“Deus escreve direito por linhas tortas.” O ditado é popular, mas desta vez é usado pelo chef Filipe Carvalho para descrever o último ano e meio após ver o JNcQUOI Fish em chamas. O espaço ficou destruído e as obras de reconstrução demoraram um ano e meio. A 8 de outubro, quarta-feira, abriram finalmente as portas do novo espaço do grupo e a equipa está “realizada”.
Nos últimos dias, Filipe Carvalho dormiu cerca de três horas cada noite. As emoções, aliadas à carga de trabalho e à exigência necessárias para abrir um espaço do género, ocuparam o chef. “Ainda não consegui parar para pensar bem, mas quando olho para este restaurante sinto orgulho do que temos aqui. Além de muito bonito, há uma sintonia entre as equipas e os pratos estão muito interessantes. Espero conseguir trabalhar isto de forma a que daqui a uns tempos se transforme numa das maiores escolas do País na área da restauração”, adianta o chef natural de Aveiro. “No que toca a bases de cozinha, processos, arranjo de peixe e marisco pode ser interessante”, acrescenta.
Após as portas abrirem oficialmente, a tristeza e a frustração que sentiram ao ver o prédio onde o restaurante inserido arder, desapareceram. “Passámos por uma situação que nunca se imagina. Há um milhão de sentimentos à mistura quando se atravessa algo assim. Mas depois é preciso olhar para a frente e tentar ter uma postura mais positiva. No nosso caso fez com que chegássemos a esta altura mais fortes, com uma visão mais clara do que queríamos e deu-nos tempo para pensar ainda melhor neste projeto”, refere.
O chef teve tempo para se adaptar ao grupo (após a saída do Fifty Seconds), conhecer a equipa e amadurecer as relações. Em conjunto com o seu mentor, António Bóia, que o convidou para este projeto, delinearam uma carta que trabalha sobretudo o mar português. “Tornámos o que foi para nós uma tragédia numa força gigante. O grupo acabou a ganhar. Focámo-nos nos outros espaços da marca e afinámos a máquina. O Ásia está a faturar mais, assim como o Clube e a Comporta. Hoje estamos todos felizes e satisfeitos por finalmente abrirmos um local que já devia estar aberto há um ano e meio”, diz.

Agora abriram o Fish, com capacidade para receber 80 clientes, depois seguir-se-á o Table, com apenas 10 lugares e um menu de degustação para uma experiência intimista e só depois irão inaugurar o hotel. “Vai ser tudo gradual e de forma a fazer sentido.”
O Fish, como o nome indica, é um restaurante dedicado a tudo o que vem do mar. “Quisemos fazer uma homenagem a Portugal e trazer o que temos de bom para o centro de Lisboa. O objetivo é criarmos um restaurante que seja uma referência nesta área. Viemos ocupar uma lacuna que é evidente e queremos enaltecer tanto a nossa cozinha tradicional portuguesa, como os assados no forno a lenha, como peixe assado e ao sal, mas com uma interpretação mais ousada”, refere o chef.
Entre os pratos desta carta, que já não é igual à primeira que tinham preparado, destacam-se o bitoque de atum com ovo a cavalo (75€ para duas pessoas) e o cherne corado com gamba branca dos Algarves (55€). Há ainda arroz de lavagante nacional co coentros (75€), o carabineiro com arroz cremoso de limão (44€) e os filetes de peixe com tártaro de camarão vermelho e arroz de tomate (58€). Mas para começar os clientes têm preferido um fatiado de peixe com caviar, gengibre e ervas finas (36€), assim como o ceviche do peixe do dia (39€) e o bacalhau dourado (34€).
A carne não ficou completamente de fora do menu, para assegurar que todos conseguem visitar o Fish. Filipe Carvalho acrescentou um cordon bleu de frango (36€) e um lombo de novilho em manteiga noisette com vinagre de porto vintage (48€) à carta.
Para forrar tudo muito bem no estômago, não podia faltar uma sobremesa. O chef homenageou as suas raízes com uma baba de crocodilo (11€), que descreve como umas “natas do céu reinventadas”. Contudo, o pódio dos mais pedidos dos primeiros dias foi arrecadado pelo pão de leite no forno com creme inglês e creme de queijo (11€).
“Tínhamos 40 tachos para fazer este doce e acho que vamos ter de duplicar o número porque a procura é realmente muita. Aliás, estes primeiros dias têm sido uma boa loucura”, admite.
Os vinhos foram escolhidos pelo sommelier Filipe Wang, que apesar de ter trazido referências internacionais, apostou muito em rótulos nacionais que combinam com os pratos dos chefs.
Filipe Carvalho deixou o Fifty Seconds, que tinha uma estrela Michelin para abraçar este projeto. O chef admite que ver o grupo JNcQUOI no guia é um objetivo. “A estrela é uma intenção para o Table, o espaço que iremos abrir no espaço de alguns meses, mas é preciso tempo para trabalhar, ajustar e mostrar. Temos toda a motivação e dedicação e vamos esforçar-nos para atingir esse objetivo, mas depende do dia a dia. Se o Fish for merecedor desse patamar ficaremos também radiantes”, admite.
Para já resta-lhe continuar a trabalhar, até porque o movimento do restaurante não lhe dá tempo para muito mais. “Estamos com reservas quase completas até ao final do mês. Hoje vou fazer uma encomenda de peixes, por isso amanhã chegarão cá 120 peixes que só deverão chegar para dois dias. Tem sido incrível”, conclui.
Carregue na galeria para descobrir o JNcQUOI Fish e as surpresas da carta.

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