A gastronomia portuguesa está a dar que falar em todo o mundo. Por exemplo, no nosso grupo de amigos temos sempre aquele foodie que conhece os chefs mais famosos das redes sociais e sabe sempre quando vai abrir o próximo hot spot do País. A influência dos sabores nacionais já chegou ao país vizinho, Espanha, atraindo a atenção do reconhecido Guia gastronómico Repsol.
Em março, o popular guia espanhol tinha anunciado a intenção de reconhecer e partilhar com o público o que de melhor se faz um pouco por todo o território português. O anúncio foi feito numa gala em Cartagena, onde marcaram presença como convidados três chefs portugueses, Vasco Coelho dos Santos (Euskalduna), João Rodrigues (Canalha) e Rodrigo Castelo (Ó Balcão). Esta terça-feira, 12 de novembro, a equipa do Guia Repsol juntou-se no restaurante Semea by Euskalduna de Vasco Coelho dos Santos, para oficializar o lançamento do guia em Portugal.
Como seria de esperar, trata-se de um modelo semelhante ao Guia Michelin, só que as estrelas de avaliação são substituídas pelos famosos sóis e vão já a começar a ser distribuídos, de norte a sul do País, em 2025.
“Assinalamos 45 anos da existência do Guia e temos feito um acompanhamento da cena gastronómica, ao ponto de fazer sentido começar a internacionalizar o mesmo até Portugal. É muito importante para nós inaugurar esta nova fase do Guia e estamos para além de emocionados, porque em Portugal existem muitos sabores para desfrutar e para dar a conhecer. Há comida, vinhos, artesãos e uma variedade de propostas boas que merecem ser partilhadas”, começa por explicar Maria Ritter, diretora da marca, à NiT.
O modelo funciona há mais de quatro décadas em Espanha e procura, acima de tudo, privilegiar a grande proximidade entre a gastronomia e os consumidores locais. O guia, que já chegou a existir em Portugal, numa versão impressa distribuída até 2007, não chegou a causar tanto impacto, sendo que a empresa começou a identificar lacunas que deviam ser preenchidas para o guia ter sucesso.
“Apercebemo-nos de que já não existia uma ligação com as pessoas, o guia era muito formal e com critérios de avaliação que identificavam uma gastronomia muito alta e elitista. Decidimos revolucionar o conceito do Guia Repsol e começámos a focar-nos noutros aspetos que consideramos ser mais importantes, como tentar dar resposta àquilo que as pessoas realmente estavam à procura”, acrescenta.
Inicialmente, a classificação incluía uma lista de requisitos como o tipo de talheres, o tamanho das toalhas, o ambiente do restaurante, a qualidade da comida e da garrafeira, o cuidado na cozinha e os preços. As categorias em consideração começaram a estender-se e abranger critérios como o momento anterior à visita do restaurante, como as redes sociais, se foi recomendado por algum familiar ou amigo, se o chef é conhecido ou não, quais são as formas de pagamento, entre outros.
“Tivemos de nos retirar de Portugal para reavaliar a classificação, aperfeiçoá-la em Espanha e, agora, sentimo-nos num bom momento para criar uma réplica do guia cá”, explica. Assim, o regresso do Guia a Portugal é feito com o propósito de destacar o melhor, o diferente e o genuíno que por cá se faz. Procura-se criar um guia “diversificado e autêntico, feito por portugueses e para portugueses”.
Como surgiu o guia
O Guia Repsol surgiu em Espanha em 1979, precisamente com base na mesma premissa do Guia Michelin. O desenvolvimento das estradas entre as cidades e países levou as pessoas a procurarem espaços para fazer uma paragem e tomar uma refeição enquanto se deslocavam de um lado para o outro. Assim, o objetivo principal do guia era dar a conhecer sítios onde comer bem.
Anos mais tarde, em 2015, é desenvolvida uma parceria com o Basque Culinary Center para, com a ajuda de técnicos especializados, aperfeiçoar as classificações e montar uma réplica do modelo no nosso País.
Como é feita a avaliação
As classificações funcionam de um a três sóis, começando pelo estabelecimento com qualidade e serviços bons o suficiente para recomendar a um amigo. Dois sóis destacam aqueles que são dignos de um regresso e que se distinguem sobretudo pelo domínio da técnica e a procura pelos melhores produtos. Por fim, a pontuação máxima fica reservada para aqueles que justificam a viagem e representam uma experiência singular, com garrafeira a condizer, onde tudo funciona perfeitamente.
Contudo, para cada classificação, a diretora considera importante que o guia aconselhe, sobretudo, lugares que funcionem e com os quais o cliente se identifique. “Tem de ser útil para o cliente e, em simultâneo, importante para a comunidade gastronómica ao reconhecer talento. É também importante que seja algo bom para a economia do sector e do País”, defende.
Tal como acontece no Guia Michelin, os avaliadores, conhecidos como inspetores, devem ser pessoas da região, que possam atribuir certa personalidade ao próprio guia. Ainda assim, a diretora do guia espanhol confessa não gostar da expressão “inspetores”, preferindo referir-se a eles como “descobridores”.
“Afinal de contas, têm de ser pessoas que conhecem as tradições, os produtos e os cozinheiros. Não só devem ser pessoas do País, como de cada região e localidade. Assim como os da Galiza são galegos e os da Estremadura são da Estremadura, os do Porto devem ser portuenses e os de Lisboa, lisboetas e por aí fora”, sublinha.
As categorias do Guia Repsol Portugal
Uma das novidades do Guia Repsol Portugal é, para além da classificação de um a três sóis, uma nova categoria: os soletes. Soletes é um termo espanhol usado para identificar algo ou alguém que tira um (ou vários) sorrisos fáceis. A função desta categoria é recomendar e destacar aqueles espaços do dia a dia, que facilmente agradam a toda a gente, como tascas tradicionais, esplanadas, wine bares, gelatarias, entre outros.
O guia reforça também o seu compromisso em descobrir e reconhecer novos talentos da cozinha, aqueles que identificam novas tendências gastronómicas. Virar os holofotes para grandes mulheres que também procuram destacar-se na cozinha é outra missão da marca.
À NiT, Maria Ritter adiantou ter no terreno mais de 20 inspetores nacionais — revelados apenas na gala — a percorrer restaurantes portugueses, incluindo novidades. “Já temos em mãos uma longa lista de espaços de norte a sul do País. O objetivo é dar a conhecer os sóis e recomendações em março, logo a seguir à gala do Guia Repsol Espanha”, afirma.
O Guia Repsol Portugal pode ser acompanhado online através do site ou nas redes sociais. Em breve, terá disponível também uma app, com dicas e sugestões no ramo da restauração e hotelaria. A apresentação do popular guia gastronómico espanhol decorreu esta terça-feira, 12 de novembro, no Semea by Euskalduna, de Vasco Coelho dos Santos no Porto.
O conceituado chef, que também esteve presente no evento, demonstrou o seu orgulho e satisfação de ser um dos embaixadores do guia no País. “Quando comecei o meu percurso com o Pedro Lemos, costumava brincar com ele e dizer-lhe que tinha ficado apenas pelos dois sóis, porque sempre tive a ambição de conquistar o terceiro e o Guia já não funcionava mais”, recorda.
E acrescenta: “Considero que é um guia com uma ligação com e entre os chefs que não se pode ignorar. Vai destacar-se por ser um guia mais familiar, algo que não se verifica no outro (Guia Michelin), por contar já com tantos países”.
No evento, o chef natural de Vila Nova de Gaia ficou responsável por confecionar um jantar que representasse os quatro cantos de Portugal, com propostas como o folar transmontano, a tarte de chalota, o lírio dos Açores, a costelinha de vitela e a sua rabanada de assinatura com gelado de queijo de cabra.