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Restaurantes

No novo restaurante de Tavira come-se a tradição algarvia com um toque moderno

Mesa Farta é o projeto de João Viegas, chef local que correu os melhores restaurantes do mundo – e voltou a casa para servir os produtos da terra.

Tavirense de gema, João Viegas correu o mundo, do Reino Unido ao Peru, apenas para acabar a abrir o seu primeiro restaurante e projeto a solo a poucos metros do local onde cresceu. É ali que encontra as raizes e a força motriz que o levou a apostar na hotelaria e na restauração e, eventualmente, no Mesa Farta, a nova casa na localidade algarvia onde o chef prefere apostar nos sabores locais e menos na técnica elaborada que afinou durante quase 20 anos.

“Nasci nisto. Os meus pais tinham um turismo rural, uma quinta que era dos meus avós e que foi sendo remodelada pelo meu pai”, recorda o chef de 37 anos. “Cresci nesse ambiente e ganhei-lhe o gosto.”

Com 17 anos, lançou-se num curso de cozinha e pastelaria. Seguiram-se vários estágios pelo Algarve – arrancou precisamente no A Ver Tavira, hoje espaço com estrela Michelin – e saltou para o mundo.

Entre trabalhos mais fixos, acumulou estágios em alguns dos melhores restaurantes do mundo, do Central, no Peru, ao El Celler de Can Roca e Mugaritz, em Espanha. A dedicação rapidamente deu frutos: em 2015 venceu o concurso Chefe Cozinheiro do Ano, que já premiou nomes como Henrique Sá Pessoa ou João Rodrigues.

Assume a “alta cozinha” como a sua “grande paixão”, mas confessa que não é isso que pretende no seu Mesa Farta, aberto desde dezembro, mas que agora se prepara para a grande azáfama do verão. “Na alta cozinha acabávamos por ter o produto, as referências regionais e depois fazíamos grandes alterações visuais. Mas o ponto de partida era sempre o receituário típico? Era isto ao fim e ao cabo que fazia com os chefs com quem trabalhei”, recorda.

“Esse é o caminho a que quero chegar, mas aqui no Mesa Farta quis fugir ao fine dining. Quero algo mais descontraído, sempre focado no produto e no sabor, mas a preços acessíveis.”

A ideia do Mesa Farta começou a compor-se em 2019, então em formato de jantares e almoços privados que João Viegas organizava nos tempos livres. “Cheguei a fazer um almoço no armazém das salinas do Salmarim”, recorda. “Eventualmente percebi que abrir um espaço seria uma aventura que queria ter.”

Encontrou o espaço ideal por “uma enorme coincidência”, precisamente a poucas centenas de metros da quinta onde cresceu, numa zona menos turística de Tavira. “Não é um sítio onde seja normal haver restaurantes, que estão mais centralizados no rio. Mas acho que tem enorme potencial”, explica.

O proprietário do edifício onde hoje está instalado o Mesa Farta convidou-o para ser chef de um restaurante, que demorou a sair do papel. Essa demora redundou na desistência e João percebeu que podia ser a oportunidade certa para concretizar o sonho.

“Deixaram aquilo na minha mão e acabámos a remodelar tudo de alto a baixo”, conta. A renovação deu origem a uma decoração que procura exibir “os traços de uma casa rural algarvia” com “elegância” e muita arte local, dos ladrilhos às cerâmicas.

Às mesas, chegam sabores familiares, aromas e receitas locais, que brilham sobretudo nos pratos de partilha para duas pessoas. Caso da massinha de peixe à algarvia (40,5€) com coentros, limão e o peixe fresco do dia, ou o arroz de polvo (40,5€) com malagueta e ova de polvo braseada. Mas pode também provar o arroz de pato à antiga (42€) feito com fumeiro local. “São pratos rústicos, portugueses, que acho que fazem todo o sentido”, sublinha.

E porque esta é uma carta de verão, não faltam as opções “mais frescas”, como o favorito do chef, o gaspacho (9,9€) com melancia e morango fermentado, que faz companhia nas entradas a sugestões como pataniscas de biqueirão e pimento assado (10€), cavala braseada com pepino e amêndoa (12€) ou ostras da Ria Formosa (12,5€) com iogurte e lima.

 

A ementa prossegue com pratos como cachaço de porco ibérico de um produtor local (22,5€), salicórnia à Brás (18,5€) ou xerém de tomate assado com tofu e agrião (19,5€). A refeição termina com nada mais nada menos do que citrinos do Algarve com chá verde dos Açores (7€) ou algo mais pecaminoso como a mousse de chocolate com amendoim do Rogil (8,5€) ou um arroz doce com gelado de fava tonka e merengue queimado (7€).

E porque o conceito de partilha, de conversa e de mesa farta pede um bom vinho, João Viegas quis montar pela sua própria mão uma garrafeira nem demasiado pequena, nem demasiado extensa, com referências menos óbvias, mas sem ficar circunscrito à região algarvia.

“É algo que faz sentido neste projeto: bons vinhos de qualidade, que se enquadrem na nossa gastronomia, mas cujo preço também faça sentido.”

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rua de Santo Estevão, 2
    8800-386 Tavira
  • HORÁRIO
  • Terça a sábado, das 19h às 22h
PREÇO MÉDIO
Mais de 50€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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