“Sempre que pedem o nível máximo de picante, colocámos na mesa uma garrafa de leite de coco chinês”, explica Leonardo Mota, responsável pela comunicação do The Old House, em Lisboa. “É remédio santo”, garantes sobre os efeitos do antídoto para os clientes mais incautos e desconhecedores do efeito poderoso do picante da comida de Sichuan, região que inspira a gastronomia do espaço.
À NiT, recorda alguns episódios de clientes com a boca dormente e “afogueados”. Mas asta um trago do leite importado da mesma região e “voltam rapidamente ao normal”. Quando muito, este cenário é prova da fidelidade dos donos do The Old House as pergaminhos da cozinha chinesa que procuram respeitar ao máximo. Tanto que o guia do The World’s 50 Best Restaurants elegeu o restaurante no Parque das Nações como um dos melhores sítios para comer comida chinesa no mundo, fora da China, está claro.
“Estamos obviamente felizes e honrados com o reconhecimento. Quando escolhemos Lisboa, fizemo-lo porque percebemos que era uma cidade multicultural e em crescimento. Agora isto prova que o nosso trabalho está efetivamente a ser visto e divulgado e estamos a conseguir mostrar o nosso conceito, apresentar a cozinha e a cultura oriental”, diz.
Há precisamente uma década, Yang Cao escolheu Lisboa para abrir o primeiro The Old House fora da China. Trouxe o chefe de um dos espaços da cadeia e transformou um espaço num pequeno templo chinês.
Com oito restaurantes espalhados pela China, quando em 2015 preparam a expansão para a Europa tinha apenas uma coisa em mente: um país com porta de entrada para mais estrangeiros. Acreditaram no potencial de Portugal e chegaram ao Parque das Nações com as propostas mais tradicionais de Sichuan. A força para a concretização foi dada pelos clientes portugueses que já os visitavam nos espaços chineses. “O facto de estarem habituados ao peixe e marisco e ter alguma tolerância ao picante ajudou no peso da decisão.”

Yang Cao, fundadora do projeto, já tinha outros negócios na área e sabia como colocar a “máquina a mexer”, quando em 1997 abriu o primeiro espaço em Sichuan. Inspirada na herança gastronómica deixada pelas famílias, criou, em conjunto com alguns sócios, um restaurante onde tanto as famílias chineses, como as que vêm de fora, pudessem juntar-se para comer. “Acreditam que a comida unes as pessoas e projetaram os restaurantes como se de uma casa antiga chinesa se tratasse”, refere Leonardo Mota.
Ao longo das últimas décadas já receberam vários prémios e distinções, mas continuam a garantir que o segredo para o sucesso está na cozinha. Em Lisboa, quem lidera a entrega dos pratos é o chef Gang, convidado pela própria Cao para chefiar o espaço na Europa. “Ele tratou de fazer a curadoria de todos os funcionários que o acompanharam para garantir uma estreia em grande.”
Uma das estrelas da casa é o pato à Pequim (36,80€), feito num forno especial e acompanhado com um molho agridoce especial de azeite, maçã, pepino e cebolinho. Uma especialidade que se mantém na carta desde a abertura, assim como as gyozas (9,40€) e os rolinhos de old house (9,40€). “São pratos que contam muitas histórias e feitos com produtos importados diretamente da China, que depois vamos levantar ao supermercado Chen”, explica. Passados 10 anos, alguns continuam a estar na lista dos favoritos, como é o caso do Pata Pequim. Luís Montenegro, o primeiro-ministro português, é um dos clientes que escolhe sempre este prato. Além desta figura de estado, também outras caras conhecidas dos portugueses, como Mariza ou Morita, jogador do Sporting Clube de Portugal, são presença assídua no espaço.
“O Morita teve que dar uma pausa nas visitas ao nosso restaurante, porque os outros clientes gostavam de pedir-lhe fotos, então nunca conseguia desfrutar de uma refeição completamente em paz. Mas adora cá vir”, refere o relações-públicas.

A comida é o principal motivo que arrasta multidões até ao restaurante. No entanto, a experiência só fica completa com a decoração que Yan trouxe diretamente da China para complementar a ideia de uma casa antiga neste espaço de dois andares. Durante os jantares os clientes podem experienciar uma atuação chamada Bian Liag, uma interpretação de uma arte dramática ancestral com trocas de máscaras.
O ano da serpente
O espaço foi incluído na lista do 50 Best Discovery graças às celebrações do Ano Novo Chinês, em que celebram a serpente. “Preparamos vários menus de degustação pensados para surpreender. Os clientes têm de fazer reserva específica para os provar”, diz Leonardo Mota.
Entre as sugestões à prova nos próximos meses encontra robalo com cogumelos, que representa um desejo de prosperidade no calendário chinês. Os mariscos, presentes na carta, anunciam boas notícias e para “uma união perfeita” devem pedir bolinhos com arroz glutinoso, uma das sobremesas do menu.
Quem não acreditar na crença popular pode sempre recorrer à carta anual, onde encontra carne de porco cozida com molho de alho (23,10€), a carne seca com malagueta (23€) ou os noodles de molho picante (11,50€). Pode também escolher a salada de alga chinesa com malagueta (11,50€), a carne bovina marinada com coentros (23€) e o pato com folha de chá (23€).
Para acompanhar nunca falta chá chinês, as cervejas Tingstao e, claro, leite de coco.