Por vezes, os maiores tesouros e os grandes segredos são guardados à vista de todos. É o caso de um dos melhores restaurantes do mundo. O Alchemist está situado na antiga área industrial de Copenhaga, na Dinamarca, escondido num armazém com mais de dois mil metros quadrados.
É ali que Rasmus Munk cria pratos que já foram comparados a obras de arte comestíveis. A única coisa que o chef pede é que os clientes “mantenham o espírito aberto” e “venham com tempo” — isto porque a experiência demora cerca de seis horas e inclui 50 momentos e um jantar sob as estrelas e as auroras boreais.
Assim que se passa a pesada porta de bronze com três metros de altura, os convidados são recebidos numa galeria com várias exposições de artistas independentes, como as da japonesa Lady Aiko, que retratam cenas urbanas em Nova Iorque.
Após passarem essa secção são conduzidos para outras áreas, num circuito de degustação. Ainda no princípio podem pedir cocktails no bar e visitar a adega de vidro com três andares, onde guardam mais de 10 mil garrafas. A partir daí convém respirar fundo e preparar-se para um verdadeiro espetáculo coreografado, que reúne mudanças de ambiente, tecnologia, toques teatrais e provocações.
Após percorrer os corredores e provar algumas entradas, chega-se “ao palco principal”. Uma sala ampla abre-se para receber os clientes em cadeiras de veludo azul. O espaço está cercado por vidros que deixam ver o teatro das ações da equipa na cozinha. Bem sentado e com “mente aberta”, pode saborear o famoso prato com borboletas ou a imitação gelatinosa de um olho humano, servida com caviar. No top das excentricidades do dinamarquês está o Beijo de Língua, uma proposta com beterraba e ervas, em forma de língua, claro.
Após terminados os momentos, os clientes podem subir o lanço de escadas até ao piso superior. Por lá esconde-se outra sala de jantar, mais secundária, coberta por uma enorme cúpula, que projeta várias imagens em movimentos e que variam entre o céu estrelado, ou alforrecas a nadar no oceano. Ao mesmo tempo, são servidos os pratos principais como cérebro de cordeiro e foie gras com cobertura de cereja servido numa cabeça humana falsa.

Para saborear a sobremesa há que ganhar folgo para mais um lanço de escadas. Assim que se chega acima da cúpula há uma fogueira e sofás para recuperar e provar então os doces preparados pelo chef.
A experiência preparada por Munk já resultou em duas estrelas Michelin e a quinta posição nos 50 Melhores Restaurantes do Mundo. “Tentamos fazer uma experiência bem imersiva. Chamamos a isto de cozinha holística, trazendo assim diferentes campos artísticos para o mundo culinário”, disse Munk, citada pelo Agence France-Presse.
Como tudo começou
O Alchemist abriu em 2019 e rapidamente se tornou num dos melhores do mundo. O que poucos sabem é que Rasmus Munk nem sempre quis seguir este caminho.
Oriundo de uma família humilde, onde os jantares de sexta-feira eram sempre passados numa hamburgueria, o dinamarquês só encontrou a vocação para a cozinha graças a um amigo que lhe reconheceu talento para inovar e encorajou-o a estudar. Acabou por se matricular numa escola de culinária local e descobriu “um novo mundo de sabores”.
Assim que concluiu os estudos trabalhou numa cantina e mais tarde no restaurante Nørlunds Gæstebud, com o chef Martin Knudsen, que lhe apresentou a cozinha nórdica e o fine dining. Com 23 anos viu o cozinheiro que admirava, Ferran Adrià, a encerrar aquele que foi eleito como melhor restaurante do mundo cinco vezes consecutivas. O El Bulli serviu o último jantar em 2011 e Munk nunca conseguiu reservar mesa para o visitar. Em troca leu e absorveu tudo o que foi escrito sobre o espaço e sobre Adrià. O seu objetivo era, um dia, abrir algo que se pudesse equiparar ao famoso restaurante espanhol.
No mesmo ano em que o El Bulli fecha portas, o dinamarquês viu outras abrirem-se para si. Venceu a Nations Cup para Jovens Chefs e foi para Londres para aprender com os chefs britânicos. Dois anos depois regressou e foi trabalhar no Treetop em Vejle. Meses depois vence o título de Jovem Chef do Ano no White Guide Digital Awards e em 2015 deu início ao projeto Alchemist.
Começou com um restaurante menor e mais modesto do que o atual, mas que já se destacava pelo menu criativo e ambicioso, com pratos projetados para refletir sobre questões sociais como poluição dos oceanos, abuso de animais, exploração infantil e desperdício de alimentos. Quatro anos depois deu então o salto para o armazém gigante onde instalou todo o espetáculo do projeto.
A lista de espera para jantar no espaço é longa e a experiência não é para todas as carteiras. Um menu custa cerca de 725€, sem bebidas. Quem preferir incluir uma harmonização feita pelo sommelier pode acrescentar mais umas centenas euros ao valor final, que pode chegar aos 2.100€. As reservas podem ser feitas no site.
Carregue na galeria para descobrir o que pode esperar caso visite o Alchemist, em Copenhaga.