Narciso Bastos é o principal responsável por grande parte do trânsito na zona da Charneca da Caparica. Em 2013, levou a petiscaria que tinha criado no início dos anos 2000 na Costa da Caparica até outro ponto da cidade. O novo espaço, escondido entre casas privadas, começou a atrair tantos clientes que as filas à porta chegaram a bloquear a passagem dos carros.
Quem é de Lisboa ou da Margem Sul já sabe que estamos a falar do Nana Petiscos. O restaurante criado por Narciso, hoje com 53 anos, e pela mulher, Cláudia Massano, nasceu por necessidade. Em 1990, com Cláudia grávida, o então estudante de eletricidade teve de abandonar os estudos para sustentar a família.
“Os meus pais sempre se dedicaram ao mar e à venda de peixe. O meu primeiro instinto foi pedir ao meu pai para trabalhar com ele. Éramos os maiores fornecedores de peixe na zona e até escolhíamos com quem trabalhar. Em Lisboa, por exemplo, só fornecíamos o Pinóquio e o Ramiro. Ele recusou-se porque queria que eu fizesse o meu próprio caminho”, recorda. “Acabei por dedicar-me ao que sempre quis: abrir um restaurante.”
Sabendo que a sazonalidade podia afetar o negócio, Narciso decidiu apostar numa petiscaria, conceito que já fazia sucesso na região. Começou a recriar os petiscos que cozinhava em casa num pequeno espaço que arrendou. “Na altura, tinha apenas 18 anos e estava com medo que não resultasse, por isso também não arrisquei muito”, admite. Mas enganámo-nos: desde o primeiro dia, nunca soube o que é ter o espaço vazio.
“Foram dez anos de sucesso na Costa da Caparica com o Tasca do Nana. Na altura também vendia muito peixe e marisco”, lembra. No início dos anos 2000, decidiu concentrar-se apenas nos petiscos e aproveitar o talento da mulher Cláudia, que já tinha uma fábrica de salgados. Deixou o restaurante nas mãos do pai e do irmão e abriu o Nana Petiscos, com capacidade para 75 pessoas. Em 2013, percebeu que precisava de mais espaço e mudou-se para a R. Eugénio Salvador, onde permanece.

Hoje, o restaurante acomoda 240 pessoas sentadas e tem uma esplanada ideal para os finais de tarde e noites de verão. Narciso guarda “um espólio de 2000 petiscos”, mas só inclui na carta os que consegue garantir ao longo do ano, mantendo assim os preços acessíveis e a frescura dos ingredientes. “Cozinhamos tudo na hora, mas conseguimos fazê-lo de forma eficiente, sem perder muito tempo. Além disso, somos empáticos e gostamos de receber. Isso faz diferença”, explica.
Há clássicos que nunca saem da carta, como o choco frito (9,95€), gambas panadas (11,75€), alheira de caça com ovos de codorniz (9,75€), enguias fritas (14,50€) e iscas (6,95€). A filosofia é simples: não há acompanhamentos. “Este tipo de petiscos só precisam de pão para molhar e, no máximo, batatas fritas”, diz Narciso. Já está, aliás, a preparar a temporada dos caracóis.
Para partilhar, há tábuas como a de Costelinhas (10,50€), com entrecosto de vitela branca, a Transmontana (14,95€), com posta de vitela maturada por 21 dias, ou a Abadia (26,50€), que junta choco, alheira e costelinhas. No fim, pode optar entre dez gelados caseiros ou as farturas recheadas da Fábrica da Cláudia, disponíveis nos sabores de morango, leite creme, chocolate e limão (4€).
Diana Chaves é uma das presenças frequentes. “Cresceu aqui ao lado e sempre foi uma das principais clientes do Nana. Temos também pilotos da TAP e atores que continuam a vir porque são tratados como qualquer outro cliente. Não tiramos fotos, nem invadimos a privacidade, mas também não passam à frente”, explica Narciso.
Por ali, todos são tratados de igual forma — o que já lhe valeu algumas histórias curiosas. Num verão passado, enquanto atendia clientes, uma turista norueguesa beijou-o na boca em sinal de agradecimento. Cláudia viu tudo e respondeu com o que tinha à mão: fruta.

Este à vontade com os clientes e o talento de Cláudia na cozinha levou à criação de um império. Os filhos aprenderam com os pais e cada um já tem o seu espaço Nana Petiscos. A filha mais velha, Sara, e o genro Vítor, lideram o Take me Home no Seixal. O filho mais velho gere o espaço da Quinta do Conde e a loja online. Já Tomás, o mais novo, é o barista responsável pelo bar na Charneca da Caparica.
“Os nossos filhos estão a ganhar asas porque só queremos trabalhar mais quatro anos. A ideia é que aos 55 anos já comecemos a largar o negócio. Trabalhamos muito e já levamos 30 anos disto”, diz Narciso. No próximo verão, vão reduzir a capacidade do restaurante e delegar mais tarefas ao filho mais novo.
O objetivo é que cada filho siga o legado familiar e que também possa acumular histórias como as deles. “Quando abrimos este espaço, a fila era tanta que os vizinhos nem conseguiam sair de casa. Era uma confusão, mas todos levavam a bem”, recorda. Até à reforma, há ainda muitos petiscos para servir na Charneca.