Como num bom filme, as reviravoltas surgem quando menos se espera. Foi o que aconteceu no 2Monkeys, em Lisboa. Francisco Quintas (e parte da equipa) abandonaram a cozinha do restaurante, quatro meses após ter ganho com a primeira estrela Michelin. A distinção não passou despercebida por vários motivos: o chef era o mais novo em Portugal a consegui-lo e o espaço tinha sido inaugurado somente há 10 meses quando entrou para o prestigiado guia.
A saída do chef e de mais três cozinheiros deixou a equipa desfalcada, mas não por muito tempo. Vítor Matos escolheu Guilherme Spalk, que no último ano assumiu a chefia executiva do grupo Mainside, responsável pela Pensão Amor, para assumir a cozinha do 2Monkeys.
“O Francisco saiu para abraçar outro projeto, não sei para onde vai. Mas isto é algo natural”, adiantou Vítor de Matos à NiT.
Como os clientes não podem esperar, o chef transmontano tratou de substituir o jovem de 25 anos rapidamente. A comandar a cozinha do 2Monkeys desde o início de junho, Spalk já prometeu trazer “para o balcão intimista novas ideias e referências”. ” O chef tem presença, humildade para evoluir, coragem, vontade de superação e aquela coisa que sentimos que nunca se diz e que nos dá confiança de que é a pessoa certa”, afirma o chef sobre a nova contratação. Contudo, o conceito não será alterado.
Durante o jantar, o suspense e o entusiasmo vão continuar liderar a narrativa. Os clientes partilham um enorme balcão montado em redor da cozinha e não existe opção de carta — apenas um menu de degustação de 14 momentos, que estão longe de estar fechados. Seguem o ritmo da natureza e vão mudando sazonalmente.
“Não queríamos criar um espaço normal, de hábito, standard. Ali podem ver a comida a ser preparada, numa espécie de conexão entre a cozinha, os chefs e os clientes. Nada de ficarem silenciosos. Mas a comida tem de ter sempre uma qualidade elevada. O melhor do melhor”, diz o também proprietário do Antiqvvm.
A mudança na cozinha, segundo Vítor de Matos, “aconteceu de forma natural e não alterará o paradigma e qualidade do restaurante, sendo que agora o 2Monkeys beneficiará de novas influências e ideias”. Já sobre a possibilidade da alteração na equipa poder alterar o título recebido em fevereiro, o chef transmontano não tem qualquer dúvida: “O guia Michelin tem inspetores para verificar o nosso trabalho, consistência ou até mesmo evolução durante todo o ano. Sinto-me tranquilo e confiante no futuro”, disse à NiT.
O novo menu, que será apresentado em breve, juntará a experiência do chef de 46 anos e de Guilherme Spalk, que traz influências tradicionais e nipónicas. Até lá, o preço continua o mesmo: 195€ para os 14 momentos, ou 395€ para quem preferir uma harmonização de vinhos.
“Uma renovação natural”
O chef consultor do espaço descreve a saída de parte da equipa como “renovação natural”. Assegura também que irá dar seguimento “ao trabalho de enorme rigor e qualidade produzido até agora neste projeto de fine dining único em Lisboa”.
Por outro lado, Francisco Quintas refere-se à saída como o “encerramento de um capítulo”. “Tudo o que começa, também acaba. Vejo a minha saída do 2Monkeys como um fecho de um capítulo com muitos pontos positivos. A estrela, o facto de ter sido o chef mais jovem a ganhar uma estrela Michelin, tudo ao lado do Vítor Matos”, diz à NiT.
O jovem garante que deixa a cozinha do hotel Torel Palace Lisbon de forma “tranquila” e aproveita para deixar alguns agradecimentos. “Só tenho de agradecer ao Vítor, ao grupo Torel e à equipa. Estiveram sempre comigo e sem eles nada do que alcancei seria possível”, diz.
Conquistar uma estrela Michelin aos 25 anos é um feito que deixa o chef orgulhoso. “Estou muito feliz por ser um dos mais jovens a pisar o palco. Vou continuar à procura dos prémios e, acima de tudo, de clientes satisfeitos”, disse na altura da gala à NiT. E, embora não quisesse revelar detalhes sobre o projeto que vai abraçar em breve, pode apenas depreender-se que tenha saído há procura de voos mais altos.
As próximas semanas do chef serão de reflexão. “Não posso abrir muito o jogo sobre o que aí vem. Tenho um novo projeto, que está numa fase que ainda não é permitido revelar nada. As próximas semanas serão para pensar e repensar no que aí vem. Todos os passos que dei até hoje, desde que saí de casa aos 16 anos para estudar cozinha em Inglaterra, foram ponderados. Fico a aguardar pelo que o futuro me reserva.”
Carregue na galeria para conhecer o restaurante lisboeta que ganhou uma estrela Michelin três meses após a abertura.

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