Comida
ROCKWATTLET'S ROCK

Restaurantes

A tasca do Porto com pratos portugueses a 8,50€ está em risco de ser demolida

O Buraquinho do Freixo fica numa das ruas por onde deverá passar a nova linha de alta de velocidade no Porto.

Em 1985, Alberto Sousa e Silva encerrou um restaurante para pegar numa pequena tasca que fica na esquina entre a Rua do Freixo e a Rua da China. Durante as últimas quatro décadas recebeu, cozinhou e serviu milhares de trabalhadores da zona, que encontravam no seu estabelecimento uma pausa para um almoço à portuguesa. Agora, o negócio está em risco de fechar, sem aviso prévio.

O Buraquinho do Freixo fica num dos edifícios que poderão ser demolidos caso o projeto para a linha do TGV seja aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Infraestruturas de Portugal (IP). O proprietário garante à NiT que soube desta intenção primeiro pelos “outros” e que só “há cerca de dois meses é que passaram uns senhores por lá para ver o espaço e perceber o que era preciso fazer”.

“Ninguém falou connosco. Não sei se irá para a frente, se terei de fechar hoje, amanhã ou no próximo ano. A única coisa que fizeram foi ver as divisões e tirar fotografias”, refere o proprietário, de 70 anos.

Além do restaurante, Alberto e a mulher, Rosa Maria, vivem no andar de cima. Por isso, caso o projeto avance, não perdem apenas o negócio, mas também a própria casa. Contudo, desde a visita ao local dos técnicos contratados pelo consórcio AVAN Norte (Mota-Engil, Teixeira Duarte, Alves Ribeiro, Casais, Conduril e Gabriel Couto) não tiveram mais novidades.

“Estamos aqui à espera. Parece que andam a brincar. Mas pronto, resta-nos aguardar pelas decisões e indemnizações, se for o caso”, acrescenta, resignado.

O Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução (RECAPE) do troço Porto-Oiã confirma a previsão de demolição de casas na Rua da China e Travessa da Presa da Agra. Até que haja mais novidades, Alberto Sousa vai continuar a liderar a cozinha do Buraquinho do Freixo, de onde saem cerca de 100 refeições diárias. A maioria dos clientes são trabalhadores que escolhem o restaurante para almoçar, para um lanche reforçado pela manhã ou um jantar de comida tradicional portuguesa.

Uma tasca com história

O restaurante abriu em 1970, pelas mãos de Alberto Sousa. Natural de Arouca, o cozinheiro mudou-se para o Porto com 15 anos para ser o moço de recados de um restaurante gerido por um conhecido da terra dos pais. Veio sozinho e acabou a aprender a servir às mesas e a cozinhar nos diferentes espaços por onde foi passando.

Quando decidiu ficar com a tasca na zona de Campanhã não tinha pretensões de se tornar cozinheiro. Contudo, com a demissão do profissional que preparava todas as receitas da casa, viu-se obrigado a assumir as panelas com a ajuda da mulher, Rosa Maria.

O casal abriu o Buraquinho do Freixo sem grandes ambições de transformá-lo num dos espaços populares da cidade. Queria apenas um local onde pudesse trabalhar naquilo que gostava. A cozinha tradicional, aliada aos preços, acabou por tornar-se um chamariz para quem trabalhava e vivia nesta freguesia do Porto. Quem lá ia, já sabia que a certos dias da semana haveria cozido à portuguesa, noutros bacalhau. Hoje em dia, esses pratos continuam a ser servidos, com preços abaixo dos 10€ — bebida incluída.

Às segundas-feiras é dia de rancho, à terça-feira serve-se feijoada à transmontana e rojões, quarta é dia de calhos uma mistura de mão de vaca cozida, com tripas e grão de bico. O cozido à portuguesa é o protagonista da quinta-feira. Enquanto o bacalhau à Braga chega à sexta. Ao sábado, Alberto cozinha umas tripas à moda do Porto, acompanhadas com arroz de grelos. Para acompanhar há caneca de vinho da casa, branco ou tinto, por 2€. No final, chegam as sobremesas caseiras, que Rosa Maria faz diariamente para servir os clientes.

O Buraquinho do Freixo tem capacidade para receber 40 clientes em simultâneo e aceita reservas para jantar. Aos almoços, funciona por ordem de chegada, até porque, diz o gerente, não “há tempo para esperar”.

Alberto já está reformado, mas não consegue deixar o negócio. “Parar é morrer, por isso aqui contínuo. Não há ninguém para assumir o espaço, por isso, se tiver que ser demolido, terei de ver o que vou fazer”.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    R. do Freixo 1495
    4300-221  Porto
  • HORÁRIO
  • Segunda a sábado das 8h às 22h
PREÇO MÉDIO
Menos de 10€
TIPO DE COMIDA
Portuguesa

ARTIGOS RECOMENDADOS