Para José António, 61 anos, há apenas três segredos para um bom restaurante: bons produtos, boa qualidade de serviço e o uso de azeite na confeção dos pratos. Foi isso que valeu à Cozinha do Manel o prémio Cozinha Tradicional Portuguesa – Maria de Lourdes Modesto, entregue na passada sexta-feira, 2 de junho, no Grémio Literário, em Lisboa, pela Academia Portuguesa de Gastronomia. E, apesar de não ter conseguido trocar muitas palavras com o primeiro-ministro António Costa, foi uma noite que nunca vai esquecer.
“Quando cheguei a Lisboa, encontrei-me com um amigo meu, que é deputado, e estacionei o carro na Assembleia da República. Dei uma volta às instalações e não sei o que se passou, mas acabei por perder a chave do carro”, conta o proprietário à NiT, sem conseguir conter as gargalhadas.
José bem que procurou por ela e pouco faltou para revirar o Palácio de São Bento do avesso. “Lembrei-me depois que tinha uma chave suplente dentro do carro. Por isso, liguei à Automóvel Club de Portugal (ACP) e combinámos que, às 22 horas, os senhores iam lá abrir-me a porta do carro”.
“De maneiras que saí à francesa, porque, ainda por cima, tinha de ir para o Porto, pois trabalhava no dia seguinte. O António Costa é nosso cliente, por isso não levou a mal”, esclarece José António. A entrega do prémio, pelas mãos da filha da chef Maria de Lourdes Modesto, que morreu no ano passado com 92 anos, e do Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, foi marcada por um grande reboliço, mas tanto o proprietário, como os seus 15 funcionários, voltaram para a cozinha com um ânimo extra.
É no número 215 da Rua do Heroísmo que fica um dos restaurantes mais cobiçados do Porto. Além do primeiro-ministro, também há diversas figuras públicas a considerarem-no uma paragem obrigatória, nomeadamente Sérgio Conceição, treinador do Futebol Clube do Porto (FCP), e o cantor Pedro Abrunhosa. Os segredos já os sabemos, mas terá sido sempre assim?
Corria o ano 1987. José era apenas um vendedor, que sempre “foi boa boca”. Já o seu sogro, tinha a ambição de ter a maior peixaria de Arouca, vila localizada no distrito de Aveiro. “No entanto, nessa altura, as pessoas não estavam habituadas a comer peixe. Só queriam bifes. Além de que a logística era complicada, pois a peixaria não ficava perto de nenhum porto. Só dava prejuízo e acabou por fechar”, confessa o empresário.
Quando o sogro de José lhe foi bater à porta, o portuense sabia que tinha de fazer algo pela vida de ambos: “Tínhamos de abrir alguma coisa. Eu, como gostava de comer, e tinha esse bichinho atrás da orelha, dei a ideia de abrirmos um restaurante”.
Foi assim que nasceu A Cozinha do Manel, em 1989. José reutilizou os fornos a lenha do espaço e foi buscar os melhores produtos. Nem que, para isso, tivesse de se por ao volante: “O bom cabrito e a boa vitela vêm de Trás-os-Montes. Já a boa pescada, vem de Matosinhos”.
A vitela assada no forno de lenha com batata assada (19€), o cabrito, em que uma dose dá para seis pessoas (160€), e o bacalhau, que, todos os dias, é confecionado de forma diferente, sendo um dos mais populares o “à casa” (24€), frito em azeite, com cebolada e batatas fritas, são os pratos mais saídos da casa. Há, no entanto, um especial para José, que aquece o estômago dos clientes.
Apesar de a sua confeção e logística serem complicadas, e de ser um prato caro, José recusa-se a tirá-lo da ementa: “Para fazermos os filetes de polvo com arroz do mesmo (26€), temos de usar dois tipos de polvo. Porque temos de ir buscar um só para o arroz, que é aquele que dá mais cor e sabor”, descreve.
“O importante é as pessoas estarem num restaurante, mas, na verdade, sentirem que estão em casa. É o fundamental”, esclarece José. E nada melhor para fazer com que os clientes se sintam no conforto de um lar do que presenciá-los com doces que os façam lembrar uma época em família. “As nossas sobremesas são todas alusivas ao Natal, mas estão na ementa o ano inteiro. Temos aletria, leite creme, rabanadas, toucinho do céu, bolo de bolacha e muito mais. Já está com fome?”, pergunta José. Se não bastou a descrição do proprietário para lhe aumentar o apetite, carregue na galeria para ver alguns dos pratos d’A Cozinha do Manel.