Autenticidade italiana. É isso que Valentina Franchi e Michel Fante oferecem, desde 2019, no Ruvida, tido por muitos como o melhor restaurante italiano de Lisboa. Pastas caseiras, feitas à moda antiga, com muita paciência e com a ajuda do velho e fiel rolo de madeira.
Após três anos de trabalho árduo, os dois fundadores concluíram que Lisboa precisava de um “conceito mais descontraído”, mais semelhante ao das enotecas e salumerias do seu país de origem.
“É um tipo de sítio que há muito em Itália, algo mais descontraído [do que o Ruvida], onde se pode ir só tomar um copo de vinho, provar uns enchidos ou uma massa para fazer a scarpetta. Algo divertido”, explica a bióloga que mudou de carreira para se dedicar por inteiro à cozinha.
A scarpetta é, na verdade, o ato de usar o pão para sorver o molho que sobra no prato, um conceito bem conhecido dos portugueses. Nascia, em 2022, o Pausa, em Alcântara. E o sucesso foi tanto que Valentina e Michel decidiram replicar o conceito em Alfama, espaço que está de portas abertas desde março.
Tal como no anterior Pausa, as massas feitas a rolo deram lugar a uma técnica menos trabalhosa, mas não menos deliciosa. “As pastas continuam a ser feitas na casa, mas na máquina de bronze”, nota a italiana.
O bronze faz a extração da massa e dá-lhe uma textura rugosa que outros materiais não conseguem. Textura essa importante para melhorar a consistência e a aderência aos molhos, também eles caseiros.
Oriundos de Bolonha e Cortina, Valentina chegou primeiro a Lisboa, há mais de uma década. Em Itália, a aprender tudo sobre massas, conheceu Michel, cozinheiro de longa data, e juntos mudaram-se para Lisboa. As saudades dos sabores de casa fizeram com que empenhassem todos os esforços no Ruvida. E em seis anos, contam já três negócios na capital.
O divertido e descontraído Pausa, estreado em Alcântara, serviu também de “laboratório” para “a produção caseira de massas, pastrami ou até da focaccia”, que sai do forno todas as madrugadas, feita “apenas com ingredientes italianos”.
“A farinha… experimentámos muitas, mas não era igual. Mas claro que usamos muitos produtos portugueses. As carnes são maravilhosas. O peixe, obviamente. Não somos nacionalistas. Quando o produto português é melhor, usamo-lo.”
O plano do Pausa passou sempre pela expansão e quando encontraram “um local maravilhoso” em Alfama, mesmo atrás da Sé, quiseram aproveitar, até para chegar a um público mais turístico, depois de em Alcântara se terem “focado nos portugueses, nas pessoas do bairro”.
Instalaram-se então numa antiga mercearia, a Casa Alves, cujos traços da memória foram mantidos, das estantes aos armários, passando pelo próprio nome da loja. “Não podíamos tirar os móveis. Eram lindos. Quisemos manter este vínculo”, explica.
A oferta é semelhante à do Pausa de Alcântara, que se divide entre as focaccias e pizzas, mas também as muitas tábuas de enchidos e queijos. Há opções para uma (16€), duas (28€) e quatro pessoas (50€), que inclui vegetais, uma seleção de enchidos italianos, e queijos.
Para arrancar o festim, pode provar a focaccia caseira (2,5€), corações de alcachofra (4€) ou burrata biológica de Puglia (4€). No que toca às focaccias, há recheios para todos os gostos: stracciatella, tomate cherry e manjericão (9€); fiambre assado, mini cebolas com molho agridoce e queijo Gorgonzola (10€); barriga de porco enrolada e assada com mel, vinagre balsâmico e queijo stracciatella (10€); ou com mortadela clássica, pesto de pistácio e queijo Pecorino (10€).
Mas as estrelas da scarpetta são mesmo as pastas (caseiras e feitas na máquina de bronze). Há mezze maniche alla carbonara (17€), linguine al pesto (15€), gargati com ragù bolognese (14€) ou as almôndegas com molho de tomate e ervilhas frescas (14€).
E porque a zona é movimentada, foi preparada uma janela para quem quer comer e andar, de onde sai diariamente a focaccia fumegante.