Há algumas edições que o Mesa de Lemos era apontado como um dos fortes candidatos nacionais a entrar no Guia Michelin. A distinção chegou na noite de 20 de novembro, quarta-feira, quando foram anunciados em Sevilha, Espanha, os vencedores da edição 2020 do prestigiado Guia gastronómico. Diogo Rocha, 37 anos, foi o chef responsável por trazer esta distinção ao restaurante e por colocar Viseu no mapa do Guia Michelin.
“Estou obviamente muito feliz com esta distinção. É algo para o qual trabalhei bastante, e que me enche de orgulho”, explica o chef. Diogo Rocha foi um dos convidados portugueses a estar presente no Teatro Lope de Vega, em Sevilha, para a gala onde foram anunciados os premiados. “Tenho um agradecimento muito especial a fazer ao Celso de Lemos, proprietário do Grupo Celso de Lemos, um homem de visão que acreditou em mim desde a primeira hora e que foi providencial neste objectivo.”
À mesa procura mostrar o melhor que a região tem para oferecer, sempre com produtos nacionais que chegam de várias zonas do País. “Celso de Lemos sempre me disse que se conseguisse servir uma batata, um ovo com um fio de azeite e isso soubesse a céu, o meu objetivo estaria cumprido. Sinto que consegui.”
Além do restaurante, agora com uma estrela Michelin, o projeto conta ainda com uma quinta onde é possível dormir, com produção própria de vinhos, a únicas referências que acompanham as propostas do chef Diogo Rocha, e há ainda azeites, também eles usados nos pratos.
O chef que começou a ajudar o pai em catering
Desde pequeno que o destino de Diogo Rocha na cozinha estava traçado. Aos 9 anos começou a ajudar o pai numa empresa de catering e anos mais tarde prossegui estudos na área da restauração. Primeiro o Curso de Cozinha e Pastelaria de Coimbra, depois Produção Alimentar e Restauração e ainda tirou o mestrado Sustentabilidade de Turismo na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril.
Logo em estágios começa com os grandes. Passou pelo Vila Joya, do chef Dieter Koschina, o duas estrelas Michelin do Algarve, trabalhou com Vítor Sobral e ainda no Valle Flor. O Dão Sul é o primeiro projeto do qual se assume como chef executivo. Estávamos em 2018 e fica responsável pela Quinta de Cabriz, Quinta do Encontro e Paço dos Cunhas de Santar.
Ainda antes de entrar para a Mesa de Lemos, é convidado a fazer parte do grupo de professores da Escola Superior de Turismo de Seia. Dá aulas na disciplina de Gastronomia. Depois sim, em 2013, começa a aventura no Mesa de Lemos. É convidado a fazer parte do projeto que inaugura em abril de 2014.
Produtos de qualidade, grande parte deles produzidos na Quinta, e uma grande seleção do que usa fazem parte das ideias que tem como base na cozinha. Tem 37 anos e já publicou dois livros: “Hoje Diogo Rocha”, em 2016, que foi editado em inglês e recebeu o prémio de fotografia pela Portugal CookBook Fair; e o “Queijaria do Chef”, uma obra onde explica métodos de produção, sugestões de harmonização e mais de 50 receitas.
O restaurante com vista paras vinhas
Desde este verão que apresenta dois menus de degustação, pensados com os produtos locais e da época. Para começar tem, como snack, o ovo com o bolo levedo e gelado de gema salgada; um taco e uma tartelete de ovo; o pastel de massa tenra de espadarte e cebolinho, massada de espadarte com puré de caldeirada e crocante de milho com espadarte marinado.
No Menu de Lemos (80€) encontra-se o bacalhau da Islândia com leguminosas do Mercado de Viseu e com cenouras, que são colhidas diretamente da horta da Quinta de Lemos. A bochecha de porco, pickle de cenoura, cenoura fresca e nêsperas é outra das sugestões.
Já o Menu do Chef (150€) junta, ao menu anterior, cherne, dos Açores, com agrião, alho francês, molho de pepino e curgete amanteigado e o pêssego da Cova da Beira. A pinhoada, o bolo Teixeira, os caramujos, o pudim abade priscos ou castanhas de ovo são as propostas para a sobremesa.
De todas as mesas do restaurante é possível ver as vinhas plantas na região do Dão, através das grandes janelas envidraçadas do edifício. Os vinhos que aqui se servem são produzidos no local.
A Quinta que já recebeu prémios de arquitetura
O edifício da Quinta de Lemos, onde se encontra o restaurante, é facilmente reconhecível na paisagem assim que chega. Foi projetado pelo atelier Carvalho Araújo e no interior conta com um design assinado por Nini Andrade Silva. Logo que foi inaugurado, em 2014, entrou para a lista do ArchDaily, um dos mais conhecidos sites de arquitetura do mundo.
Naquela quinta produz-se vinho, azeite e vários legumes, tudo produtos usados no restaurante. Ali, com vista para Dão, é possível dormir num dos quartos. Desde abril de 2018 que é conhecida a intenção dos responsáveis alargarem a oferta de dormidas e tornarem-no num espaço de luxo, um boutique hotel.
Celso de Lemos é o proprietário do projeto, também responsável pela marca têxtil Abyss & Habidecor. Tem uma fábrica em Passos de Silgueiros, na aldeia de Mundão, e produz toalhas e tecidos que são vendidos em lojas de todo o mundo, como a Bloomingdale’s ou a Harrod’s — e claro que são usadas na Mesa de Lemos.
Ao todo tem 50 hectares. As vinhas ocupam metade dessa área, onde se produzem os vários vinhos. Há ainda oliveiras e colmeias com produção de mel.
Mais uma descentralização do Guia
Já na edição 2019 do Guia, dois restaurantes do interior do País foram distinguidos. É no centro histórico de Guimarães que pode experimentar as propostas de António Loureiro n’A Cozinha. Foi Chefe Cozinheiro do Ano em 2014 e agora lidera um dos novos restaurantes com estrela Michelin no País. Bragança também passou a ter um representante na restrita lista. O G Pousada está na Pousada de São Bartolomeu é um projeto dos irmãos Óscar e António Gonçalves.
Agora é vez de Viseu entrar neste mapa de estrelas, com a Mesa de Lemos. É a prova de que o Guia está a voltar-se para fora de grandes cidades. Este ano, nas cinco estrelas que Portugal venceu, duas são em Lisboa. Houve ainda prémios para Leça da Palmeira e Vila Nova de Cacela, no Algarve.