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No restaurante mais caro do mundo, comer caranguejo no chão custa 2 mil euros

O Ginza Kitafuku tem o menu de degustação mais caro do ecossistema Michelin. O protagonista do menu é uma espécie que até a realeza idolatra.
O espaço já abriu há 12 anos e tem uma estrela Michelin.

Tirar os sapatos, sentar-se numa almofada no chão e atirar-se a um caranguejo por descascar. O preço da experiência? Quase dois mil euros. A proposta parece inusitada, mas é bem real e pode ser vivida no Ginza Kitafuku, situado em Tóquio, no Japão, local especializado no crustáceo favorito da família real japonesa — e desde esta semana, o restaurante com estrela Michelin mais caro do mundo.

O local ficou em primeiro lugar da lista da revista gastronómica “Chef’s Pencil”, que analisou mais de 3.500 restaurantes com estrela Michelin para chegar a uma enumeração dos que têm o menu de degustação mais caro. Jantar neste espaço custa cerca de dois mil euros — 1.960€ se quisermos ser mais precisos.

Kitafuku ou “restaurante do caranguejo” como ficou conhecido, abriu há 12 anos e desde então que tem feito parte do guia Michelin. Já foi um restaurante recomendado, depois subiu para o patamar estrelado, com uma estrela. A distinção foi renovada este ano pelo famoso livro vermelho.

Antes de chegar à mesa há regras a cumprir: os sapatos são para serem deixados à entrada e na hora de se sentar numa das três salas do restaurante, o chão será o local indicado. Seguem-se à risca as regras da cultura japonesa e não se admitem faltas de respeito.

Quem se sentir desconfortável com a falta de cadeiras, pode sempre reservar uma das três salas privadas que tem uma mesa em madeira e bancos corridos. A única condição é que vá acompanhado por mais cinco pessoas.

Depois começa o espetáculo: há um chef para cada uma das três salas, que cozinham de forma teatral o caranguejo Echizen “Kiwami”, ou caranguejo das neves, em frente dos clientes. Os clientes escolhem na hora como é que preferem que o crustáceo seja servido — pode ser cru, cozido ou grelhado. Independente do método, a frescura de cada prato do menu de degustação é apresentada de formas diferentes para que todos os sentidos sejam envolvidos.

Os caranguejos estão vivos.

O caranguejo Echizen é um tipo de caranguejo da neve que é capturado exclusivamente na costa de Echizen, uma região no estado de Fukui, a norte de Kyoto. Este caranguejo é altamente valorizado pela carne doce e macia — e nem a família real japonesa lhe resiste.

Para ser comercializado como Kiwami tem de cumprir determinados requisitos: ter mais de 1,5 quilos, a carapaça com uma largura superior a 14 centímetros e garras mais largas que três centímetros e apenas um reduzido número de crustáceos consegue passar pela criteriosa curadoria dos pescadores. Em 2021, por exemplo, apenas 67 caranguejos da neve ou 0,04 por cento da captura total, foram certificados como caranguejos Kiwami.

Este animal é tão raro e valorizado no Japão que teve direito a um museu próprio em Yokoshima. O espaço foi pensado em homenagem ao crustáceo e instalado em frente ao Canal Kamishima, que é um local de reprodução de caranguejos-ferradura. No outro espaço onde só há lugar para esta proteína, os clientes conseguem vê-los ainda vivos e depois a serem abatidos, com um martelo, segundos antes de irem diretos para a grelha ou para a panela.

É tudo feito na hora e em frente aos clientes.

O espetáculo repete-se para os pratos seguintes do menu, servido no espaço. Para pairing, o espaço sugere uma harmonização com um saqué especial e sazonal, que tem o custo de 50€ por pessoa.

Além do caranguejo, o restaurante é conhecido pelos pratos exclusivos, como uni (ouriço-do-mar), junsai (alga do mar), Kesennuma (um tipo de ostra), Tobu Hamanako (uma espécie de peixe-branco), tennen unagi (enguia selvagem) e taraba e kegani koshi hoshi (caranguejo da neve grelhado e caranguejo de crina de cavalo envoltos num pano). Se não conseguir terminar os pratos todos, podem pedir para levar para casa, com arroz a acompanhar, sem pagar mais por isso.

Na lista da publicação surge, em segundo lugar do mais caro, e a quase metade do preço, o Ultraviolet by Paul Pairet. O restaurante com três estrelas Michelin fica em Xangai e oferece uma experiência imersiva e teatral por 1.130€.

Nova Iorque aparece em terceiro lugar com o menu degustação mais caro dos Estados Unidos, premiado pelo Guia Michelin, com a proposta do Caviar Russe, na Madison Ave. Quem quiser fazer o Tour do Caviar Russe pagará cerca de 850€ por 11 pratos com foco no caviar, a que a Forbes chamou de “odisseia exagerada”.

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