Muitos dos que chegam ao BocAberta fazem-no por acaso. Todos os que lá regressam já são fãs. O novo restaurante abriu oficialmente a 5 de maio e não deixou espaço para dúvidas: nos dois meses em que esteve a funcionar em slow opening (desde 1 de março) conquistou centenas de visitantes regulares.
Será uma cervejaria? Ou uma marisqueira? No Porto dos Carneiros, na ilha de São Miguel (Açores), o BocAberta é um tudo em um. Em caso de dúvida, o proprietário garante que a certeza é um: ali há a “melhor seleção de moluscos e crustáceos”. “É uma casa de marisco muito forte, com uma esplanada por cima da água e com 170 ou 180 lugares”, resume de forma simples Abel Cabral, o mentor do projeto.
Em conversa com a NiT — depois de mais um dia “bastante ocupado” —, o empreendedor de 61 anos lá vai explicando (com aquela pronúncia cerrada) que tudo começou ainda antes da Covid. “A ideia de abrir este espaço vem na sequência de outros dois restaurantes que tenho. Um dedicado à confeção de peixe [Bar da Caloura] e o outro totalmente virado para as carnes de grelha [Casa do Abel]. Depois surgiu a vontade de fazer algo que não fosse só monocomida. Fazia falta um espaço por cima da água com mariscos, cracas, mas que tivesse também outras coisas. Vamos sonhando e vamos fazendo.”
Foi nessa altura que decidiu assumir a casa na Lagoa, com uma vista de 360 graus para o mar e para a serra, e que estava parada há dois anos, quase ao abandono.
“Foram necessárias muitas obras. Precisávamos de fazer um restaurante novo com condições para esta esplanada que tem capacidade para receber muita gente, coordenar a cozinha que tem de ter uma dimensão diferente, com fornos, mais moderna na forma de produzir e, toda ela, bem equipada com câmaras de frio para que pudéssemos dar um serviço diferente ao nosso cliente”. E tudo indica que os responsáveis conseguiram fazê-lo.
Ali o espaço é amplo e o mar é uma companhia constante. Basta chegar e sentar. “Também trabalhamos com reservas, mas são muito flexíveis”, diz, de forma descontraída. As apostas da carta são claras. “Sou contra as ementas de 20 páginas e essa forma de trabalhar”.
Tal como sempre quis, os pratos disponíveis fundem os dois conceitos favoritos de Abel. “Temos o picadinho, o prego e os mariscos quase todos, desde as amêijoas, mexilhões, às sapateiras, santolas, lagostas ou lavagantes. Temos arrozes engraçadíssimos e massadas.” O cardápio, esse, mudará regularmente para refletir a disponibilidade sazonal dos produtos e garantir que os clientes tenham sempre o melhor que a região tem a oferecer. “Vamos gerindo dessa forma. Não temos nada de congelados”.
Claro que também pode contar com sugestões de bacalhau. “Sempre sonhei fazer um conceito só de bacalhau, mas ainda não consegui. Para aqui, tinha de incluí-lo. Dedicamos a nossa ementa a três peças muito boas: à Lagareiro, à Brás e o Bacalhau à pão. Depois temos um de um quilo e tal que dá para quatro pessoas partilharem”, revela à NiT.
Mesmo admitindo que gosta de cozinhar — “e de uma boa cozinha” — Abel tem a ajuda do chef e estrela Michelin Cláudio Ponte (de 42 anos). “É ele o mentor”. Juntos, diz, deixam os clientes de boca aberta. Mas, ao contrário do que possa pensar, não é esse o motivo do nome. “BocAberta porque remonta às embarcações de pesca antigas e tradicionais, que eram feitas em barcos de boca aberta.”
Abel tem também o apoio dos três filhos. Um gere o BocAberta, outro é chef na Casa do Abel e a filha fica na Caloura. “Eles já estão há muitos anos comigo e estão preparados para a minha partida”, refere.
Agora que estamos a chegar ao verão, as expetativas são cada vez mais altas no BocAberta. “Vamos conseguir fazer uma temporada agradável”.
A seguir, carregue na galeria para conhecer o novo espaço da ilha de São Miguel e o que pode comer por ali.
