Restaurantes

O advogado indígena que criou o restaurante com a maior carta vegan no norte do País

Thiago cresceu numa tribo no Brasil, mas sempre sonhou tornar-se um chef com estrela Michelin. Em Portugal abriu o Atlantic.
Passou pelo mundo, mas o Atlântico fê-lo ficar em Portugal.

Mandioca ralada, coco igualmente moído, e uns quantos ingredientes secretos — nos quais não estão incluídos fermentos ou qualquer tipo de químicos, claro. É tudo junto, enrolado numa folha de bananeira, e enterrado no chão por baixo de uma fogueira. Era assim que Thiago Macedo Sampaio, de 36 anos, preparava o seu bolo de mandioca na tribo indígena onde nasceu e cresceu. Hoje, porém, diz ter aprimorado a receita (que está há mais de 100 anos na família) com técnicas da cozinha francesa que entretanto aprendeu.

O chef Guinho Porto (forma como é conhecido entre os amigos) chegou a Portugal há sete anos. Antes, passou já por vários países. Os destinos iam mudando, mas o objetivo sempre foi um: “Queria ser um chef de cozinha reconhecido e, até quem sabe, um dia ganhar uma estrela Michelin.”  Natural do sertão nordestino brasileiro, na Bahia, saiu de casa há quase 20 anos e conheceu quatro continentes.

No Brasil tornou-se advogado, chegou a ter o seu próprio escritório de advocacia e defendia a comunidade indígena. O seu sonho, porém, era outro: cozinhar. Filho de mãe indígena brasileira e de pai português, decidiu partir para a Europa à descoberta da “outra metade” das suas origens.

Depois de passar pelas cozinhas de restaurantes em hotéis no Luxemburgo, na China e no Egito, chegou finalmente a Portugal. E foi mesmo aqui que abriu agora o seu primeiro negócio, o Atlantic Adventure Restaurante. Antes trabalhou em várias unidades hoteleiras de cinco estrelas pelo País, e passou, inclusive, pelo Museu do Chocolate.

Após tantas mudanças, “o eterno mochileiro” resolveu mudar de vida e assentar raízes. Uma decisão tomada a dois, contou Thiago à NiT. “Estou casado há cinco anos, mas o nosso relacionamento sempre teve este acordo. O Ricardo, como trabalhava na área dele, ficava por aqui, e eu, que queria aprender o máximo sobre a gastronomia, viajava durante três meses a um ano. Mas o Atlântico acabou com este hábito. Não consigo estar longe dele”, começa por nos explicar. Thiago não se refere ao negócio, mas ao cão, que adotou ainda cachorro.

O restaurante — que abriu a 31 de janeiro em Vila Nova de Gaia, mais precisamente, no número 603 da rua 14 de outubro — partilha o nome (embora em inglês) com o companheiro de quatro patas do chef. “Sem o Atlântico, não existiria este projeto. Ele é que me fez ficar aqui”, garante.

É ali, no espaço onde a música tranquila ecoa na madeira que reveste as paredes, que o chef serve comida do mundo. No fundo, o empreendedor pegou em todas as suas experiências — das que conheceu no restaurante da tribo que pertencia à mãe, àquelas com que se cruzou depois disso — para apresentar no Atlantic Adventure Restaurante comida autoral.

A carta reúne sabores mexicanos, asiáticos, brasileiros e portugueses, obviamente. Mas não pense que a escolha vai ser fácil. É que, só em opções veganas, existem mais de 60. Podem até nem estar todas no menu, mas o chef Guinho garante-nos que é ele próprio quem as apresenta aos clientes que ali entram. Afinal, “embora seja não vegano, este é o espaço com a maior carta vegan da região”.

Independentemente da decisão, uma coisa é certa: todos os pratos refletem uma preocupação com a sustentabilidade. “Tento sempre substituir os elementos de origem animal por outros”, diz-nos. Além disso, o projeto tem também uma vertente social. É exatamente por esse motivo que ao longo da seleção poderá encontrar mensagens contra qualquer forma de racismo, homofobia, transfobia ou machismo.

Antes de pedir o grande sucesso da casa — sim, o bolo de mandioca, bem douradinho, feito no forno, e que chega a ser encomendado à uma da manhã em caixas de sete para levar — pode aproveitar para experimentar outros dos bestsellers da casa. O vegan burger, por exemplo, é feito na sua totalidade por Thiago e é servido em pão artesanal de batata-doce. “Bastante colorido, enche a barriga e o olho.”

E sim, como não podia deixar de ser, este é um restaurante pet friendly. Só não espere encontrar frequentemente o Atlântico. Com três anos, os seus donos garantem-nos que o cachorro é um “autêntico furacão”. Para segurança das toalhas (e da comida), o grande protagonista do espaço só aparece em momentos especiais.

Carregue na galeria para ficar a conhecer o novo restaurante de Vila Nova de Gaia bem como alguns dos pratos da carta.

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FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. 14 Outubro 603
    4430-039 Vila Nova de Gaia
  • CONTACTOS
  • HORÁRIO
  • Segunda-feira a sábado das 11h às 22h
  • Domingo das 11h às 23h
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Autor

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