Restaurantes

Tiago abriu um restaurante de comida portuguesa em Singapura — está a ser um sucesso

No Lusitano servem-se pratos típicos do nosso País, da francesinha ao bacalhau. Primeiro estranham, mas depois ficam fãs.

Dois terços da vida de Tiago Martins Fernandes, de 44 anos, foi passada a trabalhar na área da restauração. Arranjou o primeiro trabalho como empregado de mesa quando tinha apenas 13, após concluir o ensino obrigatório. Naquela altura, o limite mínimo definido por lei era o sexto ano. Atualmente, espalha o amor pela comida portuguesa em Singapura, onde, em janeiro, abriu o Lusitano.

Quando está a cozinhar naquele espaço e faz temperos especiais, lembra-se de quando era miúdo e via os familiares fazerem essas mesmas combinações. “São memórias que vamos consolidando à medida que crescemos”, conta à NiT.

Perdeu o pai quando tinha apenas quatro anos e viveu grande parte da infância com os avós. “A minha mãe tinha três filhos, e era difícil suportá-los”, recorda. A família alargada reunia-se sempre nas férias de verão — e faziam tudo juntos. “Sempre que ela [a mãe] começava a cozinhar, pedia logo a nossa ajuda”, explica. Tiago era o primeiro a “meter as mãos na massa”.

O gosto pela cozinha nasceu aí e nunca mais deixou de alimentar. Natural de Guimarães, trabalhou em vários estabelecimentos da região — e gravou na memória o dia em que arranjou o primeiro emprego: 2 de setembro de 1992. Volvidos três anos já era ele que “tomava conta do negócio do patrão” (tratava, sobretudo, da logística das encomendas).

No Lusitano presta homenagem a todas as pessoas que conheceu ao longo no seu percurso profissional. O dono do primeiro restaurante onde trabalhou, o “tal patrão”, era conhecido por senhor Carvalho — e foi ele que ensinou Tiago a fazer a tão famosa francesinha. Por isso, no restaurante em Singapura, surge no menu como “Senhor Carvalho”.

“Também faço ‘pataniscas Dona Maria’, que é uma referência a uma senhora que as provou pela primeira vez e as achou ‘muito boas’. O curioso é que logo a seguir, outra cliente disse não gostava muito da pimenta — e ela disse o mesmo”, brinca o cozinheiro.

Quando saiu desse primeiro restaurante, por volta de 1996, rumou a um italiano em Guimarães. Ali começou a estar ainda mais presente na cozinha — e tudo graças a um infeliz acaso. “O rapaz que lavava a loiça magoou-se e eu substituí-o. Quando não lavava pratos, ajudava o chef. Ele gostou do meu trabalho e disse-me para continuar”, lembra-se.

Permaneceu lá durante oito anos. Já na casa dos 20, sabia que era altura de criar o seu próprio projeto. Começou por abrir um snack bar e, nos anos seguintes, um spot de kebabs, uma pizzaria e um restaurante com comida nacional. Contudo, devido à crise bancária que se sentiu no início do século, apenas conseguiu manter o primeiro negócio. “O snack bar corria bem porque era ao pé de uma escola e vendia muitos cachorros aos miúdos”, garante.

O seu dia a dia foi, durante anos, passado na cozinha. A rotina acabou por se tornar cansativa e, para a quebrar, começou a trabalhar no lar de idosos onde estava a sua avó. Seguiram-se trabalhos em quintas de casamentos e num restaurante em frente à praia, em Vila do Conde. Em 2019, fez as malas e partiu para Singapura.

“Um chef, meu amigo, disse-me que precisavam de ajuda num restaurante daqui. Andaram seis meses à procura e não encontraram ninguém, então decidi aceitar o desafio”, afirma Tiago.

Tiago já apareceu numa revista de Singapura.

Quando chegou ao país asiático, assumiu o cargo de chef executivo no Tuga, o único restaurante português de Singapura. “Aquele espaço revolucionou muito o território. Antes era quase impossível encontrar alguns ingredientes. Agora, já há atum, robalo, sardinha enlatada, bacalhau, polvo e muitas outras coisas de Portugal”, realça.

Sendo ele muito aberto a novas experiências, decidiu inaugurar em janeiro deste ano o próprio restaurante: o Lusitano. O projeto conta com dois sócios locais, um requisito obrigatório segundo a legislação do país.

O conceito é simples: “comida autêntica portuguesa”. Ali não há nada de fusões — apenas pratos são mais picantes do que o habitual, o que faz sentido visto que no norte usam mais a malagueta, algo que está explicado na carta. “Tem muita boa aceitação, porque aqui também adoram picante”, garante. Naquele empreendimento, todos os ingredientes são frescos, algo que é muito elogiado.

Há vários pratos aos quais, tal como nós, os clientes não resistem. Bacalhau com natas (23,28€), à Brás (23,28€), à Gomes de Sá (23,28€), polvo à Lagareiro (27,39€), filetes de robalo (23,28€), arroz de polvo (27,39€), arroz de pato (21,91€), pica-pau (26,02€) e francesinha (30,13€) são algumas das opções.

“É um trabalho muito duro, porque eles aqui cortam muito no sal. Tenho de pôr notas na ementa nos pratos de bacalhau, a explicar que podem ser mais salgados do que o normal e que, além disso, podem encontrar espinhas, algo que também não gostam”, revela. Contudo, “quando percebem a cozinha do nosso País, ficam rendidos aos sabores” — independentemente de quão intensos possam ser.

Apesar do sucesso, Tiago já pensou muitas vezes em comprar um bilhete de volta para Portugal. No entanto, sabe que ainda tem muito mais para dar a Singapura. “Quero continuar a expandir a nossa cultura e a nossa cozinha”, afirma.

No futuro, pretende levar outros chefs para lá, com o intuito de difundir ainda mais as nossas tradições culinárias. “Fomos uma influência grande no passado, mas, atualmente, ficamos contentes com o futebol e com a visita do Papa. Ninguém faz nada que traga realmente benefícios para o nosso futuro”, lamenta.

No Lusitano, consegue sentar cerca de 50 clientes. A decoração é tão portuguesa quanto os próprios pratos. Ali encontra fotografias de ícones do nosso País, como a Torre dos Clérigos, a Torre de Belém, o Castelo de Almourol ou os elétricos de Lisboa.

Carregue na galeria e conheça melhor o restaurante.

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