Restaurantes

Ti’Augusta. Na tasca que parou no tempo há doses generosas a preços de antigamente

Há 80 anos que é ponto de paragem obrigatória em Ribamar. Só abre no verão e, por lá, não há wi-fi ou rede que chegue.
Fica literalmente em cima da praia.

Em 80 anos muita coisa muda, mas há locais onde a passagem do tempo parece não ter qualquer efeito. A Tasca da Ti’Augusta é um desses casos. O pequeno restaurante em Ribamar, no concelho da Lourinhã, mantém-se exatamente igual desde que abriu na década de 1940.

Os pratos são os mesmos, assim como as paredes, a decoração e paisagem que se vê pelas janelas. A internet não chegou lá, muito menos a rede telefónica. Não há televisões, telemóveis ou tablets à mesa. Este cenário, aliado ao facto de abrir apenas nos meses de verão, tornaram o espaço “mágico”.

A história da pequena tasca em cima da praia começou com a primeira Tia Augusta. Uma cozinheira hábil e mãe de dois filhos tomou conta do pequeno restaurante com garra e determinação. As noites eram passadas num pequeno divã à espera dos pescadores que saíam pela praia de Porto Dinheiro. Antes de embarcarem em mais uma aventura no mar, tinham um tacho de fritura e alguns traçadinhos (uma mistura de bagaço com vinho). Em troca, quando chegava, vendiam-lhe o primeiro peixe que chegava à lota.

O peixe fresco, aliado às receitas típicas, tornaram o pequeno restaurante de Augusta um ponto de passagem na Lourinhã. Quando a proprietária morreu, os filhos Alice e Fausto ficaram a tomar conta do restaurante.

“A filha explorava num verão e no seguinte passava a exploração ao irmão. Quando era a vez da Tia Alice [como é conhecida na zona], a minha mãe, que também se chama Augusta, ia ajudá-la. Eu e as minhas três irmãs acabamos por crescer também neste ambiente”, conta Alexandra Fanha à NiT.

Em 2018 os irmãos decidiram que estava a hora de venderem o espaço, mas ninguém queria esquecer a tasca da Ti’Augusta. Como solução, a nova Maria Augusta pegou no negócio com a ajuda das filhas e dos netos.

“Somos uma família muito numerosa e a minha mãe sempre foi uma pessoa que adora ajudar o outro e tem muito jeito para cozinhar. Embora o seu trabalho fosse como funcionária pública, na atura da festa da aldeia ia cozinhar para dezenas de pessoas. Quando decidimos ficar com o negócio, todos assumimos que íamos ajudar”, adianta a assistente social de 40 anos.

A cozinha é comandada por Maria Augusta, que este ano teve de se afastar das panelas devido a problemas de saúde. Foi substituída por Francisco Mateus, um amigo da família e pelas filhas Alexandra e Marisa.

A grande especialidade da casa é a caldeirada, prato servido apenas por encomenda. A receita, explica Alexandra, é a mesma que os antigos pescadores faziam, só que com uns toques de Augusta. O preço é feito “à cabeça” — cada pessoa paga 18€. O mesmo acontece com o arroz de tamboril e Alexandra explica que precisam de ter noção do peixe que precisam.

“Tudo o que temos, vem daqui do mar e chega fresco diariamente à lota. Por isso temos de estipular quanto vamos comprar de manhã para depois não falhar”, adianta. As doses são feitas por mãos generosas, porque “onde comem quatro, comem nove”.

Quem conhece a casa já vai munido de tupperwares para trazer o que sobra, ou, caso não fique nada no tacho, querem levar pelo menos um pouco da calda. “Depois fazem uma massada naquele molho e fica delicioso”, aconselha a cozinheira.

Caso passe lá sem reserva para estes pratos, pode sempre optar por uma salada de polvo (10€), de búzios (10€), ou de ovas (10€). Também há caracóis (7€), camarão frito (15€), ameijoas (14€), tiras panadas (7€), percebes e navalheiras (quando o mar traz). Mas Alexandra destaca “as fritadas” que tanto podem ser de raia (4€), sáfio (3€), ou amoreia (3€), também conhecida como leitão do mar. “São daqueles pratos que nunca podem faltar e que os fregueses adoram”, adianta a filha da nova Tia Augusta.

A acompanhar as refeições não faltam os “jarros de vinho da casa”, com a chancela da Quinta da Almiara. E no final os clientes podem escolher entre uma baba de camelo, mousse de chocolate, doce da casa com natas e leite condensado ou pudim de ovos. O preço não terá peso na decisão porque custam todas 3€.

A tasca da Ti’Augusta tem espaço para 60 clientes, mas não espere um fine dining. As paredes do restaurante são as própria arriba e as obras que fazem todos os anos são o mínimo invasivas, para não alterar a estrutura.

“Isto não é um restaurante Michelin. Não há rede, internet, ou televisão. As famílias são obrigadas a falarem umas com as outras e a saborear. Se só tivermos copos altos, é provável que tenha de beber vinho assim. Fazemos o que podemos”, admite Alexandra Fanha.

A localização em cima da praia faz com que tenha de ser um espaço sazonal, que abre apenas de junho a setembro. “Quando chega a abril vimos fazer as obras e limpezas necessárias. Assim que o tempo piora somos obrigados a fechar.”

Carregue na galeria para conhecer os petiscos que levam os clientes a fazerem fila à porta da Ti’Augusta.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Rampa dos pescadores
    2530-626  Ribamar
  • HORÁRIO
  • Segunda a domingo das 10h30 às 22h30
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Peixe

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