Em 2018, Carolina Antony, conhecida chef brasileira, chegava ao País com o marido, o ator Marcelo Antony, e os filhos — três do casal e dois do marido —, para uma estadia que imaginou ser temporária.
“Viemos para Portugal porque o Marcelo ia atuar na novela ‘Valor da Vida’ [da TVI]. Como ele ia precisar ficar aqui por um bom tempo, resolveu trazer a família toda. Instalamo-nos então no Restelo. Para que não perdessem o ano, matriculamos os filhos na escola e, enquanto isso, eu fui fazendo algumas especializações. À distância, ia também gerindo Yámã! Burger Vibration e Yámã! Rio Bar, casas com hambúrgueres premium que temos no Brasil, porque trato de tudo o que tem a ver com elas, da parte financeira aos recursos humanos e troca de menus”, começa por contar, à NiT, a chef e empresária.
“A verdade é que acabamos por nos adaptar rapidamente. Os meninos, em particular, deram-se muito bem cá e tinham outra liberdade. Havia mais segurança para andarem sozinhos. Podiam ir e vir sem tanta preocupação, pelo que fomos ficando e agora não há planos, pelo menos imediatos, para voltar”, acrescenta.
Neste período, Carolina diz ter pesquisado muito sobre restaurantes, até porque tem bastantes amigos com espaços do género que sempre a incentivaram a avançar para um próprio. “Perguntavam porque não abria algo aqui, já que estava cá há muito tempo. Esse incentivo, aliado à minha vontade de apostar em algo relacionado com a alta gastronomia, aquilo que estudei, levaram-me a avançar com a Maria Escandalosa”, explica.

O espaço, que encontra próximo da Igreja de São Roque, do Teatro da Trindade Inatel e do Bairro Alto, abriu em janeiro mas, oficialmente, foi inaugurado apenas esta quarta-feira, 8 de março, data em que a responsável festeja 44 anos e se celebra o Dia Internacional da Mulher. É, precisamente, às mulheres, sobretudo às que desafiam as convenções e os chamados bons costumes de determinada sociedade, que Carolina quer prestar homenagem com o projeto.
“Acredito que Maria é um nome que, em si, abrange todas as mulheres, porque tanto serve a Virgem Maria como a Maria Madalena, ou seja, vai do sagrado ao profano. Pensei, portanto, que era uma forma de representar todas as mulheres. O ‘Escandalosa’ deve-se à crença de que todas somos, de facto, escandalosas, seja na simplicidade ou no luxo, na discrição ou na exuberância. Define ainda como, muitas vezes, são vistas as mulheres que querem ser empoderadas e livres”, detalha.
“Presto também tributo às muitas atrizes, cantoras e vedetas que fizeram história nos anos 20 e 30, quando as mulheres começaram a ganhar voz, dentro e fora dos palcos. Estando muito ligada à arte, até por ser mulher de artista, quis seguir esse caminho, apostando num conceito de teatro de revista e da boémia lisboeta e carioca, no luxo e no glamour”.
A ideia pensada por Carolina nota-se em cada detalhe, da luz baixa ao mobiliário com peças de antiquário, como um canapé e uma mesa de 1800, e às fotografias de estrelas como Nina Simone, Edith Piaf, Josephine Baker, Frida Kahlo, Lady Di e Audrey Hepburn, “mulheres, repletas de garra, que exaltam a força feminina”.
Conte, igualmente, com mesas espelhadas, “para que os clientes possam se olhar e se enamorar”, leques, predominância dos magentas e dourados, perfumes e scarpins, “elementos bastante associados ao universo feminino, embora este vá muito além deles”, comenta a chef, que tem João Fedorowicz como sócio.
Para provar, num dos cerca de 52 lugares disponíveis, que se dividem entre sala interior e esplanada, há opções distribuídas por três atos, apresentadas na que define como “a revista mais picante”. No objeto, que simula o programa de uma peça de teatro, encontra opções como a coxia escandalosa (10€), “uma brincadeira entre as palavras coxa e coxia, onde o elenco aguarda a sua entrada em cena. Ao contrário de muitos brasileiros, não são uma grande fã de coxinha, então sirvo uma coxa com recheio de costela em cama de compota de maçã picante”, explica.
Outras opções incluem o clássico cocktail de camarão, aqui batizado de camarões Leloir (17€), “uma referência a Luis Leloir, químico e criador do molho de Golf. No restaurante, contudo, trocamos o molho rosé por um sofisticado creme de leite de coco, tomate assado e queijo amanteigado”.
Depois, há uma versão da moqueca baiana com camarão em creme de leite de coco e champagne, que é finalizada com lâminas de coco aromatizadas no dendê (22€), e risoto da Carola, com lascas de bacalhau e pesto de coentros (18€), além do Yámã Burguer, um hambúrguer servido em pão brioche, com secret blend de 180 gramas, chutney de manga, queijo emmental maçaricado e rúcula (18€).
Antes do cair do panp, é quase obrigatório pedir o pain perdù, uma rabanada crocante com sorvete de whiskey, areia de amendoim picante e folhas de erva-doce (7€), ou o creme de mamão papaya, regado com licor de cassis e crispy de framboesa (7€). Para acompanhar, não faltam vinhos e cocktails, que variam entre os clássicos e os de autor. No final, a conta chega num scarpin vermelho.
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