Restaurantes

A tasca no centro de Lisboa onde pode comer cozido e bacalhau na brasa por 8,50€

A Rampa abriu em 1968 e tem superado a passagem do tempo com os preços de antigamente.
Está aberto há 56 anos.

Toalha de papel, jarro de vinho na mesa, pratos tradicionais e preços abaixo dos 10€. Todos os sinais de uma tasca portuguesa estão presentes no Rampa. O pequeno restaurante a cinco minutos da Avenida da Liberdade é um dos poucos espaços na zona onde a tradição não se perde — nem a simpatia de quem atende.

O restaurante abriu em 1968 pelas mãos dos irmãos Aníbal e José Figueiredo. Ambos da Beira, mantinham uma série de empregos para conseguirem sustentar a família. O primeiro trabalhava como técnico oficial de contas, um emprego que acumulava com trabalhos para diferentes ministérios em Lisboa. No entanto, a parte favorita do dia era quando visitava diferentes restaurantes. Com o avançar dos anos percebeu que o mais inteligente seria apostar no seu próprio negócio e desafiou o irmão a juntar-se a ele.

Abriram o Rampa sem grandes ambições de transformá-lo num dos espaços populares da capital. Queriam apenas um local onde pudessem trabalhar naquilo que gostavam. Mantiveram os respetivos em pregos e dividiram-se para trabalhar no espaço. Aníbal tratava dos almoços e José dos jantares.

A cozinha tradicional, aliada aos preços, acabou por tornar-se um chamariz para quem trabalhava e vivia na zona. Quem lá ia, já sabia que a certos dias da semana haveria cozido à portuguesa, noutros bacalhau e quem nunca iria pagar mais do quatro ou seis escudos na época.

Os anos passaram e pouco mudou. Quando o filho de Aníbal, Luís, não quis continuar a estudar juntou-se ao pai na gestão do negócio, ocupando o lugar do tio que na altura também já teria outro restaurante. E desde então que tem tomado as rédeas do Rampa.

“O meu irmão licenciou-se em economia e na altura acabou por tornar-se professor da área. Essa era uma das saídas dos cursos na altura e eu não me via a exercer educação, por isso decidi não continuar a estudar nem seguir o sonho de me tornar arquiteto. A alternativa era trabalhar com o meu pai”, conta Luís Figueiredo à NiT.

Com apenas 18 anos começou a trabalhar no Rampa e a fazer um pouco de tudo. Não gostava do que fazia, mas ao longo das últimas quatro décadas acabou por render-se à azáfama da casa.

Atualmente e com a morte do pai, Luís tem um novo sócio, Carlos Santos. Os dois têm “unido forças” para manter viva a essência da Rampa. Continua a haver cozido à portuguesa à quinta-feira e arroz de pato e feijoada à terça. Quem é cliente habitual também já sabe que sexta-feira é dia de bacalhau à lagareiro e de carne de porco à alentejana.

No entanto, quem preferir, pode também pedir à carta. O melhor de tudo é que nenhum dos pratos excede os 10€ — o mais caro, o bife de atum grelhado, custa 9€. As propostas de cozinha portuguesa, servidas em travessas e com preços baixos sempre foram a imagem da casa e Luís não quis alterá-la.

Um dos pratos mais pedidos continua a ser o bacalhau na brasa (8,50€), acompanhado com batata à murro e salada. A fazer-lhe concorrência estão os secretos de porco preto (8€), servidos com batata frita caseira.

Normalmente, “para ajudar a empurrar”, os clientes pedem o jarro de vinho da casa. Tem meio litro e custa 2,80€ . No entanto, nos últimos tempos, segundo o dono, a tendência são as águas com gás. “Agora pedem-nos muito para acompanhar a refeição, mas ainda nem entendi por quê”, admite.

No final, chega a carta das sobremesas, com o pudim (3€) e a mousse de chocolate caseira (3€) a encabeçar a lista de pedidos. Tudo isto para depois ser amaciado com um café e o tradicional “cheirinho”.

O espaço pouco mudou. Não tem janelas para o exterior, tem apenas 50 lugares apertados e as paredes de azulejos brancos não deixa transparecer a passagem do tempo. “Como não é uma zona de passagem, tenho clientes habituais, que já conhecem a casa, o que servimos e como o fazemos. Por isso somos daqueles espaços onde os clientes entram e nos cumprimentam e facilmente encontram alguém conhecido na sala. Como o espaço é pequeno, ocasionalmente sentamos desconhecidos a partilhar a mesa. Assim também acabam por conhecer-se”, diz o proprietário.

Por lá passam algumas caras conhecidas, que Luís diz reconhecer da televisão, mas que nunca se recorda dos nomes. O único que mantém na memória é Dom Januário, o bispo católico que lá jantava todos os dias enquanto viveu em Lisboa.

Quando se puser a caminho do Rampa, saiba que se vier da zona da Avenida da Liberdade tem de enfrentar a subida íngreme da Travessa de Santa Marta, que inspirou o nome do restaurante. A boa notícia é que assim que lá chegar pode ser recebido com uma imperial a 1,20€ enquanto espera pelo lugar — até porque por ali, não se aceitam reservas.

Carregue na galeria para ver mais fotos do espaço e dos pratos que servem no Rampa.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. Nogueira e Sousa 12
    1150-211  Lisboa
  • HORÁRIO
  • Segunda a sábado das 11h às 15h30 e das 18h30 às 22h
PREÇO MÉDIO
Entre 10€ e 20€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

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