Restaurantes

A saúde travou Noélia Jerónimo. Voltou mais forte e foi eleita Chef do Ano nos Prémios NiT

"A máquina avariou", recorda a chef, que foi forçada a mudar de planos por causa de uma cirurgia. Regressou com novo restaurante e ainda mais prémios.
Tem 54 anos e é natural de Cabanas de Tavira.

Em 2024, Noélia Jerónimo seguia imparável. O sucesso da sua casa em Cabanas de Tavira levou-a ao reconhecimento do Guia Michelin, enquanto na televisão brilhava como jurada no “MasterChef”. “Era uma máquina de trabalho”, confessa à NiT, ou “assim achava”.

Nesse ponto alto, o corpo cedeu e forçou-a a rever todos os planos. “Virei uma máquina avariada. Senti que de um momento para o outro as energias me foram tiradas. Quis estar presente em muita coisa e nem sempre consegui”, recorda a algarvia de 54 anos à NiT. Uma cirurgia no final do ano levou-a a recusar a participação numa nova temporada do programa de culinária.

Felizmente, tudo parece estar a voltar à normalidade: foi escolhida pelos leitores da NiT como Chef do Ano, na edição de 2025 dos Prémios NiT, com 32,9 por cento dos votos dos leitores — numa categoria que contava com profissionais como Vítor Matos, Migue Rocha Vieira, Rodrigo Castelo e Henrique Sá Pessoa. Mais: o seu novo projeto, Marina com Noélia, foi também escolhido como Restaurante do Ano nos Prémios NiT.

“Após passar por um ano de provação como foi 2024 e receber este prémio tem um sabor especial e prova que as mulheres também têm capacidade para chegar a este patamar de excelência”, refere, apontando o talento, dedicação e excelência dos restantes nomeados na categoria. “O Vítor [Matos] acabou de ganhar duas estrelas para o Oculto e Blind, que estão espetaculares. O Henrique Sá Pessoa está com o espaço incrível. O Miguel tem um percurso inigualável e o Rodrigo um projeto maravilhoso. Não existe luta entre nós, nem disputa de lugares. São todos muito bons. A diferença entre mim e eles é que sou mulher.

Noélia Jerónimo adora o que faz. Adora receber amigos e colegas nas suas casas e está sempre pronta para cozinhar para eles. Agora, no seu Marina com Noélia, tem ambições de gerir o melhor restaurante do Algarve — e não vai desistir. “Temos tudo para crescer neste novo espaço. Estou muito feliz com a equipa e aprendo imenso com eles, todos os dias.”

No entanto, admite que na cozinha nem tudo é fácil. “Não é só glamour. Dou muitos berros na cozinha, porque às vezes é preciso fazer-nos ouvir, levantar a voz, sobretudo como mulher. Mas não invalida que tudo o que faça seja com amor, à cozinha, ao Algarve, à equipa”, diz.

Uma vida de trabalho

Mulher de trabalho e garra, começou a cozinhar com 14 anos, no mesmo sítio onde tem o restaurante homónimo, à época Pastelaria Jerónimo. Foi lá que conheceu o marido, com quem depois abriu, na porta ao lado, uma pequena pizzaria. Mas a algarvia sabia que José Eduardo não adorava o prato italiano e começou a testar receitas mais portuguesas, feitos com peixes da ria. Em 2007 decidiram reformular o conceito e nasceu o Noélia & Jerónimo, que mais tarde foi rebatizado como Restaurante da Noélia.

“Não é fácil ser mulher, chef e mãe ao mesmo tempo. Não podemos baixar os braços e temos de ter pessoas incríveis à nossa volta”, esclarece. José Eduardo, o marido, e Avelina e Idaliana, mãe e tia de Noélia, ajudaram-na nas conquistas profissionais. Apoiaram-na e deixaram-na seguir o sonho, dando-lhe a segurança de que em casa tudo permaneceria igual.

“O meu marido cozinha muito bem, melhor do que eu”

“O meu marido cozinha muito bem, melhor do que eu. Os pais tinham um restaurante aqui ao lado, chamado Roda, onde eu aprendi muito”, diz. De resto assumiu-se como uma autodidata. “Tenho mais de 300 livros em casa só relacionados com comida. Adoro estudar e ler. Costumo até dizer que me deito com um livro e acordo com outro. É fundamental sermos humildes e aprendermos.”

A chef continua a escrever todos os dias o menu em papel, com a justificação que o peixe é diferente todos os dias e aponta essa opção como a chave para o sucesso do restaurante que tem sempre filas de espera à porta. “Tanto em Cabanas, como em Olhão, só trabalhamos com produtos frescos, locais, que possamos comprar numa distância de 400 a 500 metros. Isso é fundamental para garantir a qualidade do que usamos nos pratos”, diz.

Sobre abrir novos restaurantes fora do Algarve parece um assunto para esquecer — pelo menos, por enquanto. “Continuam a pedir-me para abrir espaços no Porto e Lisboa, mas não é possível. Falta-me a família, as minhas filhas e a minha neta. Não sou ninguém sem elas.”

Para já, promete apenas dar o seu melhor para todos os que fazem (mais ou menos) quilómetros para provar os seus pratos. “Os prémios são ótimos, mas o mais importante são os nossos clientes e só posso estar grata porque me darem esta confiança”, conclui.

A chef com a equipa do Marina com Noélia.

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