Uma tasca nunca seria uma tasca sem duas coisas: vinho para encher os copos até à borda e uns quantos petiscos a fazerem-lhe companhia. E se, numa ideia louca, retirássemos da equação todos os produtos animais? Continuaria a ser uma tasca? Na opinião de Raísa Ritta, claro que sim.
Tem pouco mais de um mês de vida A Tasca Vegana, que ousou agarrar em alguns clássicos da cozinha portuguesa e, com uma ou outra troca estratégica, adaptá-los à dieta vegana — sem desvirtuar o sabor a que todos nos habituámos. Não é tarefa fácil, mas a brasileira de 30 anos está habituada a fazê-lo.
Deixou para trás a formação em marketing e um trabalho como técnica de produto na Leroy Merlin para se agarrar aos tachos e criar o projeto Food Slow, comida vegana apenas em formato de delivery. “Fizemo-lo numa perspetiva de perceber se havia adesão. Funcionou e quando vimos que tinha pernas para andar, pensámos no novo conceito e num espaço só nosso”, conta à NiT.
Vegana desde 2017, assumiu uma dieta estritamente vegetariana aos 15, embora se assuma pouco fundamentalista. “Não espero que todas as pessoas se tornem veganas, mas se toda a gente perceber o que tem no prato, acabam por tomar escolhas mais conscientes e, naturalmente, a afastar-se da carne.”
Convicta de que queria levar a sua comida para a rua, sabia que antes de o fazer teria que encontrar um conceito. Pensou naquilo que os veganos têm mais saudades: os sabores que os portugueses aprenderam a gostar enquanto cresciam. Um desses casos é o do namorado, vegano mas com “imensas saudades” do arroz de pato da mãe.
A sua nova casa seria então uma tasca vegana, “um sítio com ambiente descontraído onde as pessoas veganas pudessem lembrar-se dos sabores tradicionais, tomar uma cerveja, beber um copo de vinho”.
O arroz de pato — ou neste caso, arroz sem pato (8€) — usa um chouriço vegan e troca o pato pelos cogumelos pleurotus e uma boa dose de especiarias para apurar o sabor. Mas o primeiro prato desta lista foi mesmo o tofulhau de béchamel de caju (9€), uma reinvenção do velhinho bacalhau com natas, mas neste caso feito com tofu.
Um dos segredos destas transformações está nos cogumelos, com uma textura mais próxima da carne e ideais para carregar e absorver outros sabores. É por isso que os portobello marinados, levados ao forno e grelhados na hora servem de substituto ao bom amigo prego no pão (6€), depois acompanhado de mostarda Dijon, alho, azeite e ervas. O bife (6€) é também um Portobello, desta vez acompanhado com cuscuz, crocante de avelã e molho verde.
Para petiscar, há croquetes feitos no forno — lamentamos, mas nesta tasca não há fritos — que podem ter dois sabores, grão e carol (3€) e feijão vermelho, cogumeos e nozes (3€). Prove também as empanadas de cogumelo e abóbora (2,5€) ou de ricotta de caju, tomate e espinafres (2,5€). Tudo isto pode ser bem regado com vinho a copo (3€), tradicional ou biológico, ou uma cerveja fresquinha.
Esta tasca está ainda nos primeiros passos, mas Raísa promete que estão em fase de testes ainda mais petiscos, nomeadamente uns peixinhos da horta, entre outros segredo. Mas se não quiser esperar, o espaço em Campo de Ourique tem uma esplanada com capacidade para oito pessoas e mais espaço para quatro no interior. É pequeno, é certo, mas também por isso continuam a trabalhar em força no delivery e no take away. Uma forma de levar a tasca para casa, porque a tasca é onde o português quiser que ela seja.
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