Enquanto tentava resolver os problemas dos restaurantes que se inscreveram em “Pesadelo na Cozinha”, o programa da TVI, o chef Ljubomir Stanisic ajudava a reerguer outro espaço longe das luzes e das câmaras.
Falamos do Porão de Santos, precisamente na zona de Santos, em Lisboa. Era um restaurante normal que servia pratos tradicionais portugueses e, apesar de não faltar clientela — recebiam bastantes jantares de grupos —, o dono, Nuno Sobral, queria fazer um “upgrade”.
Conheceram-se através de um amigo em comum, o fotógrafo Gonçalo Claro, que trabalha com o chef jugoslavo. Ljubomir conheceu a história de Nuno, um ex-militar que tinha ficado paraplégico dois anos antes, e decidiu ajudá-lo.
“Isto surgiu mesmo no início das gravações do ‘Pesadelo na Cozinha’”, conta Ljubomir Stanisic à NiT. “O Nuno era um combatente das forças armadas portuguesas que estiveram na Bósnia, ele esteve mesmo na zona de Sarajevo, a minha cidade, nas montanhas onde eu também estava a combater, com o objetivo de dar paz ao meu país.”
Isso foi decisivo para que o chef decidisse ajudar Nuno Sobral. “Decidi ajudá-lo nesta fase porque ele me ajudou a mim, o meu país. Quando o conheci, falei com ele durante 20 minutos e disse logo: vou ajudar-te com isto.”
Nuno Sobral, com 40 anos, diz que o encontro com Stanisic foi um “clique imediato”. “Nós somos iguais, eu sou ex-militar, ele combateu, houve um clique imediato. Eu já estava a fazer estas alterações de menu e surgiu este anjo, não tenho como agradecer. Sempre tive a casa cheia, mas não me realizava.”
O Porão de Santos é de Nuno Sobral há 14 anos. Em 2016, depois de uma noite como qualquer outra, foi desanuviar para o outro lado de Santos, para a discoteca Lust in Rio. “Costumava meter a mota dentro do Porão e ia descomprimir. Só que naquela noite peguei na mota e fui para o Lust. Quando saí de lá, combinei com uns amigos ir à praia. Estavam a ultrapassar uns carros, vem um carro de frente, e para não bater numa senhora desviei-me, despistei-me e aqui estou eu numa cadeira de rodas. Durante dois anos foi uma luta, o que é normal, mas resultou nisto.”
O trabalho para transformar o Porão de Santos foi muito mais exaustivo e completo do que aquele que Stanisic consegue fazer nos restaurantes que aparecem no programa da TVI. “Tive muito mais tempo para formar todas as pessoas, estive com o Nuno ao telefone enquanto viajava pelo país inteiro, organizar tudo o que existe, todos os pequenos pormenores. Até lhe fiz um trono para ele cagar. Durante este processo todo tornámo-nos grandes amigos. Já não nos queremos separar nem por nada.”
Ljubomir envolveu toda a sua equipa do 100 Maneiras — desde os cozinheiros ao responsável pelo bar, passando pelo fotógrafo, o mesmo Gonçalo Claro, e a sua mulher, Mónica Franco, que tratou dos conteúdos necessários. O restaurante foi inaugurado no domingo, 21 de outubro. “Decidi que no fim de semana em que acabei de gravar o ‘Pesadelo na Cozinha’ vou abrir este. É um trabalho de amigos, humanitário, de duas pessoas que se ajudaram uma à outra”, diz o chef jugoslavo.