Ao contrário do que é habitual, o nome do projeto de Diogo Águas surgiu muito antes do próprio espaço. O restaurante foi inaugurado bem mais tarde, — contrariando muitos conselhos e opiniões —, e numa das zonas bonitas do País, em Melides.
O Sem Nexo só abriu a 2 de junho, mas o cozinheiro tem a patente do nome há vários anos. “Tinha chefs que diziam que não fazia sentido nenhum, mas fui insistindo. O meu sonho sempre foi ser ‘sem nexo’. Alguém que rompe com tudo o que achamos que é o normal e o caminho a seguir” começa por contar à NiT.
Ostras com kiwi (14€), polvo com bochecha de porco (17€) ou ovas de choco com eucalipto (14€) são só alguns exemplos das criações do profissional de 35 anos. “Faço coisas um pouco fora da caixa, que à partida não fariam sentido, mas quando são provadas levantam questões sobre o que realmente podemos tomar como certo, como regra.” Afinal, vendo bem coisas, o nome escolhido faz todo o sentido.
Diogo Águas, da Figueira da Foz, é sócio gerente, proprietário e chef executivo do Sem Nexo. Antes, o “cozinheiro de raiz” passou por restaurantes como o Sublime e a Quinta da Comporta, e ainda fez eventos de degustação por muitas vilas. “Percorri o País, sempre para mostrar o melhor da comida portuguesa.” Mas, desde cedo, por onde passava ouvia ‘Isso não faz sentido nenhum!’. A todos respondia: ‘Prove’.
Quando eram provados, todos os pratos ganhavam sentido. E foi assim que nasceu o Sem Nexo, uma cozinha com lógica, onde se misturam sabores, cores e texturas para provocar uma explosão de sabores e uma sensação de surpresa em quem prova. “Não é só comida, não é apenas uma combinação improvável de sabores e petiscos. É uma experiência que, certamente, irá marcar quem a provar”, garante.
As ideias invulgares e algo inusitadas, surgem a Diogo durante a noite com frequência. “É mais comum do que gostava. Às vezes, preferia que acontecesse um pouco menos”, confessa. Nessas alturas, o chef trata de apontar o sonho num papel para o “atacar” quando chegar à cozinha.
O sonhador conta que andava já à procura de um projeto para assumir há algum tempo. Em janeiro apareceu e, no próprio dia, fechou o negócio. “Já cá tinha estado [em Melides] em 2015, quando vim abrir um hotel em Santiago do Cacém. Depois, quando rebentou a pandemia, fiquei em layoff e, ao procurar, vi que o único sítio onde contratavam era aqui na zona. Vim e daqui já não saio.”
Ali criou aquele que garante ser o lugar certo para partilhar, petiscar e ver o pôr do sol mais bonito do País, enquanto prova os sabores da costa. A proximidade aos produtos que gosta de trabalhar é outro dos fatores que o impelem a ficar. “Cerca de 80 por cento dos ingredientes da carta estão num raio de cinco quilómetros. Estamos à frente do mar, é o sítio ideal para desenvolver aquilo que quero fazer”, diz.
“Com uma enorme esplanada, uma zona lounge e uma sala acolhedora, prometemos dar o nosso melhor para criar memórias inesquecíveis a quem nos visitar. Não diga a ninguém, mas também temos um rooftop com vista 360 graus sobre a praia, ideal para eventos e sunsets”, confidencia.
As expetativas estão elevadas. “Apesar de termos aberto há pouco mais de um mês, estamos a ter um grade feedback. Agora, queremos montar a casa, perceber o que o cliente quer e adaptar. A ideia é crescermos e tornarmo-nos numa referência na restauração, claro. É algo que faz falta. Atualmente só se pensa em Lisboa, Porto e Algarve. As pessoas esquecem um bocado o litoral alentejano.”
Entre as preferências dos clientes já há um prato que se destaca dos restantes. Ou melhor, alguns. “As favas com ovas de choco e eucalipto, ou o polvo com papada são dois dos mais pedidos. Depois temos também o nosso peixe selvagem com legumes e batata que é o que as pessoas mais querem. Muitas dizem que não havia nada aqui que tivesse uma oferta honesta de peixe. E um dos nossos grandes focos é esse”, afirma.
Ali, na vila à beira-mar, a cozinha não pára. “É non stop all day food. As pessoas estão na praia, veem cá acima comer uns camarões e depois voltam.” Para a sobremesa não falta o bolo de chocolate. Até já se pensa em começar a fazer cocktails. O único requisito é que sejam diferentes, claro. “Já temos dois barmans a pensar em coisa fora da caixa. Uma das propostas será feita à base de queijo de São Jorge”, revela.
A seguir, carregue na galeria para conhecer o novo espaço de Melides, com capacidade para 120 clientes e uma decoração muito própria. “Somos nós. Simples. Fui eu que pintei os quadros que estão expostos. Está a fazer-se. Crescemos organicamente. Tenho, inclusive, um andar de cima que só irei abrir no próximo ano.”