Retrosarias, lojas de eletrodomésticos ou livrarias: em Lisboa, nunca se sabe se atrás de uma montra banal se esconde um mundo paralelo. A tradição dos speakeasies — os bares secretos que parecem saídos da era da Lei Seca — continua a inspirar novos conceitos que brincam com o mistério e a surpresa. O mais recente chama-se Primo’s, abriu oficialmente a 21 de março e parece um restaurante italiano inocente, mas na verdade esconde o None, um bar que é um refúgio para quem gosta de boa cerveja, cocktails de autor e portas que se abrem só para quem sabe onde procurar.
Pizzas de trufa, ou com pimentos e ovo cozido, seguidas de um tiramisù, são a receita ideal para começar uma noite na Rua da Esperança. Provadas as especialidades do Primo’s, e caso tenham olho clínico, os clientes cruzar um pequeno armário, desviar as roupas e entrar bar adentro.
O nome do espaço principal foi pensado por Yash Karia e Jeet Savjiani. Os proprietários e também primos têm uma história muito idêntica. Nasceram ambos em Moçambique, em Xai-Xai, e, com 10 anos, foram enviados para o norte da Índia, onde vivia grande parte da família, para estudarem. Yash acabou por formar-se em marketing e, quando concluiu a licenciatura, decidiu voar para a África do Sul para tirar um curso de hotelaria. O moçambicano de 25 anos estava a trabalhar no The Oyster Box, de cinco estrelas, quando decidiu vir conhecer as origens da mãe e dos avós, que eram naturais de Portugal.
“Sempre ouvi maravilhas sobre Portugal e cheguei cá, em março de 2023, com o objetivo de investir. O facto de falar português e conhecer a cultura ajudou muito no processo de encontrar espaços. Procurei em Faro, no Porto e acabei por decidir-me por Lisboa”, conta.
Karia convenceu Savjiani a juntar-se a ele nesta aventura. O jovem de 23 anos aterrou na capital no início de 2025, após ter terminado um curso de logística na Universidade de Los Angeles, nos EUA. E foi por lá que também começou a ouvir falar da “capital portuguesa, que comparavam com a Los Angeles de antigamente”.
“Lesionei-me e percebi que, por mais que adorasse o desporto, não era a carreira que queria seguir. A chegada da pandemia fez-me ver isso com clareza e comecei a procurar alternativas. Vários amigos meus eram donos de bares nos EUA e comecei a entrar nessa comunidade indiana que trabalhava na indústria. Aprendi muito e, quando eu e o meu primo falámos sobre isto, sabíamos muito bem que tínhamos de fazer algo diferente, com qualidade”, refere.
A missão estava delineada. Queriam “criar um híbrido entre um jazz club e um restaurante com uma vibre retro”. “Decidimos dividir o espaço em dois. De um lado temos uma tap room com cervejas em torneira e garrafa, de vários pontos do mundo, desde a Irlanda, à Ucrânia e aos EUA, e do outro temos um cocktail bar. A nossa ideia era dedicarmo-nos à cerveja artesanal, de nicho, mas termos outras propostas também”, explicam. Mas não era suficiente.
Com a recente moda dos speakeasies em Lisboa, os moçambicanos decidiram agarrar a tendência e criar um espaço do género. Visível ao público está o Primo’s, o restaurante que junta pratos italianos com cozinha mediterrânica. “Como se trata da nossa estreia na restauração, decidimos ouvir os clientes. O nosso menu foi montado com base no feedback e gosto de quem nos visita”, explica Yash.
No restaurante com capacidade para 60 pessoas, sugerem que quem os visita comece por provar uma caponatta de beringela com pizza branca e guacamole (6€), asas de frango crocante com compota de pimentos (8€) ou gambas salteadas com vinho branco, mostarda, azeite e alho, servidas em massa de pizza (14€).
Nos pratos principais, o moçambicano destaca um salmão braseado (17€) com puré de cherovia e legumes assados, ou um risotto de pêra assada, presunto, queijo gorgonzola e crocante de pistácio (17€). Quem for fã de trufa pode escolher entre o risotto de trufa negra (19€), finalizado com cogumelos frescos, ou uma pizza com trufa e burrata (17€), em que a base é molho branco com trufa negra fresca e alho, e depois leva então a burrata e o óleo de trufa. Ainda nas pizzas, têm a Primo’s Special (11€) com molho de tomate, mortadela e queijo buffalo, e a Portuguesa (17€) com mozzarella, salame, pimentos, cogumelos, azeitonas pretas e ovo cozido fatiado.
O tiramisù al limone e limoncello (6€) é das sobremesas mais pedidas, seguido da pêra em redução de vinho do Porto e creme mascarpone (7€). Para acompanhar, há cocktails de assinatura, que são alterados consoante a estação. Neste momento, têm-se destacado o Farofa (15€), com aguardente e lima, e o High Tai (12€), uma combinação que junta pisco, maçã e um toque de café. As bebidas são preparadas pelo bartender Mikael Pereira.
Carregue na galeria para descobrir o restaurante que esconde um bar nas traseiras.
