para o restaurante (com capacidade para 56 clientes), e outro mais descontraído para a pizzaria, com mesas corridas, estilo cantina, que dão para sentar 100 pessoas.
Em ambos uma coisa é certa: os pratos chegam de várias regiões italianas e são todos preparados com “produtos escolhidos para fidelizar aquilo que é a cozinha de Itália”. É o próprio administrador quem nos confessa que nem o sal utilizado na pizza é português. “O nacional tem muita humidade. Usamos um muito mais seco, que não é marinho, mas sim de mina da Sicília.”
Fernando Martins garante-nos que o carpaccio, “um filet mignon cortado fino, temperado com azeite, sal, pimenta, limão e aipo, servido agora em tantos restaurantes do País”, só é hoje o que é porque Maria Paola assim o quis.
“A ideia foi dela. No início do Casanostra, o prato não era conhecido, e foi ela quem o trouxe para Portugal. Aliás, toda a gastronomia era ainda muito pouco comum.” Para conseguir representar então a cozinha italiana, a fundadora vinha de Itália, muitas vezes, com sacos cheios de produtos.
Hoje, a Casa d´Oro continua a seguir esta essência — seja através da “comida fielmente replicada”, ou dos vinhos escolhidos especialmente por Fernando Martins, segundo os gostos que a proprietária lhe transmitiu.
Carregue na galeria para conhecer algumas das sugestões do restaurante que tem a melhor vista do Porto.